Duas fotos lado a lado, de um antes e um depois, e uma frase sem pontuação e com repetições: “Morre médico chinês testado com vacina chinesa Covid-19.” Foi o suficiente para esta informação se transformar num post viral no Facebook. A parte verdadeira é que Hu Weifeng era um médico chinês e morreu com Covid-19. No entanto, não é verdade que lhe tenha sido administrada qualquer vacina e que tenha sido ela a desencadear uma cirrose ou outro problema clínico. Além disso, os timings nem sequer coincidem: o médico já estava hospitalizado quando a vacina começou a ser testada em humanos, na China, em abril.

Weifeng, que era urologista no Hospital Central de Wuhan, China, descobriu que tinha contraído o novo coronavírus em janeiro de 2020. Em março foi internado e o seu estado agravou-se nos meses seguintes, sofrendo hemorragias cerebrais em abril e maio. Por essa altura começaram a circular online imagens do que tinha acontecido à pele do médico de 42 anos. De acordo com artigos publicados então, o escurecimento da pele era explicado por um desequilíbrio hormonal que teria acontecido por o fígado ter ficado danificado. Em maio, a equipa que tratou Hu Weifeng (e também outro colega, Yi Fan, que teve os mesmos efeitos secundários) concluiu que a alteração na pigmentação tinha sido causada por um antibiótico.

Depois de estar entubado durante 39 dias, Yi Fan combateu a Covid-19 e recuperou o seu tom de pele. O mesmo não aconteceu com Hu Weifeng, que acabaria por morrer a 2 de junho deste ano.

Contrariamente ao que garante a publicação no Facebook, o urologista nunca recebeu qualquer vacina experimental. Não poderia sequer ter feito parte dos ensaios clínicos da CoronaVac, uma vez que os critérios definidos pela farmacêutica Sinovac incluíam a obrigatoriedade de os voluntários serem saudáveis. Além disso, a fase de administração do medicamento em humanos começou em abril na China, altura em que Weifeng já estava hospitalizado e debilitado.

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O efeitos verificados no médico chinês, incluindo a alteração no tom de pele, não estão associados a nenhuma vacina e a sua morte não resultou da CoronaVac. Até ao momento, foram registados efeitos secundários causados pela vacina em 5,36% dos cerca de 50 mil voluntários chineses. Ainda assim, não foi relatada nenhuma morte. A vacina desenvolvida na China está na fase final de testes. A 17 de novembro, um estudo publicado na revista científica “The Lancet” revelou ter observado anticorpos em 97% dos voluntários.

Conclusão

É verdade que médico chinês que surge nas fotos ficou irreconhecível com uma alteração no tom da sua pele mas essa reação não foi causada pela CoronaVac. Também não foi a vacina a responsável pela morte de Hu Weifeng. O urologista de Wuhan contraiu Covid-19 em janeiro, foi internado em março e acabaria por morrer em junho. Quando os ensaios clínicos em humanos da vacina desenvolvida pela farmacêutica Sinovac começaram na China, em abril, já o médico estava hospitalizado e debilitado — não estando saudável, nunca poderia ter feito parte dos voluntários. Até agora, não há registo de mortes decorrentes da vacina. Os últimos dados revelam que a CoronaVac é segura e que produz anticorpos em 97% dos casos.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

Errado

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook

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