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Do que falamos quando falamos de queijo fatiado? |
O queijo é um produto tradicional português. Temos queijos de grande qualidade e variadas origens animais, como ovelha, cabra ou mistura, mas o de vaca representa quase um quarto da produção nacional. |
Em Portugal, na década de 1990, foram implementadas certificações de
Denominação de Origem Protegida (DOP) e Indicação Geográfica Protegida (IGP) de forma a valorizar alguns queijos, identificando a zona de produção e transformação, assim como a qualidade inerente. E, desta forma, são já 14 os queijos tradicionais qualificados portugueses. |
O consumo anual de queijo em Portugal era de 13,7 kg per capita em 2021, o que está abaixo da média Europeia (17-18kg) e bastante inferior dos valores de França e Itália, que rondam os vinte quilos por habitante. |
No ano passado a empresa de estudos de mercado Multidados fez um estudo sobre o consumo de queijo entre os portugueses no verão de 2022 e concluiu que o fatiado é o mais consumido (70%), seguindo-se o queijo em formato de bola (20%) e as unidoses (10%). Questionados sobre os principais motivos para a escolha dos queijos fatiados, a maior parte dos inquiridos alegou a facilidade de transporte (48%) e a necessidade de realizar várias refeições ao dia (28%). |
Mas, embora o consumo seja elevado, será que os compradores sabem que os queijos fatiados não são todos iguais? Podem ser classificados de acordo com diversas categorias: |
- pelo tipo de leite;
- pelo tempo e tipo de cura (queijo fresco, curado ou curado pela ação de bolores);
- pela textura (extraduros , duros, semiduro, semimole e mole);
- pela percentagem de matéria gorda (muito gordos, com mais de 60%, gordo, com 43 a 60%, meio gordo, com 25 a 45%, pouco gordo, com 10 a 25% e magros, com menos de 10%);
- pela composição: com ou sem adição de outros alimentos (ex. oleoginosas).
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Há várias variedades de queijos fatiados habituamente à venda nos supermercados portugueses: |
- Gouda
- Edam
- Emmental
- Ilha (apesar de meio-gordo tem cerca de 30% de gordura)
- Mozarela (feito com leite de vaca, tem apenas cerca de 20% de gordura)
- Cheddar (tem corantes, pelo que não será a escolha mais saudável, exceto se estes forem naturais, à base de especiarias)
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E, claro, o flamengo — que, de acordo com o referido estudo, foi o queijo mais consumido pelos portugueses. É considerado curado e semiduro, mas não é fácil de categorizar quanto à gordura. Existe muita oferta de queijos flamengos no mercado e a grande maioria ronda os 30% de gordura (meio gordo), tal como os três primeiros da lista em cima. Apenas os flamengos light ou com menos de 50% gordura são flamengos pouco gordos e têm valores de gordura entre 13% e 18%. |
O facto de o flamengo ser um queijo curado melhora a sua qualidade nutricionial, uma vez que há concentração do conteúdo em vitaminas do complexo B, assim como de minerais como fósforo e cálcio. Este processo de fabrico também digere parcialmente a lactose, fazendo com que o produto final tenha muito pouca lactose, muitas vezes tolerável, ao contrário do que acontece com os queijos frescos, que terão menos conteúdo em cálcio e maior em lactose. |
Outro parâmetro a analisar nos queijos curados é o conteúdo em sal, uma vez que tem tendência para ter elevado. Como a Organização Mundial de Saúde sugere que o consumo diário de sal não exceda as cinco gramas, deveríamos limitar o conteúdo diário de queijo. Na tabela nutricional que todos os produtos embalados apresentam surgem sempre os valores por 100g. Ora, sabendo que cada fatia tem cerca de 20g, o conteúdo em sal por fatia é calculado num quinto do valor apresentado. |
Quais são então as melhor recomendação para o consumo de queijo fatiado? |
- Escolha os que têm menos gordura (na tabela nutricional esta informação surge como “lípidos”, como mozarela, edam, emmental e alguns flamengos;
- Escolha os que são pouco salgados, verificando o conteúdo em sal na tabela nutricional;
- Leia a lista de ingrediente para dar preferência aos que têm apenas leite, fermento lácteo, coalho e sal, evitando os que têm conservantes;
- Varie com queijos DOP ou feitos com leite biológico, que provavelmente não encontra fatiado;
- Não compre sempre o mesmo tipo de queijo e tente variar para que sejam de leite de animais diferentes, como cabra e ovelha ou mistura, uma vez que têm nutrientes diferentes e complementam-se.
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Verdadeiro ou falso? O Gaspacho é uma boa sopa |
Verdadeiro, o gaspacho é uma excelente sopa de legumes, mesmo quando a compramos já feita. Quando olhamos para a lista de ingredientes apenas vemos alimentos saudáveis, esse deve ser o critério para avaliação do produto alimentar. No gaspacho já pronto encontramos tomate, pimento, pepino, cebola, alho, azeite, vinagre e sumo de limão. Pode ser uma excelente sopa para iniciar a refeição principal, mas também como lanche. |
Uma pergunta frequente nas consultas: devo evitar a carne de porco se quero emagrecer? |
Não. A carne do porco tem zonas consideradas magras – como o lombo grande –, zonas muito gordas – como as bochechas, secretos e plumas – e zonas com uma quantidade de gordura média. Assim sendo, não faz sentido categorizar a carne de porco como um alimento que engorde. Até porque se pode emagrecer com diferentes estratégias nutricionais, como um plano alimentar cetogénico que tem bastante gordura e uma quantidade baixa em hidratos de carbono (e aí a carne de porco com gordura média ou elevada tem o seu papel), assim como com um plano em que há restrição da gordura e onde o lombo grande do porco faz sentido. Será muito mais importante tem em atenção critérios como o corte da carne ou a origem do animal (ex.: animais portugueses que tenham uma alimentação mais cuidada, maioritariamente de bolotas). |
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Tim Spector é professor de epidemiologia genética no King’s Collage de Londres e tem vários livros sobre alimentação. É especialista em microbiota (intestino) e acredita que a nutrição tem de fazer parte da estratégia da nossa saúde. Entre os seus livros conta já com dois best sellers e nesta entrevista aborda a mudança da sua perspetiva sobre cinco alimentos que afinal não seriam assim tão saudáveis como ele próprio achava há cinco anos, quando escreveu o primeiro livro, Diet Myth. Agora com todo o processo de pesquisa e estudo para escrever Food for Life, conta-nos a sua opinião sobre esses cinco alimentos, onde não poderia faltar o pão, mas neste caso o pão escuro. |
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Mariana Chaves é nutricionista clínica, autora do podcast Aprender a Comer, na Rádio Observador, e do livro Dieta Única (ed. Guerra e Paz, 2016) [ver o perfil completo]. |