O primeiro-ministro, António Costa, afirmou nesta segunda-feira que o Governo está a reforçar a capacidade do Serviço Nacional de Saúde para realizar testes à Covid-19 e que, atualmente, o SNS “já consegue fazer 14 mil testes por dia”. Costa assinalou também que, neste mês, o país já bateu o recorde nacional de número de testes à Covid-19 desde o início da pandemia.

Em informações enviadas ao Observador, o Ministério da Saúde confirmou o número adiantado por Costa. “A capacidade diária de testagem no SNS é de cerca de 14.000 testes ao dia, capacidade essa que tem vindo a aumentar desde o início da pandemia“, afirmou o gabinete de Marta Temido, acrescentando que “alguns dos investimentos que decorrem do projeto de expansão laboratorial permitem inferir um aumento da capacidade efetiva dos vários laboratórios do SNS, sendo um processo ainda em evolução, de acordo com o cronograma aprovado”.

Na semana passada, o primeiro-ministro já tinha referido o mesmo número. Numa conferência de imprensa, após o Conselho de Ministros, Costa anunciou um plano de investimento do Governo para aumentar a capacidade do SNS para realizar testes à Covid-19. “Inicialmente, realizavam-se dez mil testes por dia e, neste momento, só no SNS, estão a ser feitos 14 mil. Com os investimentos previstos, ao longo das próximas semanas, e só no SNS, aumentaremos para mais de 21 mil os testes feitos por dia”, afirmou, então, António Costa.

Apesar da capacidade instalada — e dos repetidos anúncios do aumento dessa capacidade —, a verdade é que o Serviço Nacional de Saúde não tem realizado todos os testes que consegue fazer. Por exemplo: no final do mês de agosto, o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, anunciou um investimento de 8,4 milhões de euros para mais que duplicar a capacidade de testagem do SNS.

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Nessa conferência de imprensa, ao lado do presidente do Instituto Ricardo Jorge, o secretário de Estado explicou que o SNS tinha, naquela altura, capacidade para realizar 10 mil testes por dia, e que deveria expandir essa capacidade para 22 mil testes diários. Na mesma conferência de imprensa, Lacerda Sales detalhou que o SNS era responsável por 47% dos testes realizados todos dias, enquanto o setor privado fazia 40% dos testes e as universidades 12%.

Contas feitas pelo Observador a partir dos dados divulgados publicamente pela Direção-Geral da Saúde mostram que no mês de agosto foram feitos 421.198 testes no país — o que dá uma média de 13.587 testes por dia. Seguindo as percentagens anunciadas pelo secretário de Estado, o SNS realizou durante o mês de agosto uma média de quase 6.400 testes por dia — dois terços da capacidade do setor público no mês passado.

Já nos primeiros doze dias de setembro, a média de testes diários feitos em Portugal aumentou relativamente a agosto, para 17.347. Ainda assim, o número de testes feitos no SNS está abaixo dos 14 mil. De acordo com informações dadas ao Observador pelo Governo, “em média, o SNS realizou cerca de 48% do total de testes, os laboratórios privados 41% e a academia e outras instituições cerca de 11%“. Isto eleva o número médio de testes feitos por dia no SNS para cerca de 8.300.

No que toca ao recorde anunciado por Costa, a informação é verdadeira, mas desatualizada. Com efeito, olhando para os dados oficiais divulgados pela Direção-Geral da Saúde, constata-se que no dia 8 de setembro foi batido o recorde do número de amostras processadas num só dia: 20.676. O recorde anterior foi registado no dia 15 de maio, quando foram feitos 20.448 testes.

Porém, logo no dia seguinte, o recorde voltou a ser batido. A 9 de setembro, foram realizados 21.332 testes. E depois de uma ligeira descida, a 10 de setembro, o recorde foi batido pela terceira vez no dia 11 de setembro: 21.741 testes.

Isso mesmo foi referido nesta segunda-feira pelo secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, na conferência de imprensa sobre a evolução da pandemia em Portugal. “Na sexta-feira passada, dia 11, foi o dia em que foi realizado o maior número de testes desde o início da pandemia: mais de 21.700 testes”, disse Sales.

Este dia 11 de setembro também dá um retrato claro de como a capacidade total de testagem do SNS ainda não foi completamente utilizada. Segundo o Ministério da Saúde, nesse dia foram feitos “um total de 21.741 testes (4,7% positivos), dos quais 10.359 foram realizados no SNS (3,7% positivos)”. Ou seja: mesmo no dia em que mais testes foram feitos, o SNS não precisou de usar toda a sua capacidade — 14 mil testes.

“A semana que terminou registou uma média de mais de 17.500 testes por dia, a mais elevada desde o início da pandemia”, acrescentou o secretário de Estado, lembrando que houve três dias com mais de 20 mil testes realizados. “A testagem é e continuará a ser um instrumento fundamental numa abordagem integrada para o controlo da pandemia e Portugal tem feito esforços assinaláveis na expansão da sua capacidade laboratorial para realização de testes Covid-19.”

Ao contrário do que acontece em alguns países, Portugal tem divulgado as estatísticas dos testes em número de amostras recolhidas e processadas — e não em número de pessoas testadas. Cada pessoa é sujeita a mais do que um teste, e isto pode levar a interpretações erróneas em comparações diretas com os números de outros países — como o Observador já notou num fact-check sobre os números apresentados na semana passada por António Costa, quando o primeiro-ministro colocou Portugal como o quinto país europeu no número de testes por milhão de habitantes. O gráfico apresentado pelo chefe do governo comparava, no entanto, números de países com metodologias diferentes naquela contagem.

Conclusão

A afirmação de António Costa é verdadeira. O Serviço Nacional de Saúde tem atualmente capacidade para realizar cerca de 14 mil testes à Covid-19 por dia, mesmo que, até ao momento, ainda não tenha sido necessário recorrer a toda a capacidade instalada no setor público. Costa também falava verdade sobre o recorde atingido no dia 8 de setembro, embora essa informação já estivesse desatualizada: depois do dia 8, o recorde seria batido duas vezes e o novo recorde corresponde, agora, ao dia 11 de setembro.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

CERTO

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