Se ler esta newsletter à hora em que ela vai entrar na sua caixa de correio, possivelmente já terá o seu filho ou filha a dormir. Crianças e adolescentes em idade escolar devem dormir muitas horas para garantir o melhor funcionamento possível do cérebro — e dos músculos do corpo. |
Se ler esta newsletter quando o telemóvel apitar com um sinal de e-mail novo, talvez tenha a vontade de carregar no botão de pausa do comando da TV para tentar perceber que conversa é essa que não teve com o rapaz ou rapariga aí em casa. |
Se ler esta newsletter antes de se deitar, talvez fique a pensar que amanhã é um dia tão bom com outro para ter “aquela” conversa. Ou, então, talvez fique satisfeito(a) por pensar que a conversa existiu e que agora entra noutra fase. Mas que o primeiro passo está dado. |
O período da noite, antes do sono reparador, é defendido por muitos psicólogos como a altura em que NÃO deve haver conversas sérias e densas, porque podem provocar ansiedade e prejudicar o descanso. Mas, dê lá por onde der, é também o momento escolhido — ou o momento possível — por muitas famílias para aquela reflexão mais íntima sobre a forma como correu o dia, o que pode ser evitado para a jornada seguinte, o que se pode repetir, as lições que se tiraram ou as correções a fazer. |
Só agora, a esta hora — e fazendo mais uma vez fé na hora a que vai receber estas linhas — é que há finalmente tempo para uma conversa olhos nos olhos. Sobre o que está a correr bem, o que está a correr mal, porque houve uma queixa de um professor ou porque há razões para alarme. |
Vem isto a propósito da entrevista da psicóloga Raquel Raimundo no podcast Sair do Labirinto. Ao contrário do que é habitual nestas conversas, que se debruçam sobre diagnósticos e a forma de os enfrentar, esta entrevista com a psicóloga escolar foi sobre a importância dos psicólogos nas escolas. Como são, tantas vezes, a primeira linha de contacto com um desafio de saúde mental por parte de um aluno. |
A ansiedade, o défice de atenção. os comportamentos desajustados na sala de aula, a disgrafia ou a dislexia estão entre os principais diagnósticos com que estes profissionais se deparam e, não raras vezes, implicam uma intervenção com a família do estudante. Esse é, aliás, um ponto essencial do trabalho dos psicólogos em ambiente escolar. São eles que, depois de um primeiro contacto por parte de um professor ou um funcionário, começam por tentar entender o que poderá estar a inquietar aquela criança ou adolescente. E, depois disso, é sobre eles que recai a responsabilidade de juntar a comunidade escolar – família envolvida – para ajudar o aluno. |
Com a constante falta de psicólogos no Serviço Nacional de Saúde, os psicólogos nas escolas acabam muitas vezes por ter de dar início a um processo de psicoterapia regular com os alunos – o que não é nem adequado quanto ao local ou contexto nem ideal quanto à situação. Mas para muitas crianças e adolescentes nas escolas portuguesas, esse é infelizmente o único contacto que podem ter para uma intervenção rápida que lhes diminua o sofrimento e a angústia. |
Isso e, claro, a conversa. Aquela conversa com os pais – depois de estes falarem com o psicólogo ou tentarem obter a opinião do profissional – sobre as razões de tamanha inquietação. |
Seja à noite ou noutro período tranquilo, vale mesmo a pena não deixar de criar oportunidade para um diálogo desses. Em caso de dúvida, pergunte ao psicólogo da escola como pode fazer. |
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