A 5 de janeiro deste ano, no Facebook, surgiu um excerto de uma suposta reportagem da CNN sobre os níveis recorde de mortalidade em Portugal entre o final de 2023 e o início de 2024. O oráculo da suposta peça jornalística diz o seguinte: “2024: país mais vacinado do mundo bate recorde de mortalidade”. Trata-se, no entanto, de uma publicação falsa.
Primeiro, é preciso olhar para o trabalho feito pela CNN Portugal. Por exemplo, a 29 de dezembro, foi emitido um trabalho jornalístico daquele canal de televisão sobre este tema. Fez-se uma contabilização do número de óbitos no país, entre os dias 25 e 28 de dezembro, numa altura em que os hospitais registavam um pico de pessoas hospitalizadas por causa da gripe, entre outras doenças.
Conta a CNN Portugal que 25 de dezembro, com 440 mortes, foi o dia de Natal com mais mortes na última década. A peça também diz que no site da Direção Geral da Saúde a mortalidade estava em níveis de alerta.
A 4 de janeiro surgiu uma nova reportagem, sob o título “Segundo dia do ano regista 510 mortes e 2024 já bate recorde de todo o ano de 2023”. São estas imagens que surgem na publicação original. A jornalista alega mesmo que nem em anos de pandemia o país registou números de mortes diárias tão elevados: a 2 de janeiro tinham morrido 510 pessoas em Portugal. Também se diz que é preciso recuar a 2017 para encontrar um início de ano com tantas mortes. A verdade é que em 2’23 minutos a reportagem alega que o pico de mortes se deve a “infeções respiratórias coincidindo com os entupimentos nos hospitais”. Em nenhum momento a jornalista relaciona o pico de mortes com a vacinação contra a Covid-19 ou contra qualquer outro tipo de doença respiratória.
É possível também perceber que o oráculo que diz “2024: país mais vacinado do mundo bate recorde da mortalidade” foi alterado e não constava do grafismo original da peça. Os dados relativos aos picos de mortalidade em Portugal podem ser consultados publicamente no site da vigilância da mortalidade em Portugal. A Direção Geral da Saúde emitiu um comunicado em que fala do aumento do impacto da epidemia de gripe, dizendo o seguinte: “Os indicadores traduzem o impacto da epidemia de gripe sazonal intensa e com tendência crescente”, clarificando um pouco mais a situação atual do pico de mortalidade.
Entretanto, outros fact-checkers já verificaram publicações semelhantes à que o Observador verificou. A agência Reuters, na sua versão portuguesa, desmentiu o argumento de que a reportagem da CNN Portugal estaria a estabelecer uma relação entre a vacinação no país e o pico de mortalidade.
Conclusão
É falso que a CNN Portugal tenha estabelecido uma relação entre o pico de mortalidade das últimas semanas e a vacinação para doenças infecciosas como a Covid-19. A publicação verificada pelo Observador alterou o oráculo original incluído na reportagem para manipular informações. Esta publicação já foi também verificada por outros fact-checkers. Em nenhum momento durante os cerca de 2’30 minutos, a jornalista alega que o pico de mortalidade se deve à vacinação em Portugal.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.