A publicação é feita num texto separado em três blocos de fundo negro e azul e sobre a imagem da chanceler alemã Angela Merkel, levando o utilizador da rede social Facebook a interpretar que é ela a autora de todo aquele conteúdo.

Lê-se no texto: “Tenho muita pena dos Portugueses…. 5 milhões de emigrantes. Quase 300 mil desempregados. 5 mil sem abrigo. Educação Pública destruída. Mas não percebo porque votam nos mesmos três grupos criminosos à 40 anos? Ou pior, a maioria nem vai votar!!!! Ordenados de 400 euros! 230 mil casas vazias tiradas aos portugueses. Agora vão dar aos refugiados… Eu também ficava indignada!!!”

É preciso, antes de mais, contextualizar a altura em que esta publicação foi feita, a 14 de setembro. É que, três dias antes, o Governo português tinha respondido ao apelo feito pela Alemanha e pela França e tinha anunciado estar disponível para receber um total de 1.533 dos refugiados desalojados do campo de Moria, na Grécia, após um incêndio naquele local.

Portugal disponível para receber refugiados de Moria

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E é precisamente após a divulgação desse apoio que esta publicação surge como sendo de Merkel — que esteve pela última vez em Portugal em 2018, onde chegou mesmo a elogiar o esforço de recuperação económica que estava a ser feito. Isto, depois da visita anterior ao país, em 2012, que acontecido num registo bem diferente (quando passou por território nacional para ajudar a delinear o plano de resgate do FMI a Portugal). Merkel foi também quem, ainda em 2015, abriu as portas da Alemanha aos refugiados.

Quando analisamos o conteúdo da informação da publicação também nos deparamos com vários dados incongruentes ou mesmo falsos. Exemplo disso são os cinco milhões de emigrantes portugueses que o texto afirma existirem, quando a Organização das Nações Unidas, ainda em 2019, contabilizava, por exemplo, 2,6 milhões de portugueses emigrados a residir no estrangeiro. Destes, 57% vivem na Europa e 40% no continente americano, segundo dados recentes do Observatório da Emigração.

Por outro lado, se na questão da emigração esta afirmação peca pelo excesso, já quanto ao número de desempregados em Portugal peca por defeito, referindo que são 300 mil desempregados, quando, na verdade, no final do mês de julho os registos oficiais apontavam para 407.302 desempregados inscritos no Instituto do Emprego e Formação Profissional.

Também a informação sobre salários ali referida é pouco concreta. O texto que circula nas redes sociais fala em vencimentos de 400 euros mensais, sem especificar em que condições. Certo é que o salário mínimo nacional estabelecido por lei é agora de 635 euros. E, ao fazer a média ao ordenado bruto de todos os contribuintes, pode falar-se numa média de 951 euros, “o valor mensal mais elevado em quatro anos, desde março de 2015”, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, que excluem subsídios de férias e de Natal, entre outras componentes salariais.

Por outro lado, as casas atribuídas aos refugiados não são propriamente casas retiradas aos portugueses, mas sim casas do Estado, muitas vezes até das autarquias — que as pode ter adquirido de diversas formas —  e que passam a ser sujeitas a uma renda paga pelo próprio refugiado ao fim de 18 meses da sua presença em Portugal, como dita a lei que define os moldes do seu acolhimento.

Conclusão:

Falso. A chanceler alemã Angela Merkel não disse sentir pena dos portugueses, muito menos falou nos salários em Portugal, no tema da emigração ou mesmo da forma como os refugiados são acolhidos em Portugal. Dias antes, apelou, isso sim, aos líderes dos países europeus, para que acolhessem alguns dos refugiados saídos do campo de refugiados grego depois de um incêndio — seguindo os exemplos alemão e o francês.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

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