No meio do extenso texto que circula pelo Facebook há duas informações que se destacam: a primeira indica que a FDA (Food and Drug Administration, organização que regulamenta medicamentos e alimentos nos Estados Unidos da América) aprovou o uso da hidroxicloroquina “em todos os pacientes com o Covid-19”, a segunda revela que a Novartis (farmacêutica suíça) tem “resultados de pesquisas que comprovam que a hidroxicloroquina mata o vírus”. Ambas criam a ilusão de que está descoberta a cura para eliminar rapidamente o novo coronavírus e ambas são falsas.
A 28 de março, a FDA autorizou que nos Estados Unidos os produtos sulfato de hidroxicloroquina e fosfato de cloroquina fossem distribuídos e usados em “alguns pacientes hospitalizados com Covid-19”. O comunicado é claro e nunca generaliza as indicações para “todos os pacientes”, como sugere o post viral. Cada caso é analisado de forma isolada e, se o médico recomendar o uso de um destes medicamentos, o paciente tem acesso a um documento que explica os benefícios e os riscos. No segundo parágrafo, há logo um aviso: “Não existe nenhum produto aprovado pela U.S. Food and Drug Administration (FDA) disponível para tratar a Covid-19”.
Em diversos pontos do texto é reforçada a ideia de que não há certezas quanto à eficácia da cloroquina — medicamento aprovado para prevenir ou tratar certos tipos de malária — para curar o novo coronavírus. “O fosfato de cloroquina não foi aprovado para o tratamento da Covid-19, tem sido utilizado experimentalmente para tratar certas pessoas com Covid-19”, pode ler-se no documento. No entanto, “o uso urgente foi autorizado para adultos e adolescentes que pesem 50 quilos ou mais e que estejam hospitalizados com Covid-19, se um ensaio clínico não estiver disponível ou a pessoa não puder participar nele”.
Das informações fazem também parte uma lista com os possíveis efeitos secundários (desde náuseas a batimentos cardíacos irregulares) e outra com pessoas que, tendo já outros problemas de saúde, não devem tomar cloroquina. O que importa reter é que o tratamento é experimental e não é aconselhado a todos.
Quanto à Novartis, é verdade que a farmacêutica disse que ia doar 130 milhões de doses de hidroxicloroquina mas afirmar que “o CEO da Novartis anunciou que já tem em mãos os resultados de pesquisas que comprovam que a hidroxicloroquina mata o vírus”, como alega a publicação partilhada no Facebook, é falso. No comunicado que a empresa emitiu a 20 de março, e em que se compromete a “apoiar a resposta à pandemia global”, está bem explícito que a “hidroxicloroquina e um medicamento relacionado, a cloroquina, estão neste momento a ser avaliados em ensaios clínicos para o tratamento da Covid-19”.
A 15 de abril, António Faria Vaz, vice-presidente do Infarmed, alertou em entrevista ao Observador para a necessidade de “ponderação” na utilização de medicamentos com estes componentes, em Portugal geralmente “prescritos para doenças autoimunes e tratamento da malária”.“Consideramos, neste momento, que só deve ser administrado a doentes Covid em unidades de saúde”, acrescentou.
Já depois disso, a 25 de maio, a OMS (Organização Mundial da Saúde) anunciou a suspensão temporária dos ensaios clínicos com cloroquina e hidroxicloroquina. A decisão, comunicada por Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da entidade, surgiu na sequência de um estudo publicado na revista científica “The Lancet” que considera a cloroquina e a hidroxicloroquina ineficazes e, em alguns casos, prejudiciais no tratamento do novo coronavírus.
Conclusão
A FDA não aprovou o uso de hidroxicloroquina em todos os pacientes com Covid-19. A organização afirma que o tratamento é experimental e recomendado apenas em alguns casos, não havendo garantia da sua eficácia. O CEO da Novartis nunca anunciou que tem provas de que a hidroxicloroquina mata o vírus. A farmacêutica frisou que o medicamento estava a ser avaliado em ensaios clínicos. Esses ensaios foram entretanto suspensos temporariamente pela OMS, uma vez que os dados mais recentes indicam que a cloroquina e a hidroxicloroquina podem ser ineficazes ou até prejudiciais na luta contra a pandemia.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.