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O que é a aterosclerose?

É uma doença caracterizada pelo acumular de placas de gordura nas artérias, habitualmente associadas a colesterol elevado, que podem provocar o entupimento total desses vasos sanguíneos.

“Já lhe aconteceu ter em sua casa um cano entupido… Muito provavelmente ter-se-á tratado de um acumular de várias substâncias (comida, lixo, cabelos, etc.) que foram reduzindo o espaço dentro do cano, acabando por entupi-lo. Isso acontece também no nosso corpo.”

Francisco de Carvalho Ferrão, médico internista e diretor clínico do Hospital Fernando Pessoa, em Gondomar, explica assim como funciona a aterosclerose. O nosso corpo também tem “canos” por onde o sangue circula. “As artérias são os ‘canos’ que transportam o sangue desde o coração até ao resto do corpo e podem ir ficando entupidos com o passar dos anos e se não tivermos cuidado.” Quando este processo ocorre nas nossas artérias maiores, dá-se o nome de aterosclerose.

 

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Quais os principais sintomas?

A aterosclerose não costuma ser uma doença isolada nem dar sintomas numa fase inicial. Francisco de Carvalho Ferrão considera que é importante estar atento a sinais que possam sugerir doenças que provoquem a aterosclerose. Por exemplo: dores nas pernas que se agravam ao caminhar ou com o exercício (acompanhadas de zonas escurecidas na pele), dores no peito ou fraqueza súbita. “Estas duas últimas devem motivar a observação urgente por um médico, pois podem ser também sintomas de doenças graves como o enfarte ou o AVC.”

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O que provoca, ao certo, a aterosclerose?

Através de vários mecanismos “que vão desde a danificação da parede das artérias e da acumulação de gordura até um processo inflamatório, formam-se placas [chamadas placas de ateroma] que vão aumentando de tamanho, diminuindo o espaço que o sangue tem para circular”, diz Francisco de Carvalho Ferrão.

Se não for prevenida e tratada, a aterosclerose vai progredir, culminando numa obstrução completa das artérias. “Dependendo das artérias atingidas, pode significar cenários tão catastróficos como o enfarte agudo do miocárdio, o AVC isquémico ou a possível amputação de membros inferiores”, diz o médico internista.

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Como se faz o diagnóstico?

O diagnóstico da aterosclerose começa com a observação atenta dos doentes. “Sabemos que há uma relação direta entre o valor do colesterol e a probabilidade de desenvolver a doença. Ou seja, quanto mais alto for o seu colesterol, mais provável é ter aterosclerose”, explica Francisco de Carvalho Ferrão.

O médico começa por procurar algum sinal que indique se o doente pode ter colesterol aumentado, como a existência de lípidos (“bolas de gordura” no corpo) e verifica ainda se existem alterações na auscultação cardíaca, alteração do fluxo sanguíneo em algum dos membros, entre outros sinais.

Além do exame físico, pode solicitar análises sanguíneas que indicarão se os valores de colesterol já são elevados e se terá mais alguma doença adicional que possa agravar ou promover a aterosclerose, como a diabetes. “Há ainda a hipótese de recorrer a alguns exames complementares, como exames com contraste ou dopplers, que nos ajudam a visualizar o interior das artérias através das alterações ao fluxo do sangue que as percorrem.”

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Como se trata a aterosclerose?

Com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado é possível retardar ou suspender o avanço desta doença. “A promoção de um estilo de vida saudável, com uma dieta equilibrada e a prática de exercício físico [recomenda-se, pelo menos, a prática de 30 minutos de atividade física diária] são essenciais.

Poderão também ser utilizados medicamentos para o controlo das doenças de base, como as estatinas (para controlo do colesterol); anti-hipertensores (para tratar a hipertensão arterial), medicamentos para a diabetes ou de outras doenças que possam coexistir.

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Quais os fatores de risco?

  • Alimentação desequilibrada;
  • Tabaco;
  • Falta de exercício físico.

Estes comportamentos promovem alterações inflamatórias e acumulação de gordura nas artérias, de forma gradual. A falta de controlo do desenvolvimento de outras doenças, como a diabetes, pode também desencadear ou agravar a aterosclerose.

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Como posso prevenir?

Com consultas regulares com o seu médico assistente e a promoção de estilos de vida saudáveis, através de uma dieta equilibrada e pobre em açúcar, sal e gorduras.

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Qual a diferença entre aterosclerose e arteriosclerose?

“A arteriosclerose é o nome genérico que se dá às alterações das paredes das nossas artérias. A aterosclerose é um dos tipos de ateriosclerose”, explica o diretor clínico do Hospital Fernando Pessoa. Para ser menos confuso, o médico exemplifica: “Imagine que a ateriosclesose é uma equipa de futebol. Nessa equipa vai encontrar vários tipos de jogadores consoante a posição em que jogam no campo. A ateriosclerose é a equipa de futebol das doenças das artérias e temos também as subdivisões.”

São elas:

  • aterosclerose, que afeta sobretudo as artérias de maior calibre;
  • arteriolosclerose, que afeta as arteríolas —artérias muito mais pequenas que correspondem à parte final das artérias;
  • esclerose de monckeberg, que danifica a camada média das artérias.
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Quantas pessoas em Portugal têm aterosclerose?

O estudo “Os custos da aterosclerose em Portugal”, uma iniciativa do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência, do Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica e da Sociedade Portuguesa de Aterosclerose, feito em 2020, concluiu que as diferentes manifestações clínicas da aterosclerose afetaram, apenas em 2016, cerca de 740 mil adultos em Portugal Continental. Nesse ano morreram 15.123 pessoas por aterosclerose “(6.887 por doença cardíaca isquémica, 7.592 por doença vascular cerebral isquémica, 25 por doença arterial periférica e 619 por aterosclerose noutros territórios arteriais), o correspondente a 14% dos óbitos totais ocorridos em Portugal”.

Relativamente a custos da doença, a mesma “totalizou cerca de 1,9 mil milhões de euros”, o correspondente “a 1% do Produto Interno Bruto nacional e a 11% da despesa corrente em saúde”, refere o mesmo estudo.