São recorrentes as referências em publicações nas redes sociais a polémicas e teorias conspirativas associadas ao nome de George Soros, o bilionário e filantropo húngaro. Muitas vezes trata-se de alegações falsas, como esta que o Observador analisa e que envolve também o Presidente chinês.

Numa publicação que o Facebook sinalizou como podendo conter informação falsa consta que a “China declarou oficialmente George Soros um terrorista global. Ele é o filho de Satã.” A frase surge como se se tratasse de uma notícia publicada por um órgão de comunicação social ilustrada com uma montagem de fotografias, lado a lado, de Xi Jinping, o Presidente da China. Na entrada da suposta notícia consta ainda que “o Partido Comunista chinês classificou o bilionário de ser ‘a pessoa mais malvada do mundo'”.

As citações não são atribuídas nem a fonte está identificada. Uma pesquisa exaustiva nos motores de busca da internet não devolve quaisquer resultados fidedignos sobre o que consta nesta publicação — a totalidade dos resultados, aliás, refere-se a fact checks já feitos por órgãos de comunicação social internacionais à mesma afirmação ou a outras publicações, em várias redes sociais, como a que aqui analisamos.

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Numa busca no “Global Times”, jornal de língua inglesa do grupo do “Diário do Povo”, o órgão central do Partido Comunista Chinês, também não é encontrada qualquer referência à decisão que surge nesta publicação como sendo “oficial” — embora existam várias notícias antigas sobre Soros e também artigos de opinião críticos das afirmações que faz sobre a China e também do seu “papel inconsistente no mercado financeiro”.

Além disso, o porta voz da Open Society Foundations, organização de filantropia criada por Soros, já disse ao USA Today que não é verdade que a China tenha classificado o húngaro como “terrorista global”.

O magnata tem nacionalidade húngara e norte-americana, tendo emigrado para os Estados Unidos na década de 50 e feito por lá fortuna. No campo político tornou-se num dos principais doadores do Partido Democrata, um apoio que fez de Soros um alvo recorrente da direita norte-americana. Sendo também tensa a sua relação com a China, marcada por algumas trocas de argumentos até com membros do Governo chinês.

Por exemplo, em janeiro de 2019, no Fórum Económico Mundial, em Davos, Soros disse que a China “não é único regime autoritário do mundo, mas é o mais rico, forte e tecnologicamente avançado”. E que “isso faz de Xi Jinping o adversário mais perigoso das sociedades abertas”, disse também nessa altura. Críticas que o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês classificou de “insignificantes”, de acordo com o que foi noticiado pela Reuters nessa altura.

Conclusão

Não há registo, nem na comunicação social oficial do regime chinês, nem em notícias noutros órgãos de uma decisão oficial da China sobre uma classificação de George Soros como “terrorista global”. A afirmação foi também já desmentida pela sua organização de filantropia, a Open Society Foundations.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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