A Venezuela é uma “bagunça” e “há muitas opções para a Venezuela, incluindo uma opção militar.” A frase é proferida pelo Presidente eleito dos Estados Unidos da América, Donald Trump, num vídeo que tem corrido nas redes sociais, principalmente no Facebook, ao longo das últimas semanas. Começou a circular pouco depois de o empresário ser eleito para um segundo mandato à frente da Casa Branca, nas eleições de 5 de novembro.

“E agora, Maduro?”, questiona-se em algumas publicações em referência ao líder da Venezuela, no poder há mais de dez anos. As mesmas publicações omitem, porém, a data em que a declaração de Donald Trump foi proferida: no verão de 2017.

“A Venezuela é uma bagunça. Uma bagunça muito perigosa. Uma situação muito triste”, começou por dizer o na altura Presidente dos EUA. Trump falava aos jornalistas no dia 11 de agosto de 2017, quando estava há apenas seis meses no cargo. Ao seu lado, no seu clube de golfe em Bedminster, Nova Jérsia, estavam o secretário de Estado, Rex Tillerson, e a embaixadora norte-americana para as Nações Unidas, Nikki Haley, como se pode ver nas imagens da Associted Press.

O líder norte-americano não se ficou por aí e acrescentou que “há muitas opções para a Venezuela”. “E, já agora, eu não vou excluir uma opção militar. Temos muitas opções sobre a Venezuela. É nosso vizinho. Estamos em todo o mundo e temos tropas em todo o mundo em lugares que são muito distantes e a Venezuela não é muito longe. E as pessoas estão a sofrer e estão a morrer. Temos muitas opções sobre a Venezuela, incluindo uma possível opção militar”, afirmou.

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A opção militar foi abordada um mês depois de o departamento do Tesouro dos EUA ter anunciado sanções contra o Presidente Nicolás Maduro. O líder venezuelano foi acusado de abusos generalizados de direitos humanos depois de se anunciar a eleição de uma assembleia para reescrever a Constituição do país latino-americano, uma votação que descrita como “ilegítima” da parte de “um ditador que desconsidera a vontade do povo venezuelano.”

As declarações de Trump geraram indignação na Venezuela. “É um ato de extremismo supremo”, disse o ministro da Defesa Vladimir Padrino López, em Caracas. “Como nosso ministro da Defesa e cidadão venezuelano, eu digo que isto é um ato de loucura.” Já o ministro das comunicações venezuelano, Ernesto Villegas, declarou que esta era “uma ameaça sem precedentes à soberania nacional”.

Cerca de um ano depois, a CNN noticiou que o líder norte-americano questionou os seus conselheiros sobre uma invasão da Venezuela. Estes porém, alertaram contra esta opção, defendendo que seria uma escalada dramática da tensão e uma decisão a que os aliados dos EUA na região se oporiam firmemente.

Nesse mesmo ano, em setembro, à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, o Presidente reiterou que “todas as opções estavam na mesa” em relação ao tema Venezuela. “[Opções] mais duras e menos duras. Só quero que a Venezuela se endireite. Quero que as pessoas estejam seguras. Nós vamos cuidar da Venezuela”, citava a ABC News no dia 27.

Recordando as palavras do verão anterior, alguns interpretaram o comentário como uma forma de deixar a porta aberta uma ação militar, ainda que dessa vez Trump não o tenha mencionado abertamente e vários líderes militares norte-americanos tenham afirmado que não há existia nenhum plano para uma intervenção desse tipo.

Esse foi um ano particularmente sensível na Venezuela, com a realização das eleições presidenciais que opuseram Nicolás Maduro e Juan Guaidó. O Conselho Nacional Eleitoral atribuiu a vitória a Maduro, mas a oposição contestou os resultados e declarou fraude eleitoral.

Em 2019, o empresário ainda falaria novamente do assunto. Numa entrevista ao programa “Face the Nation” da CBS News, Trump foi questionado sobre o que o levaria a usar força militar na Venezuela. “Certamente, é algo que é uma opção”, respondeu Trump sem concretizar.

Conclusão

É enganador dizer que o Presidente Eleito dos EUA, Donald Trump admitiu a hipótese de uma intervenção militar na Venezuela, publicando as declarações sem qualquer referência temporal. As imagens originais têm sete anos e remontam ao primeiro mandato do empresário na Casa Branca, que ficou marcado por vários episódios em que deixou em aberto várias opções de intervenção no país latino-americano.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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