- O que é uma dependência?
- Como se passa de um consumo ou utilização não problemática a uma dependência?
- Como se diagnostica uma dependência?
- O que pode contribuir para o desenvolvimento da dependência?
- Porque é que é tão difícil deixar uma dependência ou comportamento aditivo?
- Há dependências mais difíceis de tratar que outras?
- Como se tratam as dependências de substâncias?
- É preciso ser internado para parar de consumir uma substância?
- Para tratar uma dependência de substâncias é preciso parar completamente os consumos?
- E quando não há substâncias envolvidas? Quais são as diferenças?
- E as dependência da internet e dos vídeojogos também se tratam?
Explicador
- O que é uma dependência?
- Como se passa de um consumo ou utilização não problemática a uma dependência?
- Como se diagnostica uma dependência?
- O que pode contribuir para o desenvolvimento da dependência?
- Porque é que é tão difícil deixar uma dependência ou comportamento aditivo?
- Há dependências mais difíceis de tratar que outras?
- Como se tratam as dependências de substâncias?
- É preciso ser internado para parar de consumir uma substância?
- Para tratar uma dependência de substâncias é preciso parar completamente os consumos?
- E quando não há substâncias envolvidas? Quais são as diferenças?
- E as dependência da internet e dos vídeojogos também se tratam?
Explicador
O que é uma dependência?
A dependência ou comportamento aditivo manifesta-se pelo uso de substâncias — como o álcool ou as drogas ilícitas — ou por comportamentos repetidos — como o jogo ou o uso da internet — de forma compulsiva, apesar dos efeitos negativos que isso tem para a saúde, vida social, familiar ou financeira.
Como se passa de um consumo ou utilização não problemática a uma dependência?
Lentamente e quase sempre sem dar conta. “Nas fases iniciais do processo de dependência é difícil perceber que ela se está a estabelecer”, explica a psiquiatra Joana Teixeira, Coordenadora da Unidade de Alcoologia e Novas Dependências do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa e presidente da Sociedade Portuguesa de Alcoologia.
A médica refere que, habitualmente, “a intensidade e frequência do consumo ou comportamento vão aumentando de forma progressiva ao longo do tempo e passam primeiro por um uso nocivo” — ou seja, um consumo ou um comportamento que já é prejudicial para a saúde, apesar de ainda não apresentar critérios de dependência.
Como se diagnostica uma dependência?
Estes são alguns dos critérios para o diagnóstico:
- Compulsão para o consumo ou comportamento, com dificuldade em controlá-lo;
- Sintomas de privação — que podem ser físicos, psicológicos ou ambos — quando não é possível consumir a substância ou realizar o comportamento;
- Desenvolvimento de tolerância, sendo precisas cada vez doses maiores ou mais tempo na atividade para obter satisfação;
- Persistência do comportamento apesar das consequências negativas que causa;
- Importância cada vez maior da atividade ou consumo na vida da pessoa, que abandona outros interesses ou começa a manifestar menos funcional nas outras áreas da vida.
O que pode contribuir para o desenvolvimento da dependência?
Um dos fatores essenciais para o desenvolvimento de dependência é a existência de consumo ou uso, ou seja, o contacto com a substância ou comportamento.
Depois, no caso dos consumos, há fatores relacionados com a substância: a heroína, por exemplo, tem um potencial aditivo com instalação mais rápida do que o álcool, que geralmente, precisa de um uso mais prolongado no tempo para gerar dependência.
Têm ainda importância os fatores do meio que a pessoa frequenta, que estão relacionados com as referências ou exemplos na família e com as percepções da sociedade sobre aquele comportamento ou consumo, que torna o acesso mais ou menos difícil. É o caso do álcool ou tabaco, por exemplo.
“A maioria das sociedades ocidentais é muito permissiva em relação ao consumo de álcool ”diz Joana Teixeira, que refere ainda que se estima que em Portugal, cinco por cento da população — ou seja, meio milhão de portugueses — tenha perturbações do uso do álcool. Destes, menos de 10% está em tratamento.
Por fim, importam os fatores do indivíduo e, aqui, sabe-se que “há uma importante carga genética envolvida no desenvolvimento de dependências, que há traços de personalidade que aumentam o risco e que pessoas com personalidades mais ansiosas ou depressivas têm maior tendência para desenvolver perturbações de substâncias”.
Além disso, há eventos de vida traumáticos ou difíceis que conduzem a pessoa a recorrer a substâncias, sobretudo o álcool, como ajuda para alívio do sofrimento, ou seja, como espécie de automedicação.
Porque é que é tão difícil deixar uma dependência ou comportamento aditivo?
Em primeiro lugar, porque habitualmente a pessoa demora muito tempo até reconhecer que tem um problema, o que faz com que o comportamento se vá instalando e crescendo, estando já muito enraizado na altura em que se inicia a intervenção para o controlar.
Depois, porque estes comportamentos, inicialmente, causam uma sensação agradável ou de prazer, que leva à sua repetição. “Rapidamente a sensação agradável é substituída pela ânsia da procura obsessiva”, explica a psicóloga clínica Gracinda Santos, mas, nessa fase, a dependência já está estabelecida e a pessoa já tem muita dificuldade em controlar-se, mesmo que reconheça as consequências negativas.
Há também uma componente fisiológica marcada, que é mais evidente quando há substâncias envolvidas. “Quando o indivíduo começa a usar substâncias psicoativas, estas entram na corrente sanguínea, chegando ao cérebro através dos neurotransmissores e alterando o equilíbrio químico”, explica a psicóloga. Isto significa que se estabelece uma sensação de recompensa associada aos consumos e, com o passar do tempo, esta desregulação pode tornar-se crónica.
Os consumos podem afetar de forma permanente a química cerebral, motivo pelo qual se diz “uma vez dependente, dependente para sempre”. Ou seja, muitas pessoas conseguem controlar o seu consumo com sucesso, mas não conseguem voltar a ter uma relação com a substância igual à que tinham antes de desenvolver um problema.
Há dependências mais difíceis de tratar que outras?
Não. Mas, em todas as dependências, o grau de adição pode ser leve, moderado ou grave, dependendo do número de sintomas que já existem e do impacto que têm na vida da pessoa. E isso já faz diferença em termos de tratamento.
“As mais difíceis de tratar são as dependências graves, independentemente da substância ou do comportamento que esteja em causa”, diz a psiquiatra Joana Teixeira. É por isso que é importante um diagnóstico precoce, que permita uma intervenção antes de o problema se agravar.
Como se tratam as dependências de substâncias?
As dependências ligeiras ou moderadas podem ser acompanhadas e tratadas por um médico de família, idealmente com o apoio de um psicólogo.
Já o tratamento de dependências graves implica um serviço especializado com uma equipa multidisciplinar, que inclui psiquiatras e enfermeiros especializados, consultas de psicologia individuais e/ou terapia familiar e grupos de apoio terapêutico para manutenção da abstinência. São tratamentos que conjugam medicação e vários tipos de apoio terapêutico que se prolongam geralmente durante 12 meses.
As dependências, sobretudo de substâncias, são geralmente consideradas crónicas porque o risco de recaída (especialmente) nos primeiros 12 meses é muito grande. “Nos serviços especializados, por exemplo, o que nos mostram vários estudos é que a taxa de recaída ao fim de um ano é de 40 % e de abstinência de 60%.”
É preciso ser internado para parar de consumir uma substância?
Depende do tipo de substância e da gravidade da dependência. Há duas substâncias cuja desintoxicação acarreta risco de vida pelos sintomas de abstinência que podem surgir: o álcool e as benzodiazepinas (medicamentos com efeitos ansiolíticos e sedativos).
“Para fazer a paragens destas substâncias é importante ser acompanhado, para que se avalie se há necessidade de internamento”, explica a psiquiatra.
Para tratar uma dependência de substâncias é preciso parar completamente os consumos?
Quando há uma dependência de uma substância, a melhor opção terapêutica, com mais probabilidade de sucesso, é a abstinência. Mas quando a pessoa não está disponível para se comprometer com a paragem total, o médico ou a equipa podem aceitar como objetivo de tratamento a redução. “Não como ideal de tratamento, mas numa perspectiva de diminuição de danos para a saúde”, diz a psiquiatra Joana Teixeira. No entanto, essa possibilidade está limitada a casos de dependência ligeira: em dependências moderadas ou graves, a redução não é a melhor estratégia.
E quando não há substâncias envolvidas? Quais são as diferenças?
Quando a dependência se desenvolve em relação a um comportamento natural e socialmente esperado, “não é recomendado que estes comportamentos sejam eliminados, mas sim controlados”, explica a psicóloga clínica Gracinda Santos. É exemplo disso o uso das tecnologias, como a internet, que fazem hoje parte integrante do nosso quotidiano e da vida em sociedade, sendo úteis, necessárias e dificilmente se podendo abdicar por completo delas.
E as dependência da internet e dos vídeojogos também se tratam?
Sim. A dependência online em jovens varia entre os 1% a 17% (em função dos estudos e métodos usados) e tem tratamento que passa pela terapia cognitivo-comportamental e, em alguns casos, por medicação.
“Os principais desafios no tratamento destas dependências, não químicas, são a identificação e monitorização dos pensamentos e o controlo dos impulsos que levam à utilização abusiva”. Nestes casos, explica a psicóloga, a terapia é uma das mais eficazes no controlo destes comportamentos, já que ajuda a pessoa a tomar consciência do problema, “mas também a estruturar de comportamentos de substituição, o que vai ajudar a reduzir a obsessão e a compulsão, por exemplo de jogar”.