Publicação, que data de 13 de agosto, alega que oito jovens desmaiaram e “caíram como tordos” após levarem a vacina contra a Covid-19, em Matosinhos. Não são citadas quaisquer fontes dessa informação e, após uma pesquisa, também não é possível encontrar referências ou notícias sobre esse alegado episódio. Mas, mesmo admitindo como possível que oito jovens tivessem desmaiado após a toma da vacina, isso também não significa que as vacinas contra a Covid-19 representem um perigo para a saúde — como várias publicações têm sugerido desde o início do ano.

É sabido que os desmaios são efeitos secundários comuns nos jovens que foram vacinados contra a Covid-19. O caso de Mafra chegou a ser assunto numa conferência de imprensa da Agência Europeia do Medicamento (EMA).

Questionado sobre os casos de desmaios nesse centro de vacinação, Georgy Genov, chefe da Farmacovigilância da EMA, revelou que “não é incomum, em pessoas jovens, haver relatos de efeitos secundários relacionados com síncopes ou desmaios”. A EMA prometia, então, analisar esse caso concreto, mas também a autoridade nacional para o medicamento também já o fazia. “O Infarmed tem recebido, de forma agregada ou individual, relatos de manifestações de ansiedade vacinal, como síncope (por reação vasovagal), lipotimia (pré-síncope), hiperventilação e hipersudorese”, refere o organismo, em resposta ao Observador. Nessa resposta, o Infarmed contextualiza estas situações:

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Trata-se de reações conhecidas e não graves que podem surgir como respostas de stress à vacinação (e não às vacinas), em particular, como resposta psicogénica a uma injeção com agulha (vulgarmente conhecida como “fobia de agulhas”) e que podem manifestar-se antes, durante ou após a vacinação. É um fenómeno mais frequentemente observável em jovens.”

A autoridade do medicamento detalha que os episódios sempre foram registados em processos de vacinação, mas que se observa um aumento neste caso particular, por serem muitas mais as pessoas vacinadas. De resto, o Infarmed deixa a garantia de que “o programa nacional de vacinação contra a COVID-19 está preparado para estas situações, nomeadamente na prevenção de lesões causadas por desmaio”. Além disso, “todos os indivíduos com história prévia de síncope, lipotimia, sensação de perda de equilíbrio ou outros sintomas de ansiedade vacinal, devem sinalizar esse facto junto da equipa de profissionais de saúde do centro de vacinação contra a COVID-19 onde se encontram, para que possam ser devidamente acompanhados”.

Sobre o caso concreto do centro de vacinação de Matosinhos, a resposta chega por escrito por parte da Unidade Local de Saúde:

Tivemos, como seria expectável, casos de chamadas “reações vasovagais”. Podem ser reações muito ligeiras, até reações graves. Ao longo do processo de vacinação, e à medida que progredimos para grupos etários mais jovens e vacinação em dias de grande calor, tornaram-se mais frequentes.”

Aquela unidade refere também que “a esmagadora maioria das reações são eventos auto-limitados, sem gravidade com recuperação espontânea em poucos segundos” e sublinha que “o número total destes eventos, quando temos em conta o número de vacinas dadas, é residual”. “Existiram alguns casos — raros —, em que foi necessário encaminhamento de utentes do centro de vacinação para o hospital. Estes aconteceram por diversos motivos, desde reação vasovagal grave pelo calor (não associado à vacinação, ocorrendo antes), queda na mediação, baixa de açúcar numa utente em jejum, entre outros”, concretiza a Unidade Local de Saúde de Matosinhos.

Nos esclarecimentos enviados ao Observador, é ainda referido que, “ao longo de todo o processo” de vacinação, o número de transportes de utentes para observação complementar no hospital foi muito excecional, sendo que a maioria dos casos aconteceram por motivos não relacionados diretamente com a administração da vacina contra Covid-19. Estes eventos acontecerem durante um processo de vacinação de milhares de pessoas, sendo expectáveis nesse contexto”.

Assim, não há razão para pensar que a publicação contenha informação falsa, mas também não foi possível ao Observador conhecer o número exato de desmaios ocorridos. Em todo o caso, trata-se de uma reação normal, que na maioria dos casos, segundo as autoridades de saúde, se deve à ansiedade causada pelo processo, e não a uma reação aos componentes da vacina.

Conclusão

Não há informações oficiais que confirmem que oito jovens desmaiaram no centro de vacinação de Matosinhos, devido à vacinação contra a Covid-19. Não é dada qualquer indicação temporal para os eventos, nem foram encontrados outros relatos do sucedido. Contudo, a Unidade Local de Saúde de Matosinhos confirma ao Observador que se registaram episódios de síncope nos utentes que se deslocaram àquele centro de vacinação, com a ressalva de que esta zona do país não é uma exceção — os episódios foram comuns de norte a sul do território.

Além disso, como já referimos ao longo deste fact check, os episódios não são motivados (na esmagadora maioria dos casos) por nenhuma espécie de reação alérgica à vacina, mas antes pela ansiedade motivada pelo processo — como indica o Infarmed, são “reações conhecidas e não graves que podem surgir como respostas de stress à vacinação”, ou por aquilo que é normalmente conhecido como “fobia de agulhas”.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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