A ida de Vítor Fernandes para presidente do Conselho de Administração do Banco de Fomento pode estar tremida. O nome do bancário, que esteve no Novo Banco, surge no despacho de buscas do Ministério Público sobre a Operação Cartão Vermelho como um elemento com quem Luís Filipe Vieira tinha uma relação privilegiada, tendo – alegadamente – informado o presidente do Benfica acerca de vários negócios vantajosos, depois concretizados através de alegados testas de ferro. No entanto, apesar de Vítor Fernandes ter sido referenciado pelo MP, até ao momento não é arguido nem lhe é imputado qualquer alegado ilícito criminal.

Como Vieira se apropriou de 8 milhões de euros do Novo Banco que acabaram por ser compensados pelo Fundo de Resolução

Vítor Fernandes, um homem com passado na administração da Caixa Geral, do BCP e depois no Novo Banco, foi indicado pelo ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, para “chairman” do novo Banco de Fomento e, tal como os outros 23 elementos da gestão, teve de ser avaliado para o cargo pelo Banco de Portugal, num processo conhecido como “fit and proper”. Esse processo iniciou-se em abril e ficou concluído no início deste mês. Vítor Fernandes passou sem problemas.

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Mas a informação que agora veio a público, avançada na noite de quinta-feira pela TVI e pelo Observador, levaram o Banco de Portugal a pedir mais informação sobre o bancário. Segundo apurou o Observador, não está em causa realizar outra vez o “fit and proper”, que já está formalmente concluído, mas sim analisar a informação agora disponível, no jargão do supervisor “informação superveniente”, para depois decidir se vai ser feita uma “reavaliação de idoneidade”.  Aliás, este foi um procedimento que já foi feito em ocasiões anteriores, nomeadamente a vários elementos da CGD após a auditoria da EY à Caixa Geral, conhecida em 2019.

Na mira do Ministério Público estão créditos totais de 408,9 milhões que foram alvo de reestruturação após proposta do administrador Vítor Fernandes e aprovação da Comissão Executiva do Novo Banco liderada por António Ramalho.

De acordo com os indícios recolhidos com o MP, Vieira tentou adquirir a dívida da Imosteps – uma empresa comprada por Vieira em 2012, a pedido de Ricardo Salgado – por via de contactos privilegiados que tinha com Vítor Fernandes. Segundo a investigação, terá sido Vítor Fernandes quem terá avisado Vieira de que o seu nome nunca poderia aparecer como comprador da sua própria dívida. A dívida da Imosteps acabaria por ser comprada pelo fundo Davidson Kempner, que depois a vendeu a José António Santos, “Rei dos Frangos” e amigo de longa data de Vieira (que até já a tinha tentado comprar).

Vítor Fernandes também terá informado Luís Filipe Vieira que a dívida da Imosteps iria para a carteira do projeto “Nata II” — a maior carteira de crédito mal-parado do Novo Banco — em março de 2019.

Resta ainda saber se Vítor Fernandes vai receber um parecer positivo da Cresap para ocupar o cargo. O Observador contactou o ministério para obter esclarecimentos sobre se este já tinha enviado os nomes para a comissão que avalia e dá parecer às nomeações, mas ainda aguarda resposta. No entanto, fonte oficial da Cresap citada pelo jornal Eco, disse que o organismo “já recebeu os nomes e tem dez dias para se pronunciar”.

Quanto ao Banco de Portugal, enviou uma nota que diz apenas: “Toda a informação será devidamente ponderada pelo Banco de Portugal no exercício das suas competências”.