Está a ser partilhada nas redes sociais uma publicação onde é apontado que a Islândia decidiu banir as vacinas contra a Covid-19. É alegado que a imunização foi interrompida devido uma “subida do número de mortes súbitas” no país.

A Direção de Saúde da Islândia (instituição distinta do ministério da saúde, como é explicado em baixo) já negou a informação. Numa resposta escrita à agência de notícias Reuters, o chefe epidemiologista na Direção de Saúde da Islândia explica que “não há aumento de mortes súbitas”. É o esclarecimento do médico Guðrún Aspelund, num e-mail datado de 29 de novembro deste ano. Como podemos ler no site oficial, a Direção da Saúde tem como função “aconselhar o ministro da Saúde e outros órgãos do governo, os profissionais de saúde e o público em questões de saúde, prevenção de doenças e promoção da saúde”.

A publicação em causa trata-se de um artigo do site “Newsaddicts” cuja hiperligação direciona os leitores para um texto que aponta que “à medida que o excesso de mortes, acidentes vasculares cerebrais, coágulos sanguíneos, paragens cardíacas súbitas e outros problemas de saúde ‘inexplicáveis’ continuam a aumentar em todo o mundo, o governo da Islândia tomou medidas decisivas e proibiu as injeções de mRNA da Covid na nação insular.”

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O “Newsaddicts” cita uma conferência com o nome “Let the Science Speak” (que se pode traduzir para Deixem a Ciência Falar), que teve lugar na capital da Islândia a 10 de outubro de 2023. É apontado que nas palestras foram discutidos os danos causados ​​pelas vacinas contra a Covid-19.

O artigo em causa foi publicado a 25 de novembro e é apontado que, seis semanas depois da conferência, os organizadores da mesma informaram que o governo da Islândia iria, na semana seguinte, fazer com que as vacinas contra a Covid-19 não estivessem disponíveis.

No entanto, não é possível encontrar qualquer informação oficial que comprove que as vacinas contra a Covid-19 tenham sido proibidas, como é alegado. Não houve nem por parte do governo islandês nem do Ministério da Saúde a confirmação de que as vacinas no país estivessem ou viessem a ser proibidas.

Numa consulta do site oficial do governo islandês podemos ter acesso aos anúncios de todos os ministérios. Quanto ao Ministério da Saúde, verificamos que a mais recente entrada sobre a Covid-19 é sobre o regresso, sem restrições, das atividades domésticas e restrições nas fronteiras. Antes deste comunicado, foram divulgados artigos sobre a abolição da quarentena, da limitação de reuniões e de eventos.

Também a Direção da Saúde, que tem como uma das funções aconselhar o governo, tem em destaque no caderno sobre o vírus que “todas as restrições decorrentes da Covid-19 foram levantadas na Islândia a 25.2.2022”. Mais escreve à entrada do site: “A epidemia de Covid-19 ainda se está a alastrar, mas consequências sérias são raras.” Confirmamos isto mesmo também no site do Ministério da Saúde.

Em 2021, foi noticiado que a Islândia iria interromper a inoculação dos mais jovens contra a Covid-19 com a vacina da Moderna, por causa de preocupações com os efeitos secundários. Esta vacina fabricada pela Moderna, a Spikevax, era utilizada na Islândia sobretudo para segundas doses.

Na altura, também a Noruega optou por não usar a Moderna. Mas deixou a ressalva de que homens com menos de 30 anos deveriam considerar a escolha da vacina da Pfizer/BioNTech. Esta não só era a alternativa recomendada também por outros países nórdicos, como também a vacina da Pfizer é a atualmente usada na Islândia, como comprova a Reuters, que cita o chefe epidemiologista na Direção de Saúde da Islândia, Guðrún Aspelund.

Aspelund explica à Reuters que, para a época outono/inverno de 2023, a vacina Comirnaty, da Pfizer, é “recomendada para quem tem indicação médica, incluindo pessoas com 60 ou mais anos, indivíduos com cinco ou mais anos com condições médicas ou com recomendação médica, tal como profissionais de saúde”.

Nesta publicação em causa, a única indicação da alegada proibição das vacinas chega apenas com uma citação de um artigo datado de 17 novembro (cujo link não funciona) no jornal islandês Morgunbladid. A única citação que serve para sustentar a alegação de que a Islândia iria proibir as vacinas é: “Na próxima semana, o público vai poder ter acesso à vacina da influenza nos centros de saúde, mas não à da Covid neste momento.”

Questionado pela Reuters, o autor do artigo diz que não sabe justificar as fontes a que recorreu. Responde que não tem conhecimento de quem alega que a Islândia quer banir medidas e que, no seu artigo, descreveu precisamente o que foi anunciado na Islândia. Explica também que foram feitas clarificações por um amigo seu, jornalista local que contactou as autoridades oficiais.

O artigo não contém declarações oficiais do governo ou instituições médicas.

Conclusão

Não há evidência de que a Islândia tenha proibido a vacinação contra a Covid-19. O governo islandês não verificou um aumento de mortes súbitas entre os vacinados. O país sempre vacinou a população e tem em curso uma campanha de vacinação para grupos de risco.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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