Depois de António José Seguro ter decidido não convocar eleições, nem um congresso do PS, António Costa mobilizou todos os seus apoiantes para pressionarem na opinião pública a direção a inverter a decisão. A guerra aberta espalhou-se pelas televisões, que esta manhã mostraram um desfile de personalidades socialistas apelando a que o líder aceite o desafio e dispute a liderança com António Costa.
Ferro Rodrigues foi o primeiro. Falou à agência Lusa, depois de ontem ter dito ao Observador que só falaria se houvesse uma situação “limite” que o tirasse da posição de ex-líder que faz questão de manter. Falou e foi muito claro, apelando a António José Seguro para que marque “tão brevemente quanto possível” eleições diretas: “Portugal necessita de construir um Governo de forte base política e social após eleições legislativas e, para que tal aconteça, é condição fundamental que o PS ganhe essas eleições e dinamize a criação desse Governo”. Para Ferro, isso só será possível com “um líder indiscutível e claramente apoiado pelo partido e pela sociedade”.
“Deste modo, como antigo secretário-geral do PS, apelo a António José Seguro para que, de acordo com os estatutos, marque eleições diretas e um congresso extraordinário para tão breve quanto possível. Será um serviço importante que fará ao país, à democracia e ao PS”, sustentou Ferro Rodrigues.
Também Fernando Medina, vice-presidente da Câmara de Lisboa (que ficará no lugar de Costa se este sair da autarquia), veio já dizer que o partido “deve tirar a ilação das eleições e criar uma alternativa sólida”. Mesmo antes das imagens de Medina passarem na televisão, era Sérgio Sousa Pinto, deputado, que falava em direto do Parlamento: “Esta é uma questão política, não pessoal, é preciso interpretar com honestidade os resultados das europeias”, disse o ex-eurodeputado, próximo de Mário Soares e de Costa. “A modéstia obriga o partido a desenterrrar a cabeça da areia”, acrescentou ainda.
Ao mesmo tempo, na RTP-Informação, aparecia Manuel Pizarro, líder da concelhia do Porto: “Só meia dúzia de pessoas é que se recusam a ver que este resultado é uma desilusão”.
Direção responde contra os “generais”
Sabendo que a guerra no PS não se ganha apenas no aparelho, onde Seguro tem a maioria das federações, a direção respondeu a Costa na mesma moeda. O deputado socialista João Soares fez uma declaração contundente à Lusa, acusando António Costa de estar a sofrer uma “crise de egocentrismo, narcisista e sebastianista”, ao persistir no “disparate completo” de disputar a liderança do PS.
O dirigente socialista, ex-presidente da Câmara de Lisboa, disse não aceitar que a história de há um ano se repita, lembrando a “tragicomédia que terminou de forma absolutamente pífia”, com o recuo do presidente da Câmara de Lisboa e a confirmação de António José Seguro na liderança do PS. “Há menos de um ano tivemos um número parecido com este, uma tragicomédia que terminou de forma absolutamente pífia. As pessoas é que não têm memória na nossa terra. António Costa fez exatamente o mesmo número e, depois, chegou à comissão politica e disse que não era candidato”, recordou. “Não há homens indispensáveis na terra”, acrescentou ainda.
Em defesa de Seguro surgiu ainda Alberto Martins, este também em direto nas televisões, vincando que “as regras têm que ser cumpridas” e que “quem quer tirar a legitimidade existente” no partido (leia-se, a direção), “está obrigado a criar as condições para o fazer”. A frase seria repetida quase igual por Eurico Brilhante Dias, um dos dirigentes do partido mais próximos de Seguro.
Por fim, apareceu ainda José Luís Carneiro, também na RTP-Informação, para combater o rival da região (que é Pizarro). Em síntese, disse ter feito uma reunião de concelhias, onde “14 em 18” dirigentes do Porto “mostraram incompreensão” pelo avanço de Costa.
Na sede do partido, uma fonte próxima do secretário-geral comentava assim a estratégia de Costa para o dia de hoje: “Não são os generais que mandam”. Dito de outra forma: se Costa usa alguns históricos, o Rato vai pôr todo o aparelho a segurar o líder.