Circulam publicações nas redes sociais que alegam que o Supremo Tribunal dos Estados Unidos (EUA) determinou recentemente que as vacinas contra a Covid-19 “não são vacinas”. Esta alegação tem como base um suposto processo interposto àquele órgão judicial pelo sobrinho de John F. Kennedy e atual político que procura concorrer às eleições presidenciais de 2024, Robert F. Kennedy Jr. “Ganhou o seu processo contra todos os lobistas farmacêuticos.”

Robert F. Kennedy Jr. teria avançado com um processo no Supremo Tribunal para provar que as vacinas contra a Covid-19 não passavam de um produto experimental, principalmente aquelas que utilizavam o mecanismo do mRNA mensageiro. “Na sua decisão, o Supremo Tribunal confirma que os danos causados pelas terapias genéticas de mRNA da Covid-19 são irreparáveis.”

“Como o Supremo Tribunal é a mais alta instância [judicial] dos Estados Unidos, não há mais recursos e todas as vias de recursos foram esgotados”, lê-se ainda nestas publicações, que também dão conta de que Robert F. Kennedy frisou que este aparente sucesso apenas foi possível graças à “cooperação internacional de um grande número de advogados e de cientistas”. “É claro que esta decisão estabelece um precedente internacional”, garante-se nos posts, referindo-se em particular o caso da Suíça.

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A maioria destas publicações, que circulam nas redes sociais não só em português como também em inglês ou em espanhol, acaba com um link para uma notícia da Fox News.

Não obstante, a notícia para a qual as publicações encaminham não está relacionada com o alegado processo de Robert F. Kennedy Jr. A notícia em causa, publicada no final de outubro de 2022, refere-se a uma decisão do Supremo Tribunal que obrigou a cidade de Nova Iorque a recuar na decisão de despedir todos os funcionários que escolheram não se vacinar contra a Covid-19.

Segundo a notícia da Fox News, o Supremo Tribunal determinou que a ordem era ilegal, uma vez que ser vacinado “não prevenia que se contraísse ou se transmitisse Covid-19”. O assunto desta notícia não tem, por isso, nada que teve com um alegado processo de Robert F. Kennedy Jr.

Adicionalmente, fazendo uma busca no site do Supremo Tribunal norte-americano, não existe qualquer processo interposto por Robert F. Kennedy Jr. que tenha como objetivo comprovar que a vacina contra a Covid-19 não é uma vacina. 

O próprio Robert F. Kennedy, que até assume uma posição antivacinas, já confirmou que nunca colocou qualquer processo em tribunal que visasse comprovar que a vacina contra a Covid-19 não é uma vacina. Em setembro de 2021, afirmou que o caso judicial mencionado nas publicações é “desinformação”.

Este tipo de artigo está sempre a aparecer”, referiu à Associated Press, ressalvando, contudo, que colocou outros processos em tribunal para comprovar que as vacinas — não especificamente apenas a contra a Covid-19 — são ineficazes. Mas, prosseguiu o político, nunca chegaram ao Supremo Tribunal de Justiça norte-americano.

Conclusão

Não é verdade que o Supremo Tribunal de Justiça tenha dado razão a um processo judicial, interposto por Robert F. Kennedy Jr, que provava que as vacinas contra a Covid-19 não são vacinas. Como, aliás, confirmou o político, esse processo nunca existiu, ainda que o sobrinho de John F. Kennedy assuma uma posição abertamente contra vacinas e defenda que são ineficazes e podem representar perigo para a saúde.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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