Imagens da destruição causada desde o início da guerra na Ucrânia têm-se tornado quotidianas e as redes sociais não são exceção. Além de prédios, escolas, hospitais e teatros destruídos por bombardeamentos, uma publicação no Facebook, mostra uma igreja destruída e alega que essa destruição terá sido provocada já durante a invasão russa da Ucrânia.

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A imagem mostra as ruínas de um edifício completamente destruído e uma estátua de Cristo, intacta, que parece ter escapado ilesa a um alegado ataque. Na legenda lê-se: “Uma igreja na Ucrânia totalmente destruída, apenas ficou intacta a imagem de Cristo ressuscitado.” Algo que é interpretado pelo utilizador como “um sinal de esperança” de uma guerra que “pode destruir igrejas mas nunca a fé”.

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Publicação de Facebook sobre igreja ucraniana destruída

Imagem alterada da Basílica de Santa Maria di Collemaggio, a alegar que é consequência da guerra na Ucrânia.

“Uma igreja na Ucrânia totalmente destruída, apenas ficou intacta a imagem de Cristo ressuscitado… Se isto não são sinais dos tempos, então o que é? Este Cristo a ressuscitar dos escombros é um sinal de esperança. Pode destruir igrejas mas nunca a fé.”

É importante esclarecer alguns pontos. Desde logo, a imagem não só não é de uma igreja ucraniana como também não há nenhuma estátua de Cristo que tenha permanecido “intacta” durante este suposto bombardeamento.

Através do mecanismo de pesquisa de imagens do Google, o Observador conseguiu encontrar a fotografia original, no arquivo da Keystone. A legenda da imagem original indica que a fotografia é de abril de 2009 e mostra os danos causados na Basílica de Santa Maria di Collemaggio, que colapsou depois de ser atingida por um sismo, na cidade de Aquila, no centro de Itália. Não há qualquer referência à Ucrânia ou à invasão russa, que só aconteceria 13 anos mais tarde.

Além disso, a imagem original que mostra a destruição da Basílica não tem qualquer estátua de Cristo intacta, ou destruída, entre os escombros.

Imagem da Basílica de Santa Maria di Collemaggio, depois do sismo de 2009

Imagem original da Basílica de Santa Maria di Collemaggio, depois do sismo de 2009, do arquivo da Keystone

O mesmo pode constatar-se num artigo da agência espanhola de notícias Efe, de abril de 2020, a assinalar os onze anos do sismo de Aquila. O artigo usa a imagem que mostra a destruição da basílica, mas novamente sem qualquer estátua de Cristo.

O desastre é assinalado todos os anos pelos cidadãos da cidade de Aquila. O sismo aconteceu no dia 6 de abril de 2009, pelas 3h32 da manhã. Cidades inteiras ficaram devastadas, assim como a capital da região de Abruzzo, Aquila. 309 pessoas morreram e 80 mil habitantes tiveram que abandonar as casas destruídas para procurar um novo local para viver.

A Basílica de Santa Maria di Collemaggio que acabou por ficar destruída é conhecida por toda a Itália por conter o santuário com os restos mortais do Papa Celestino V. Mas não há nenhum registo de uma escultura de Cristo, de braços abertos, que tenha sobrevivido ao sismo de 2009.

Alguns fact checkers internacionais, como o Logically chegam à mesma conclusão: a estátua de Cristo intacta nos escombros da Basílica de Santa Maria di Collemaggio foi adicionada de forma digital à fotografia original. Para além do mais não há nenhuma ligação à Ucrânia.

Conclusão

Não é verdade que uma estátua de Cristo tenha permanecido “intacta” apesar da destruição de uma igreja durante a guerra na Ucrânia. A imagem que está a ser partilhada nas redes sociais mostra a destruição da Basílica de Santa Maria di Collemaggio, em 2009, e não de uma igreja ucraniana.

Além disso, a imagem foi alterada digitalmente para mostrar uma estátua de Cristo que não existe nas fotografias originais.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de factchecking com o Facebook.

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