Duas décadas depois do último combate de boxe em que tinha lutado em público, o pugilista Mike Tyson, atualmente com 58 anos, regressou aos ringues para defrontar Jake Paul, um jovem milionário youtuber.

O burburinho nas redes sociais antecedeu o encontro, e mesmo antes de este ter lugar, começou a ser partilhada — tanto no Facebook como no Instagram e no Threads — uma imagem de Tyson com o tronco coberto por uma bandeira da Palestina. O combate aconteceu, tal como previsto, no dia 15 de novembro, e no Facebook, mesmo antes disso, já circulava a imagem que acabou por se tornar viral nos dias seguintes. Isto porque, alegadamente, o histórico pugilista tomava uma posição em relação ao conflito israelo-palestiniano.

Tudo indica que imagem em análise tenha sido manipulada com o objetivo de associar Mike Tyson ao apoio à causa palestiniana, já que vários indícios apontam para a modificação digital da imagem.

Por um lado, no especial da Netflix em que é exibido o combate entre Tyson e Jake Paul, bem como a preparação do pugilista que tinha as luvas arrumadas há 19 anos, não é captada qualquer imagem em que este surja coberto com uma bandeira da Palestina. Também não existem notícias que associem o norte-americano a esta causa política.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Há também um pormenor importante que deita por terra as hipóteses de esta imagem ser real. Em dezembro de 2023, Mike Tyson fez uma tatuagem de grandes dimensões no lado esquerdo do peito. Divulgou o processo no Instagram, em conjunto com o próprio tatuador. Ora, a tatuagem que se estende até ao centro do peito não é visível na pretensa fotografia em que o pugilista enverga a bandeira da Palestina.

Além disso, várias plataformas de fact check, incluindo a britânica Full Fact, apontam para o facto de Tyson estar a usar uns calções pretos com letras prateadas gravadas que não formam qualquer frase ou palavra, nem têm qualquer significado, um traço característico de conteúdos criados através de Inteligência Artificial (AI, na sigla em inglês).

É também de notar que a célebre tatuagem com ramificações em redor do olho esquerdo de Tyson surge nesta imagem com um formato irregular e diferente da aparência que tem em fotografias recentes do pugilista.

Estalada, Squid Game, o hábito de morder e uma derrota: o regresso do velho Tyson, entre um KO ao boxe e o OK da Netflix

O norte-americano alvo de desinformação foi campeão mundial de boxe indisputado entre 1987 e 1990. Voltou às luzes da ribalta nas últimas semanas por decidir combater de novo de forma inesperada. Aceitou voltar a lutar a troco de 15 milhões de dólares. Do outro lado do ringue esteve Jake Paul, de 27 anos, com uma experiência bem mais curta no boxe. O youtuber negociou receber um valor bastante superior ao de Tyson para lutar contra a lenda do boxe — 40 milhões de dólares.

O lutador mais novo acabou por vencer o combate que terminou com a vitória nos pontos por unanimidade para Jake Paul por 79-73, 79-73 e 80-72.

Conclusão

É falso que Mike Tyson, pugilista que regressou aos combates recentemente, tenha aproveitado o regresso às competições de boxe e ao espaço mediático para tomar uma posição política em relação ao conflito no Médio Oriente. A imagem em que o homem de 58 anos enverga uma bandeira da Palestina tem vários indícios de manipulação digital, com uma das tatuagens de grande dimensão de Tyson em falta, por exemplo. Também não existem registos, de notícias ou entrevistas, em que o pugilista apoie a causa palestiniana.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

IFCN Badge