Por vezes, as notícias falsas começam a ser espalhadas num país e acabam do outro lado do mundo. Neste caso, tudo se passou em dois países. Segundo o site Alerta Digital, “militares franceses afirmaram que a Covid-19 é uma guerra total contra a população para escravizá-la, controlá-la, esterilizá-la e reduzi-la”. Um utilizador, no passado dia 12 de março, partilhou uma imagem dessa suposta notícia, sem outro link disponível que comprovasse aquilo que foi divulgado. Trata-se, no entanto, de uma publicação falsa.

Explorando aquilo que é escrito no artigo em questão, percebe-se que divulga várias teorias da conspiração ligadas à Covid-19. Por exemplo, depois de enumerar uma série de conclusões do suposto relatório militar francês, o Alerta Digital alega que, nesse documento, se escreve que “a Covid-19 está diretamente ligada à tecnologia do 5G”, informação já amplamente desmentida desde o início da pandemia de Covid-19.

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Mais à frente, na parte final do texto, são partilhados alguns links, em línguas diferentes, que serviram de fonte para aquilo que foi partilhado, entre os quais o de um blogue onde encontramos a informação de que o relatório pertence, supostamente, à Associação de Oficiais na Reserva em França.

O Maldita.es, fact-checker espanhol que também verificou a publicação original, revela que o relatório, atribuído à Anorgend (associação que representa os militares franceses na reserva) que faz parte da União Nacional de Oficiais da Reserva em França. Esta última instituição negou a autoria daquele relatório ao órgão de comunicação social espanhol.

Por outro lado, a Anorgend também desmentiu qualquer envolvimento sobre o que foi divulgado, como citado pela AFP Factual, que também desmentiu a publicação original. “Nunca nos pediram para participar neste processo, nem aprová-lo e, além disso, não entra nas nossas funções de oficial de reserva fazer este tipo de relatórios”, referiu Renaud Ramillon-Deffarges, presidente da Anorgend, à AFP.

Já o Ministério dos Exércitos francês (o equivalente ao Ministério da Defesa Nacional português) também desmentiu ao Maldita.es que tenha escrito aquele relatório. A própria Anorgend confessou, via Twitter, ser “completamente alheio” ao documento em questão.

Consultando o documento, não é possível encontrar qualquer referência àquela instituição, alegando-se que os autores pertencem às reservas militares francesas, não facultando, por outro lado, os seus nomes. Fica também visível outra nota importante: dentro do texto, garante-se que o seu conteúdo não pode ser enquadrado como opinião médica, tendo um fim meramente “informativo e cultural”.

Conclusão

Não é verdade que os militares franceses tenham elaborado um relatório que defende que a Covid-19 serviu para controlar e escravizar a população. O documento em questão, além de não referir nomes em concreto, foi atribuído à Anorgend, uma das instituições francesas que representam os militares na reserva daquele país. Esse organismo negou qualquer envolvimento na execução do relatório em questão.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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