A 8 de janeiro deste ano vários apoiantes do ex-Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, invadiram e vandalizaram os edifícios do Supremo Tribunal Federal, do Congresso e o Palácio do Planalto. Meses depois do sucedido, surge agora uma publicação, de 24 de abril deste ano, que garante que Lula da Silva, o novo Presidente brasileiro, estava dentro de um dos edifícios invadidos quando esses acontecimentos ocorreram. “Lula disse que esteve em Araraquara e que estava a acompanhar tudo. Na verdade, esteve lá a 8 de janeiro ao lado do general Dias, há imagens que mostram petistas disfarçados com camisas e bandeiras do Brasil”, alega o autor. Trata-se, no entanto, de uma publicação falsa.

Publicação viral alega que Lula da Silva esteve na invasão de apoiantes de Bolsonaro a sede dos três poderes. É falso.

Primeiro, é preciso dizer que essa invasão decorreu durante o dia, como comprovam vários artigos e até imagens reais do evento. Este dado é vital para se compreender o porquê de a publicação ser falsa.

Depois, a publicação em questão apenas partilha uma imagem de um suposto vídeo de videovigilância que foi filmado dentro de um dos edifícios invadidos, o Palácio do Planalto. A imagem vem identificada como tendo sido partilhada pelo jornal Metrópoles. E apenas olhando para o que foi partilhado pelo autor, não é possível identificar concretamente Lula da Silva, devido à fraca qualidade da fotografia que acompanha a publicação. No entanto, fazendo uma pesquisa na internet e nas redes sociais, é possível encontrar outras publicações semelhantes, bem como diferentes fact-checks brasileiros a desmentir o que aqui é alegado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Essas imagens estão disponíveis, por exemplo, no canal de Youtube Poder 360 e, olhando para a descrição do vídeo, percebe-se que foram registadas entre as 21h31 e as 21h32. Ou seja, são imagens captadas já na noite dos acontecimentos, depois de ter ocorrido a invasão e, portanto, depois de o Palácio do Planalto ter sido evacuado e de as autoridades policiais terem conseguido repelir a investida dos manifestantes.

Na verdade, a informação que de Lula ia regressar a Brasília ainda nesse dia foi conhecida cerca das 16h20 do dia 8 (20h21 em Lisboa), confirmada por fonte oficial da equipa do Presidente brasileiro.

Nas imagens em causa, é visível a figura de Lula da Silva, que chegou após a invasão dos apoiantes de Bolsonaro. Estas imagens “foram divulgadas sem som a 22 de abril deste ano pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moares”, diz o vídeo.

Mas, contrariando o que diz o autor, de facto, Lula da Silva esteve na cidade de Araraquara, em São Paulo, antes de rumar a Brasília. Esta viagem foi relatada pela imprensa brasileira e pode ser confirmada consultando os artigos que dão conta da deslocação do Presidente brasileiro a uma região do país que tinha acabado de ser atingida por fortes cheias. Só depois dessa visita Lula regressou a Brasília para testemunhar diretamente as consequências da invasão da tarde de 8 de janeiro.

Finalmente, é importante dizer que existe uma forte probabilidade de o autor confundir — ou manipular, de propósito — uma notícia verdadeira para culpar Lula da Silva. Um dos seus ministros, Gonçalves Dias, demitiu-se em abril, por volta da mesma altura em que surgiu esta publicação. E porquê? Porque houve imagens captadas da sua presença nos edifícios invadidos, ao lado de apoiantes de Bolsonaro.

Conclusão

É falso que Lula da Silva tenha estado dentro de um dos edifícios estatais invadidos por apoiantes de Jair Bolsonaro durante o dia 8 de janeiro em Brasília. O Presidente brasileiro só chegou depois de a sede dos três poderes ter sido desocupada. Antes, durante o evento, Lula da Silva tinha estado numa cidade de São Paulo para verificar os estragos provocados por cheias — uma agenda que, aliás, vários meios de comunicação social brasileiros foram testemunhando.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

De acordo com o sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.

IFCN Badge