O primeiro-ministro considerou que “é preciso muito má-fé” para transformar num insulto o agradecimento que fez aos profissionais de saúde que permitiram que Portugal fosse referenciado como seguro e escolhido para a fase final da Liga dos Campeões. À chegada para o concerto de Rita Redshoes, no Teatro São Luiz, em Lisboa, inserido no festival solidário Regresso ao Futuro, António Costa foi questionado sobre algumas críticas em relação às suas palavras de que a fase final da Liga dos Campeões em Lisboa “é também um prémio merecido aos profissionais de saúde”.
“É preciso muito má-fé para transformar um agradecimento aos portugueses e designadamente aos profissionais de saúde que tornaram possível controlar a pandemia, e por isso sermos referidos e referenciados como um país seguro, num insulto aos profissionais de saúde”, respondeu. Na perspetiva do primeiro-ministro, “é preciso muito má-fé” para distorcer “de tal forma” as suas palavras. “Acho que toda a gente de boa-fé percebeu. O senhor Presidente da República percebeu muitíssimo bem. Foi um agradecimento, nunca foi insulto”, reiterou.
Na sexta-feira à noite, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, garantiu que é Portugal quem irá decidir sobre a presença de público na fase final da Liga dos Campeões, e insistiu na importância de Lisboa receber esta competição. Questionado se compreende as críticas à cerimónia de quarta-feira, quando foi anunciado que a fase final da ‘Champions’ seria em Portugal, em que discursaram também os presidentes da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes, da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, e o primeiro-ministro, António Costa, o chefe de Estado respondeu: “Francamente, não percebo”.
“As pessoas têm de perceber o seguinte: nós estamos a fazer o que podemos pela economia portuguesa”, prosseguiu, argumentando que esta competição permitirá “encher não sei quantos hotéis de Lisboa”, mesmo “só com as comitivas das equipas, sem público”, e representará “uma promoção a milhões e milhões e milhões de espectadores, potenciais turistas de todo o mundo, num momento em que isso é disputado por toda a gente, o que a senhora Merkel [chanceler da Alemanha9 gostaria de ter, o que os governantes espanhóis gostariam de ter”.
Marcelo Rebelo de Sousa foi também interrogado sobre a afirmação do primeiro-ministro nessa cerimónia, de que a fase final da Liga dos Campeões em Lisboa “é também um prémio merecido aos profissionais de saúde”, que demonstraram que Portugal tem um Serviço Nacional de Saúde (SNS) “robusto para responder a qualquer eventualidade”. “Eu entendi assim: que não era possível obter isto, que começou a ser disputado em março e abril, e continuou em maio e junho, se não tem havido – e continua a haver, e continuará a haver – uma realidade fundamental, que é que são os profissionais de saúde que têm aguentado em primeira linha o combate à pandemia”, disse o Presidente.
A UEFA, união das federações europeias de futebol, anunciou na quarta-feira que a fase final da Liga dos Campeões 2019/2020 se irá realizar em Lisboa, com quartos de final, meias-finais e final disputados entre 12 e 23 de agosto, nos estádios José Alvalade e da Luz, em eliminatórias de um só jogo. A edição 2019/2020 da Liga dos Campeões foi interrompida em março devido à pandemia de covid-19. A final estava inicialmente prevista para maio, em Istambul, na Turquia.
Se for preciso, Governo dará passo atrás no desconfinamento
António Costa garantiu também que, se for preciso dar passos atrás no desconfinamento, o fará, mas prefere controlar a situação, considerando que a melhor forma de solidariedade e de retoma é todos cumprirem as regras.
“Se for necessário dar, daremos os passos atrás que forem necessários dar. Agora eu acho que o que temos que ver é como é que podemos evitar os passos atrás, controlando a situação”, afirmou. Na perspetiva do primeiro-ministro, “a melhor forma de sermos solidários é todos cumprirmos as regras”, sendo essa a melhor maneira de se “retomar a atividade”.
“Se todos cumprirmos as regras, nós podemos ir recuperando a nossa liberdade e esse é o percurso que nós temos que seguir porque não é só a perda da liberdade, é a perda da liberdade, é a destruição de rendimentos, de empregos, de atividades”, avisou.
António Costa apontou que as pessoas se podem sentir seguras “em qualquer sítio desde que as regras sejam cumpridas”. “Havia uma coisa que todos sabíamos: se aumentássemos o desconfinamento, o risco de contágio aumentaria. Aquilo que nós temos vindo a verificar é que a taxa de contágio têm-se mantido essencialmente estável”, referiu.
Aquilo que acontece, segundo o chefe do executivo, é “um crescimento muito localizado à volta da cidade de Lisboa e em alguns concelhos e em algumas freguesias desses concelhos”, ou seja, “focos bastante localizados”.
“Festas como a de Lagos, falta de cuidado como aconteceu naquele lar, ajuntamentos como ontem [sexta-feira] aconteceram na praia de Carcavelos ou nas docas em Lisboa, isso são obviamente comportamentos que se podem dar mau resultado”, avisou.
Como o “vírus vai continuar a andar por aí e por aí andará até haver vacina”, António Costa foi perentório: “ou ficamos fechados em casa ou, para sairmos, temos que cumprir as regras”.
Portugal contabiliza até agora pelo menos 1.528 mortos (mais um do que na sexta-feira) associados à covid-19, bem como 38.841 casos confirmados de infeção (mais 377), segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).
Lisboa e Vale do Tejo (LVT) registou 74,8% dos novos casos de covid-19, concentrando 282 das 377 novas infeções divulgados no sábado.