Lula da Silva venceu as eleições de 2022, ao conseguir mais votos que o opositor Jair Bolsonaro, mas ainda continuam a existir publicações nas redes sociais a colocar em causa a legitimidade do resultado. A 5 de agosto, um utilizador do Facebook partilhou um vídeo em que Lula da Silva fala de gastos de 60 mil milhões de dólares para comprar votos. A alegação que acompanha o vídeo — “Lula confessa que gastou 60 bilhões de dólares na COMPRA  de VOTOS” — é, no entanto, falsa.

Se escutarmos o excerto partilhado, de facto, Lula da Silva refere-se a um brutal gasto financeiro prévio às eleições, que aconteceram em 2022, e que opuseram o atual Presidente brasileiro ao ex-Presidente Jair Bolsonaro. Mas a ideia apresentada por Lula é oposta àquela que a publicação sugere, ou seja, tal gasto foi feito por Jair Bolsonaro, enquanto Presidente. O vídeo partilhado é apenas uma parte de uma entrevista que durou quase uma hora, mas ainda assim suficiente para se perceber que Lula não se está a referir a gastos feitos por si.

“Eu, na verdade, fui candidato agora nas eleições porque eu tinha consciência que a única chance de derrotar o fascismo era eu… Sabe quanto de recurso foi colocado nos últimos dois anos para tentar ganhar as eleições? O equivalente a 60 bilhões [mil milhões] de dólares. Comprando voto, dando dinheiro para taxista, para motorista, distribuindo dinheiro para todo mundo. Fazendo isenção, fazendo desoneração… Perdeu. Perdeu as eleições (…)”, disse Lula da Silva no trecho publicado nas redes.

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O Presidente brasileiro não estava a referir-se a gastos feitos por si — até porque conclui a ideia referindo que quem o terá feito “perdeu” as eleições, ou seja, uma referência a Jair Bolsonaro. A entrevista em questão está disponível online e foi concedida à Rádio Sociedade, em julho deste ano.

Questionada pelo Observador, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República do Brasil confirmou que em causa está uma publicação falsa, por apresentar uma conclusão que deturpa a mensagem de Lula na entrevista. “O presidente Lula em nenhum momento falou que gastou esse valor durante dois anos para comprar votos e vencer as eleições. As peças de desinformação com essa alegação tiram de contexto um trecho de uma entrevista do presidente. Lula referia-se ao ex-presidente Jair Bolsonaro”, afirma fonte oficial do Planalto. A entrevista original foi, inclusivamente, publicada na página oficial do governo brasileiro.

A acusação de Lula sobre supostos gastos de Jair Bolsonaro para comprar votos já tinha sido feita pelo atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ex-candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) que perdeu as eleições presidenciais de 2018 contra Bolsonaro. Haddad fez essa declaração em 2023 na live semanal “Conversa com o Presidente”.

Publicações semelhantes à que o Observador verificou já foram desmentidas por órgãos de comunicação social daquele país, como a agência Lupa ou a AFP. Não havendo um desmentido oficial de Bolsonaro, este valor referido durante a entrevista àquela rádio pode estar relacionado com um grande pacote económico que o ex-presidente lançou em 2022, ano das eleições: segundo a agência Reuters, o governo anterior teria lançado um pacote no valor de cerca de 30 mil milhões de euros (200 mil milhões de reais). Mas não é certo que o atual presidente brasileiro se estivesse a referir a esse pacote.

Conclusão

Não é verdade que Lula da Silva tenha confessado que gastou milhões e milhões de dólares na compra de votos antes das eleições presidenciais brasileiras de 2022. O vídeo partilhado é parte de uma entrevista que aconteceu a 2 de julho deste ano, concedida a uma rádio da Bahia. O atual Presidente brasileiro estava a referir-se ao seu opositor, lançando-lhe uma acusação sobre a forma como geriu e gastou recursos públicos para um alegado benefício próprio nas eleições. O gabinete de imprensa da Presidência do Brasil, questionado pelo Observador, confirma que as alegações que dão conta de que Lula admitiu ter comprado votos são falsas.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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