- O que são sintomas e doenças psicossomáticas?
- O que é, então, a psicossomática?
- Como é que esta relação se estabelece?
- Mas é normal sentir alterações no corpo por motivos psicológicos?
- Quais são os principais sintomas psicossomáticos?
- E quando é que estes sintomas passam a ser considerados uma doença?
- Há pessoas mais sujeitas a desenvolver sintomas psicossomáticos?
- Qual é o tratamento para os sintomas psicossomáticos?
- Porque é que a expressão “Isso é psicossomático!” é tantas vezes usada com um sentido negativo?
Explicador
- O que são sintomas e doenças psicossomáticas?
- O que é, então, a psicossomática?
- Como é que esta relação se estabelece?
- Mas é normal sentir alterações no corpo por motivos psicológicos?
- Quais são os principais sintomas psicossomáticos?
- E quando é que estes sintomas passam a ser considerados uma doença?
- Há pessoas mais sujeitas a desenvolver sintomas psicossomáticos?
- Qual é o tratamento para os sintomas psicossomáticos?
- Porque é que a expressão “Isso é psicossomático!” é tantas vezes usada com um sentido negativo?
Explicador
O que são sintomas e doenças psicossomáticas?
Fala-se em sintomas psicossomáticos quando há uma interação entre a natureza biológica e psicológica das queixas — como acontece, por exemplo, com algumas dores musculares ou alterações gastrointestinais. É frequente que uma pessoa sinta palpitações, mais dor ou tenha diarreia quando se sente muito ansiosa.
A expressão doenças psicossomáticas é usada para referir situações nas quais está comprovada a influência de fatores psicológicos na doença — como acontece com a hipertensão, na asma ou algumas doenças de pele, como o eczema.
Apesar disso, “qualquer doença pode ser percebida numa leitura psicossomática, seja a depressão, uma doença cardiovascular ou o cancro”, diz a psiquiatra Sílvia Ouakinin, presidente Sociedade Portuguesa de Psicossomática.
O que é, então, a psicossomática?
A palavra “psicossomática” resulta da junção de “psique” (alma ou mente, em grego), e “soma” (corpo).
É uma área que estuda a forma como as relações entre os aspetos biológicos, psicológicos (cognitivos, emocionais e comportamentais) e do meio influenciam a nossa saúde.
Como é que esta relação se estabelece?
O corpo tem vários sistemas, mas só um está interligado. A rede psico-neuro-imuno-endócrina “integra vários sistemas que se influenciam mutuamente”, explica Sílvia Ouakinin. Isso significa que as alterações em cada um destes sistemas tem impacto nos outros.
Sabe-se que o stress psicológico, por exemplo, tem um impacto biológico, já que altera a resposta imunitária, a produção e circulação de hormonas, de neurotransmissores e de fatores inflamatórios no corpo. “Um exemplo concreto é o da relação entre stress e doença cardíaca, explicado por alterações neuroquímicas que decorrem desta resposta do organismo a uma vivência de ameaça e sobrecarga, particularmente quando ela é mantida ao longo do tempo”, esclarece a psiquiatra.
Mas esta relação também funciona no sentido inverso: alguns fenómenos biológicos do corpo também têm impacto no bem-estar mental. É por isso que as alterações hormonais da menopausa fazem com que a mulher fique mais sujeita a depressão e ansiedade. Alguns estudos recentes também mostram que a microbiota intestinal (bactérias, vírus, fungos e outros microrganismos) pode influenciar a nossa função cerebral.
Mas é normal sentir alterações no corpo por motivos psicológicos?
Sim. Todos temos sintomas psicossomáticos porque todos sentimos as emoções no corpo: trememos ou ficamos com um aperto no peito com a ansiedade, choramos quando estamos tristes, coramos quando temos vergonha ou o nosso ritmo cardíaco aumenta quando sentimos medo.
“Essa dimensão física da emoção é normal, seja nas emoções negativas como a tristeza ou o medo, seja nas emoções positivas como a alegria”, explica a psiquiatra. “Só falamos de doença quando estas respostas fisiológicas — que dão origem à dimensão física da emoção — são excessivas face aos estímulos que as desencadeiam ou são demasiado intensas e provocam uma sobrecarga no organismo que gera uma disfunção.”
Quais são os principais sintomas psicossomáticos?
Dores de cabeça, de estômago, de barriga ou musculares estão entre os sintomas mais frequentes. Mas pode haver outros, como tonturas, fadiga, sensação de dormência, diarreia, dermatites, eczemas, etc.
O tipo de sintomas, a quantidade e intensidade são variáveis. Há pessoas que têm sintomas muito persistentes, outras só têm sintomas em fases mais conturbadas, quando estão a ser sujeitas a mais stress ou a problemas pessoais ou profissionais.
Estima-se que os doentes com múltiplos sintomas psicossomáticos rondem 4 a 6% da população em geral e sejam 17 a 22% dos motivos de consultas em Medicina Geral e Familiar.
E quando é que estes sintomas passam a ser considerados uma doença?
Ao longo do tempo têm sido propostas muitas definições e designações para este tipo de perturbações:
- psicossomatização;
- sintomas físicos medicamente inexplicados;
- condições baseadas em sintomas;
- perturbações somatoformes;
- perturbação do desconforto corporal.
“Hoje considera-se que a ausência de uma causa física aparente para explicar um conjunto de sintomas ou um determinado quadro clínico não é relevante para o seu diagnóstico, mas sim a forma como impactam a vida do doente”, explica a psiquiatra Sílvia Ouakinin.
Assim, a definição atualmente mais usada é a do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-5), da Associação Psiquiátrica Americana, que a refere como “Perturbação de Sintomas Somáticos”.
Define-se pela existência de sintomas físicos que causam sofrimento e têm impacto na qualidade de vida, sendo acompanhados por pensamentos, sentimentos ou comportamentos excessivos associados, bem como ansiedade severa e persistente sobre os sintomas, além de muito tempo e energia dedicados a isso ou a excessivas preocupações com a saúde.
Há pessoas mais sujeitas a desenvolver sintomas psicossomáticos?
“A vulnerabilidade psicossomática de cada um engloba a herança biológica, os padrões de relação precoce, o estilo cognitivo e afectivo das pessoas e as suas formas de reagir às situações e o ambiente em que vivem”, diz Sílvia Ouakinin.
Pode dizer-se que as pessoas com maior vulnerabilidade são aquelas que, além de uma “dimensão genética desfavorável”, sofreram acontecimentos de vida negativos desde a infância, não dispondo de suporte afetivo adequado nem de “mecanismos de regulação emocional eficazes”, sobretudo se ao longo da vida continuam a lidar com factores geradores de stress, sem um suporte adequado.
Qual é o tratamento para os sintomas psicossomáticos?
“Não existe nenhuma norma específica para o tratamento e acompanhamento destes doentes que não seja centrada na pessoa específica e no quadro clínico que ela apresenta”, explica a psiquiatra.
Assim, os sintomas psicossomáticos são abordados pelos médicos de várias formas: depois de excluir doenças físicas graves que possam estar a causar os sintomas, o médico pode, desde logo, tranquilizar o doente sobre isso, o que pode aliviar os sintomas.
Se há sintomas que sejam muito incapacitantes — como a dor — o paciente é medicado para controlo sintomático. Por outro lado, se for clara uma relação com ansiedade, depressão ou outra perturbação, o médico pode também prescrever medicação com o objetivo de controlar a perturbação mental. Por fim, o doente pode ser encaminhado para psicoterapia
Porque é que a expressão “Isso é psicossomático!” é tantas vezes usada com um sentido negativo?
Os sintomas psicossomáticos são ainda hoje alvo de preconceito e isso acontece, em parte, porque há a ideia errada de que a pessoa está a fingir. Este preconceito, explica Sílvia Ouakinin, liga-se eventualmente a uma abordagem mais antiga. “Não sendo encontrada uma causa, não se trataria de uma ‘verdadeira’ doença.”
Hoje sabe-se que isso não é verdade, pelo que o modelo biomédico foi substituído há décadas pelo chamado modelo biopsicossocial, que procura integrar os fatores biológicos, psicológicos e sociais que interagem entre si.