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O título desta newsletter foi inspirado numa das perguntas que colocámos ao cardiologista Filipe Macedo, coordenador do Programa Nacional para as Doenças Cérebro-Cardiovasculares (PNDCCV), na grande entrevista que fizemos ao médico. A resposta não tardou: “Faltam camas para AVC, faltam médicos, falta reabilitação cardíaca”. Numa conversa longa, na sede da Direção-Geral da Saúde, em Lisboa, o médico abordou o que tem melhorado na prevenção, gestão e tratamento das doenças cérebro-cardiovasculares (DCCV), mas também revelou as suas principais preocupações, desde logo, o facto de as pessoas se deslocarem pelos próprios meios perante alguns sintomas de enfarte agudo do miocárdio e de AVC em vez de contactarem o 112, como temos alertado em algumas reportagens desde março deste ano. É que este gesto é a diferença entre ser rapidamente socorrido, não ter de passar pela triagem à chegada ao hospital e ter uma equipa e meios devidamente preparados para tratar estas doenças. |
Apesar de defender que Portugal responde bem a tratar as situações agudas, o cardiologista afirmou que a aposta não é semelhante ao nível da reabilitação cardíaca. “É fundamental, senão obrigatório, que as administrações hospitalares e as direções dos serviços de cardiologia estejam empenhadas nesta questão. Enquanto a tutela ou a Ordem dos Médicos não derem instruções para que os serviços de cardiologia tenham obrigatoriamente reabilitação cardíaca, não vamos melhorar nesta área.” |
Nesta entrevista falámos de outras doenças igualmente graves e que, apesar de não liderarem os números da mortalidade, têm um grande impacto no cenário global. É o caso da insuficiência cardíaca. “Ficámos alarmados com o elevado número de doentes que encontrámos com insuficiência cardíaca. Segundo o estudo PORTHOS [uma iniciativa da Sociedade Portuguesa de Cardiologia e da Astrazeneca], mais de 700 mil portugueses vivem com esta doença, o que é, de facto, um número demasiado alto. Outro aspeto a assinalar é que há uma percentagem elevada de doentes que não têm noção que têm insuficiência cardíaca”, disse Filipe Macedo. |
E esta constatação remete-nos para a importância da prevenção (ter estilos de vida saudáveis, como uma alimentação equilibrada, a prática de exercício físico, não fumar e não beber álcool), mas também para o diagnóstico precoce de doenças e a devida vigilância e controlo. “É preciso tratar mais precocemente estes doentes para não evoluírem para uma situação catastrófica, porque já se morre mais de insuficiência cardíaca do que devido a algumas neoplasias (cancros).” |
… Faço aqui uma pausa – antes de voltar à entrevista ao coordenador do PNDCCV – para sugerir o Explicador que preparámos para si sobre insuficiência cardíaca, essa doença silenciosa que é desconhecida de 90% de portugueses. |
No que respeita ao acesso a cuidados para tratamento das DCCV, existem desigualdades entre as diferentes zonas do País, mas Filipe Macedo destacou a abertura, no espaço de ano e meio, de “uma sala de hemodinâmica [onde se faz o diagnóstico e tratamento de doenças cérebro-cardiovasculares, através de procedimentos como o cateterismo, em caso de enfarte] no Serviço de Cardiologia do Hospital da Covilhã, situação que já se arrastava há 12 anos, onde já se fizeram cerca de 500 cateterismos desde fevereiro deste ano. Foi ainda possível abrir mais duas salas de hemodinâmica, uma em Aveiro e outra em Guimarães”. Com esta mudança, as pessoas da região já conseguem ser tratadas atempadamente. |
Sobre o Plano de Emergência para a Saúde, apresentado pelo governo em maio, o coordenador do PNDCCV lamenta que os cardiologistas e a coordenação do PNDCCV não tenham sido ouvidos e reforçou “não entender porque não foi dada prioridade a estas patologias [cérebro-cardiovasculares] neste Plano”. Recorde-se que o mesmo decidiu priorizar a oncologia, a saúde mental e a obstetrícia. |
Mariana Cardoso, 31 anos, foi a protagonista mais recente da rubrica “Quando a minha vida mudou” e teve um AVC, grávida de cinco meses. Relata que sempre “fez tudo bem”, ao ser muito atenta a questões de saúde, e que se questionou porque é que este episódio lhe aconteceu… A professora de clarinete explica ainda o medo que tem de voltar a engravidar e de passar por uma situação semelhante. A entrevista é da jornalista Sofia Teixeira e o vídeo de Nuno Neves e Kimmy Simões. Vale a pena ver este episódio. |
Existem outras doenças cérebro-cardiovasculares igualmente impactantes como as que constituem a principal causa de morte e de incapacidade prematura em Portugal – como o enfarte e o AVC – mas que não são tão conhecidas ou faladas. É o caso do aneurisma da aorta abdominal, uma doença grave e potencialmente fatal, que pode ser prevenida através do diagnóstico precoce (mediante a realização de uma ecografia), mas que ainda não tem o mesmo foco de outras doenças. Foi este o mote para uma conversa no programa Consulta Informal [disponível em vídeo e em podcast] com o cirurgião vascular Ricardo Castro Ferreira e o conhecido apresentador de televisão Júlio Isidro que descobriu ao acaso que vivia com este problema. Como ele, estima-se que mais de 25 mil pessoas em Portugal desconheçam que têm esta doença. |
Depois de uma ida à urgência devido a uma cólica renal, Júlio Isidro foi submetido a uma TAC (Tomografia Axial Computorizada) que trazia a notícia inesperada: tinha um aneurisma da aorta abdominal. Apesar do diagnóstico, esperou quatro anos até ser submetido a uma cirurgia que permite prevenir o grave desfecho e aconselha os leitores a não seguirem o seu exemplo. |
Não quero terminar esta newsletter sem destacar um projeto do Hospital de Santa Cruz e da Faculdade de Motricidade Humana que ajuda à reabilitação de crianças, adolescentes e jovens adultos com doenças cardíacas graves. A reportagem da jornalista Carla Mateus e do fotojornalista Diogo Ventura dá-nos a conhecer os bastidores do HERO – Programa de Reabilitação Cardíaca Pediátrica, nascido em novembro de 2022 e que já apoiou mais de quarenta pacientes, junta profissionais de várias áreas e pretende melhorar a capacidade física adequando os exercícios aos limites de cada um. O cardiologista pediátrico e coordenador do HERO João Pedro Rato lamenta que o SNS esteja “assoberbado com os desafios das doenças que precisam de respostas imediatas, o que torna muito difícil implementar projetos desta natureza” e denota que os participantes têm vindo a melhorar a sua aptidão física. |
Sabia que Portugal é o país da União Europeia com piores resultados relativos à prática de atividade física? O Observador noticiou, em fevereiro de 2023, o relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) e da Organização Mundial de Saúde (OMS), que conclui que, “45% dos adultos portugueses fazem menos de 150 minutos de atividade física por semana”. |
Se está de férias, descanse a mente, mas mantenha o corpo ativo. Deixo-lhe algumas sugestões gratuitas de prática de atividade física na agenda que integra esta newsletter, mas pode aproveitar o bom tempo para manter algumas rotinas de exercício físico. Na praia, na piscina, no campo, o que interessa é mexer-se e apostar na sua saúde. Pode também aproveitar para aceder aos nossos conteúdos mais recentes. Se, entretanto, já voltou de férias, desejo-lhe um bom regresso ao trabalho. |