Uma publicação partilhada no Facebook remete para a história de um deputado austríaco, Michael Schnedlitz, que aplicou uma amostra de Coca-Cola num teste rápido à presença de proteínas do novo coronavírus e terá obtido um resultado positivo. O político do Partido da Liberdade da Áustria partilhou o vídeo da experiência e defendeu no Parlamento que aqueles testes eram “absurdos”.

Uma das publicações que repete que um testes rápido feito num copo de Coca-Cola pelo deputado austríaco Michael Schnedlitz deu positivo.

No vídeo em causa, captado durante uma intervenção de Michael Schnedlitz no Parlamento, o deputado surge a colher uma gota de um líquido escuro, em tudo semelhante a um copo de Coca-Cola, e a depositá-lo na área de contacto do teste rápido de anticorpos, da marca Dialab. Pouco depois, duas faixas coloridas surgem na área de controlo (C) e na área de teste (T), o que indica um resultado positivo.

Michael Schnedlitz partilhou este momento, assim como uma notícia sobre ele, nas redes sociais e anunciou ter provado que “os testes em massa do governo ao coronavírus são absurdos”, “inúteis”: “Mesmo com estes mesmos testes e com estas mesmas provas, o governo preto-verde [uma coligação entre os democratas-cristãos e os ambientalistas] gasta dezenas de milhões de dinheiro dos impostos neles”, acusou, pedindo a demissão do ministro da saúde, Rudolf Anschober, e de todo o executivo austríaco.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Acontece que o teste realizado por Michael Schnedlitz não teve realmente um resultado positivo: as faixas que surgiram na zona de leitura, e que normalmente aparecem após a deteção de anticorpos contra o SARS-CoV-2, só se tornaram visíveis porque a Coca-Cola aplicada na área de contacto do teste danificou o material, uma vez que a experiência foi mal realizada. Foi o que a própria Dialab que o demonstrou num vídeo publicado no Facebook.

É que o refrigerante não foi misturado numa solução tampão que mantém o pH constante, tendo sido colocado diretamente do copo para o teste. Como a Coca-Cola tem um pH muito ácido, a gota de sumo depositada na zona de contacto destruiu os anticorpos contra o novo coronavírus com que as proteínas do SARS-CoV-2 reagiriam, caso estivessem presentes na amostra, tornando ambas as marcas visíveis. Neste caso, as duas marcas não eram a reação das proteínas do vírus com os anticorpos, mas sim um sinal de que o teste tinha sido danificado.

Para demonstrar isto mesmo, a própria marca de material laboratorial repetiu a experiência de Michael Schnedlitz com uma amostra de Coca-Cola num teste rápido de antigénio. No entanto, desta vez, seguiu os procedimentos descritos na embalagem do teste (e aprovados pelas entidades reguladoras) e misturou a amostra com a solução tampão. Assim, o teste deu negativo.

https://www.facebook.com/DialabGmbhAustria/videos/382339263031520

Conclusão

Não é verdade que uma amostra de Coca-Cola tenha testado positivo à presença de proteínas do novo coronavírus. O deputado austríaco que protagoniza esta notícia falsa não cumpriu rigorosamente os procedimentos aprovados para a realização deste teste e não misturou o refrigerante com uma solução que mantém o pH da Coca-Cola constante. Por ser demasiado ácido, o sumo destruiu o teste, por isso é que as duas faixas típicas de um resultado positivo apareceram.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos

IFCN Badge