No vídeo vê-se um homem vestido de azul a ser atacado, na rua, por um grupo de homens e mulheres. É alvo de vários golpes e acaba por ser derrubado pelos agressores, até que algumas pessoas intervêm para tentar travar a violência. O homem consegue, eventualmente, levantar-se e afastar-se do local, com as mãos visivelmente ensanguentadas. Ao longo dos quase 3 minutos de gravação é possível ouvir os agressores a gritarem várias palavras, em francês.
O vídeo acabou por ser partilhado nas redes sociais, com alegações de que o homem visado nas imagens era um ministro do Senegal que, durante uma visita a Paris, acabou por ser agredido por emigrantes senegaleses. Numa destas publicações, o autor refere que “eles [senegaleses] dizem que os governantes não podem passar férias fora do país, até o país se tornar desenvolvido”, e usa este caso para deixar um conselho aos portugueses para que “se manifestem” como este grupo fez, uma vez que “povo com atitude é assim”.
Num outro post, lê-se que este alegado “ministro foi a Paris passar férias luxuosas, enquanto o seu povo passa fome” e acabou atacado por “migrantes senegaleses”. O autor escreve ainda que este tipo de episódios vai “acontecer muito” com o que diz serem “traidores do povo”, neste caso numa alusão aos governantes do Senegal.
Importa contextualizar o momento em que este vídeo é partilhado. Nas últimas semanas, o Senegal tem sido palco de violentos confrontos entre as forças de segurança e apoiantes do líder da oposição, Ousmane Sonko. Os protestos subiram de tom em junho deste ano, quando Sonko, o principal opositor do presidente Macky Sall, foi condenado a dois anos de prisão por alegadamente corromper uma menor de 21 anos. A onda de violência já provocou a morte de pelo menos 16 pessoas (23 de acordo com os números da Amnistia Internacional), centenas de feridos e danos materiais consideráveis.
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O nome ou pasta tutelada pelo alegado ministro do Senegal nunca são referidos nas várias partilhas desta informação, o que torna mais difícil provar a veracidade desta publicação. Se procuramos notícias sobre esta suposta agressão em motores de busca como o Google não encontramos qualquer informação fiável. Encontramos, sim, notícias relativas a uma agressão nas ruas de Paris contra um outro cidadão senegalês. No entanto, de acordo com o que revelam meios de comunicação africanos como a página Senalioune, o homem agredido não é um governante, mas sim o músico Demba Ndiaye Ndilane.
O próprio artista admitiu, há algumas semanas, ter sido agredido na capital francesa. Num vídeo publicado nas redes sociais, e partilhado pelo canal televisivo Afrika Pulaar Television, Demba Ndiaye Dilane relata como foi atacado por apoiantes do líder da oposição de Senegal e acrescenta que o motivo para a agressão terá sido o facto de o músico ser simpatizante do atual Presidente da República, Macky Sall.
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Os protestos contra o Chefe de Estado senegalês têm, de resto, sido uma constante nas últimas semanas. Macky Sall já anunciou, entretanto, que recuou na decisão de concorrer a um terceiro mandato nas eleições de 2024. A decisão foi elogiada por vários líderes mundiais, incluindo o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.
Conclusão
Ainda que a agressão referida nestas publicações tenha, de facto, acontecido nas ruas da capital francesa, e tenha uma motivação política, o homem agredido não é um ministro senegalês, mas sim o artista Demba Ndiaye Dilane. O próprio músico revelou, nas redes sociais, que foi atacado devido a motivações políticas e ao facto de ser simpatizante do atual presidente do Senegal.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.