Valery Zaluzhny, general ucraniano responsável por chefiar as Forças Armadas do país, foi ganhando grande popularidade na Ucrânia durante a guerra. As razões? Foi um dos principais responsáveis por suster a ofensiva russa em fevereiro de 2022 e por preparar a contraofensiva do outono daquele ano, que recuperou vários territórios ocupados pela Rússia. Contrariando as expectativas mais pessimistas, o nome de Valery Zaluzhny foi associado aos êxitos no campo de batalha.
No entanto, tudo mudou na primavera de 2023. Após o inverno daquele ano em que o conflito ficou praticamente estagnado em redor de Bakhmut, a Ucrânia tentou elaborar os planos para uma nova contraofensiva. Só que, desta vez, teve apenas sucessos marginais, não conseguindo recuperar grandes parcelas de territórios à Rússia. Isso criou um mal-estar entre a elite política e militar ucraniana — e Valery Zaluzhny escreveu um artigo para a revista The Economist em que admitia um “impasse” na linha da frente, um termo indesejado para a presidência ucraniana.
Desde esse momento, circulavam rumores sobre a saída de Valery Zaluzhny do cargo. Surgiram, ainda para mais, especulações de que podia enveredar pela vida política, fruto da sua popularidade, e fazer frente a Volodymyr Zelensky, algo que nunca veio a acontecer. Em fevereiro de 2024, o general sai do cargo e é substituído por Oleksandr Syrsky. Nas redes sociais, o Presidente ucraniano justificou a troca porque era necessária uma “renovação”, ainda que na publicação sublinhasse que queria continuar a contar com Valery Zaluzhny.
Um mês depois, o antigo comandante das tropas de Kiev foi escolhido como embaixador do Reino Unido na Ucrânia. Neste contexto, nas redes sociais, surgiu uma publicação, citando o jornal de investigação Bellingcat, que alega que Volodymr Zelensky pagou 53 milhões de dólares (cerca de 49 milhões de euros) a Valery Zaluzhny, para que este abandonasse a vida política e fosse para a Inglaterra.
“Segundo as acusações, Zaluzhny recebeu uma compensação financeira para renunciar a qualquer aspiração política, um pagamento supostamente realizado por Zelensky”, lê-se na publicação, que fala numa “saída silenciosa” do antigo comandante das tropas ucranianas. E não foi só nesse post que se veiculava esta informação; também surgiram vídeos com o estilo e o logotipo da BBC com o mesmo conteúdo.
…Where have all my tax money gone….!!!
According to allegations reported by Bellingcat, Zaluzhny was financially compensated to the tune of $53 million to relinquish any political aspirations, a payment purportedly made by Zelensky to ensure his departure. Additionally, it… pic.twitter.com/k0ODOiuPKv— Boma John (@euroboma) March 10, 2024
No entanto, o jornal Bellingcat garante que nunca fez essa investigação. Numa publicação do X, o diretor do jornal, Eliot Higgins, garantiu que se tratava de uma informação “falsa” e que o Bellingcat nunca investigou — nem sequer publicou — nenhuma notícia com essa informação.
The news is fake too, and seeing it claims my organisation made the discovery, I think I would know.
— Eliot Higgins (@EliotHiggins) March 10, 2024
Conclusão
Ainda que tenha havido tensões entre Valery Zaluzhny e Volodymyr Zelensky no passado — aparentemente ultrapassadas —, não é verdade que o jornal Bellingcat tenha publicado uma reportagem de investigação a expor que o Presidente ucraniano pagou 53 milhões de dólares para que o antigo chefe das forças armadas fosse para Inglaterra. Essa informação, garante o diretor do jornal, é “falsa”.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.