A fotografia é do pódio. A corrida de ciclismo. No lugar das três vencedoras, estão duas mulheres — uma delas, transgénero — e um homem que se identifica como mulher, também transgénero, embora oficialmente ainda não tenha feito a transição. A terceira é uma mulher cisgénero (identidade de género igual ao sexo que foi atribuído à nascença, por oposição a transgénero) e tem uma criança nos braços. A mulher trans ficou em 1.º lugar, a mulher cis em terceiro. Apesar disso, a afirmação que corre nas redes sociais — ciclistas trans ganham 1.º e 2.º lugar numa corrida de mulheres — não é verdade e está tudo nos detalhes.

Os nomes das três mulheres, do 1.º para o 3.º lugar, são Emily Bridges,Lilly Chant e Jo Smith. A verdadeira história foi divulgada por vários jornais, entre eles o Daily Mail.

O erro é que não se trata de uma corrida de mulheres, mas antes de uma corrida inclusiva que não divide os atletas por género (homens e mulheres), mas antes pelas classes Thunder e Lightning (Trovão e Relâmpago).

Os nomes das três mulheres, do 1.º para o 3.º lugar, são Emily Bridges,Lilly Chant e Jo Smith

“No passado, sempre lutámos pela igualdade e por ser uma das corridas mais abertas e inclusivas do mercado. Desde o início, oferecemos prémios iguais para a corrida masculina e feminina. Mas reconhecemos que conforme a sociedade evolui, o ciclismo também deve evoluir e, por isso, em 2021 mudámos o nosso formato”, lê-se no site da Thunder Crit, o nome da corrida, no Reino Unido. A seguir, defende que a identidade de género nunca deve ser discriminada, pretendendo criar um ambiente de corrida inclusivo para todos e acolher todas as expressões de género.

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“Percebemos que as categorias binárias de corrida já não são adequadas ao propósito. Não deveria caber aos atletas que não se identificam com as categorias tradicionais enfrentar pressões para se enquadrar nelas ou então serem excluídos ou enfrentarem perguntas intrusivas, ou que seja criada uma terceira categoria”, ou seja, defende a organização da corrida, está na altura de as “próprias categorias mudarem e se tornarem mais inclusivas”.

Assim, os organizadores criaram duas categorias, Trovão e Relâmpago. A primeira é para homens cisgénero e a segunda para mulheres cisgénero, sem direito de opção. Depois, em cada uma das categorias entram também pessoas não binárias, homens e mulheres trans. Quem tem um desempenho físico mais perto de homens cis segue para a corrida Trovão. Quem tem mais perto de mulheres cis, vai para a Relâmpago.

Reconhecendo que “o novo formato pode ser confuso”, a organização está aberta a sugestões e melhoramentos. Além disso, explica-se no site, cada categoria tem duas subcategorias e nas provas de qualificação, antes das corridas finais, pessoas com desempenho físico semelhante acabam por ficar agrupadas.

À data da corrida, junho de 2022, o acontecimento foi alvo de muita polémica, como tem acontecido com diversos casos de atletas transsexuais. A própria vencedora da corrida, Emily Bridges, tem feito correr muita tinta. Começou a sua carreira entre atletas masculinos, tendo vencido vários prémios e estabelecido um recorde nacional júnior masculino. Mais tarde, depois de completar a transição, pretendia correr nas provas femininas. Em 2022 foi considerado que não era elegível para participar no British National Omnium Championship feminino por questões de burocracia. A terapia hormonal não tinha reduzido os seus níveis de testosterona para os previstos nos regulamentos e continuava registada como ciclista masculina.

Conclusão

Enganador. As suas atletas transsexuais ficaram de facto em 1.º e 2.º lugar na corrida, mas não se tratava de uma prova feminina, mas antes de uma corrida inclusiva em que as categorias não dividiam os atletas por género.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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