Quando e se for aprovada uma vacina ou descoberto um medicamento capaz de curar ou prevenir a Covid-19, essa notícia estará em todos os meios de comunicação social fidedignos, de canais de televisão a rádios, passando pelas entidades oficiais, como a DGS (Direção Geral da Saúde) ou a OMS (Organização Mundial da Saúde). Até lá, tudo o que circula nas redes sociais como cura milagrosa é mentira. É o caso do post viral mais recente que alega que alguém, que não é identificado, descobriu que basta beber chá de boldo. Os sintomas do novo coronavírus desaparecem “em três horas”. Tudo isto é falso.

Publicação com mais de 294 partilhas afirma que chá de boldo previne o coronavírus

Esta afirmação é falsa e é apenas mais uma sem qualquer credibilidade ou sustentação partilhada milhares de vezes nas redes sociais — antes, também a água morna com limão , alimentos com pH alto ou vapores de eucalipto tinham, alegadamente, os mesmos poderes.

Até ao momento, não existem alimentos, chás ou medicamentos indicados para evitar ou tratar o novo coronavírus. Aliás, o site oficial da OMS tem uma secção inteira dedicada a desmentir mitos deste género. A conclusão é sempre a mesma: não há receitas milagrosas, muito menos caseiras. A entidade recomenda, sim, uma dieta equilibrada, a prática de exercício físico, distanciamento social e higiene. Nada mais do que isso.

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O chá de boldo, que em Portugal pode ser encontrado em alguns supermercados  e lojas de produtos saudáveis, é feito com as folhas dessa mesma planta. São-lhe reconhecidas várias propriedades terapêuticas, como no alívio de dores de cabeça, dispepsia ou dores menstruais. Uma das suas maiores vantagens é ajudar no tratamento de distúrbios digestivos ligeiros. No entanto, é preciso ter cuidado com a sua utilização e dosagem.

“Vamos compartilhar, se não fizer bem, mal não vai fazer!!!”, diz o final do texto. Isto está errado e pode até ser perigoso. Há riscos para a saúde e os exemplos são muitos, como explica um artigo elaborado pelo nutricionista Hugo Canelas para o site “Vida Ativa”. As grávidas não devem beber chá de boldo por este conter ascaridol (um composto tóxico), que pode influenciar o desenvolvimento do bebé. A interação com medicamentos hepatotóxicos (tomados por quem sofre de doença hepática), anti-coagulantes ou com lítio pode igualmente causar inúmeros outros problemas de saúde.

Nas listas de estudos e ensaios clínicos que estão atualmente a ser desenvolvidos em todo o mundo na esperança de encontrar uma solução para a epidemia, o chá ou as folhas de boldo não aparecem, o que significa que a planta não é uma sequer uma hipótese em análise. A revista brasileira “Veja Saúde” confirmou isso mesmo nas plataformas “PubMed” , que reúne a maioria dos estudos publicados mundialmente, e “Clinical Trials”, que tem os testes clínicos e os medicamentos que aguardam aprovação. A pesquisa não devolveu qualquer resultado, o que significa “que não existe nenhum grupo de cientistas do mundo pesquisando o tema no momento, com resultados que encorajem o uso do boldo como remédio para a Covid-19”, pode ler-se na publicação.

Conclusão

O chá de boldo não cura a Covid-19, tal como não existem outros alimentos, plantas ou medicamentos capazes de eliminar ou prevenir o vírus. A infusão é usada muitas vezes para atenuar problemas ligeiros de digestão mas nunca deve ser ingerida por grávidas. Também pode ter efeitos negativos em pessoas com doenças hepáticas ou que tomem anti-coagulantes, entre outros medicamentos. Não existem, atualmente, ensaios clínicos que estejam a estudar os benefícios desta planta na luta contra o novo coronavírus.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.

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