“Google lançou um inquérito para adicionar ou Israel ou Palestina no mapa da Google Earth”. Uma das maiores empresas tecnológicas a introduzir-se no conflito israelo-palestiniano? Segundo uma publicação de Facebook do passado dia 2 de janeiro, sim. Trata-se, no entanto, de uma publicação falsa.
O autor em questão partilha um site onde são apresentadas duas opções de escolha para participar no inquérito: “Israel” e “Palestina”, como se pode observar na imagem em baixo.
Quando o Observador consultou a página pela última vez, esta sexta-feira ao início da tarde, tinham sido registados 3.316.058 votos, a maioria dos quais na opção “Palestina”, ainda que neste dia 99,4% dos 360 participantes tivessem escolhido a opção “Israel”. Vamos já olhar para estes números — e todo o processo de votação — mais em detalhe já de seguida.
Antes, importa apenas referir que, além do número de votantes, surgem mais abaixo na página outras opções de inquéritos para a escolha de nomes para territórios, como “Rússia” e “Ucrânia”, num caso, ou “Índia” e “Paquistão”, noutro caso. No entanto, não há nenhuma indicação neste site de que tenha sido promovido ou patrocinado pela Google ou que tenha algum tipo de ligação com a tecnológica.
A marca registada da Google, no fim do site, também não surge. Quando vamos à procura do tal inquérito no browser da Google, o que se encontra são vários resultados de notícias de trabalhadores que foram despedidos depois de protestarem com Israel. Não há, porém, nenhum resultado que mencione esse inquérito em específico.
Independentemente do promotor do inquérito — que, como ficou claro, não é a Google —, a validade do resultado é, no mínimo, questionável. Primeiro, porque qualquer participante pode votar tantas vezes quanto entender. Pode até votar numa solução e, logo de seguida, na opção contrária. Mas há outra hipótese à disposição dos votantes (e que fragiliza ainda mais qualquer leitura válida que se pudesse querer fazer do inquérito). Vejamos a imagem seguinte.
O que percebemos é que, em função do valor que cada participante esteja disposto a oferecer para demonstrar o seu “apoio” (não foi possível apurar o destino dado a um eventual pagamento), é possível contabilizar até “1000 votos” extra “só com “um clique” — nesse caso, a troco de um pagamento de 1000 dólares. Ficamos esclarecidos sobre a validade do inquérito.
E, ainda que não fosse necessário fazê-lo — porque um inquérito deste género, a ser real e efetivamente promovida pela Google, seria demasiado polémico para não ter qualquer tipo de eco na comunicação social internacional –, o Observador usou a ferramenta Google Earth, para perceber se algum daqueles países foi “apagado” do mapa. E a resposta é: não. Por exemplo, no caso da Palestina, Estado reconhecido por diferentes países no mundo, se se pesquisar pelo seu nome, vamos parar a uma descrição daquele território.
Quando se faz uma pesquisa pelo último update efetuado ao site, percebe-se que ele foi feito no passado dia 6 de dezembro de 2023. No entanto, utilizando a ferramenta Global DNS Propagation Checker, é possível chegar a outra conclusão: o site do suposto inquérito da Google não foi criado agora, mas sim a 28 de dezembro de 2008. Ou seja, o inquérito não é, de todo, recente.
O Observador tentou contactar a Google sobre as alegações feitas nestes posts nas redes sociais, mas não obteve resposta até à publicação deste fact check. Por outro lado, este assunto já foi verificado por outros fact-checkers internacionais que o consideraram falso.
Conclusão
Não há prova nenhuma de que a Google tenha lançado um inquérito para que as pessoas decidissem se preferiram incluir a Palestina ou Israel no mapa da Google Earth. O site é antigo e não tem qualquer ligação com aquela empresa tecnológica. Os dois territórios surgem naquela plataforma e existe até informação detalhada sobre a Palestina.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.