O resultado que a AD alcançou nas regionais de dia 4 de fevereiro nos Açores, roubando o pódio ao PS, abriu claramente a porta à possibilidade de o mesmo acontecer nas legislativas de 10 de março.
A mensagem dos eleitores açorianos de centro-direita não pode ter sido mais clara: reconheceram que, ao reduzir substancialmente as taxas dos principais impostos, devolvendo aos contribuintes a liberdade de decidirem sobre o que fazer com o dinheiro que deixaram de entregar à administração regional, o governo da AD formado em dezembro de 2020 foi de encontro às suas expectativas.
Contudo, ao dividirem equitativamente os novos votos dados à AD, por um lado, e ao CHEGA, por outro lado, os eleitores açorianos de centro-direita significaram igualmente que não desvalorizam todos os temas da agenda deste partido, embora rejeitem a repetição do acordo parlamentar de confiança e apoio, que ele foi incapaz de cumprir.
Ou seja, os eleitores açorianos de centro-direita querem que a AD aprofunde as reformas liberalizadoras que começou e que as alargue a outros domínios, sem prejuízo no entanto da opção preferencial pelos mais pobres, trave-mestra do legado conceptual de inspiração cristã comum aos três partidos fundadores.
A eleição da AD como principal força política na Região Autónoma dos Açores, poderá também ter dado que pensar a muitos dos eleitores de centro-direita que passaram a abster-se nas legislativas desde que foi inopinadamente transferida para a consciência privada dos deputados eleitos a responsabilidade pelo sentido do voto nas leis que têm vindo a impor a chamada agenda cultural da esquerda.
Sem que, em contrapartida, se realizassem referendos nacionais para que os eleitores também se pudessem pronunciar segundo as suas consciências privadas acerca de matérias relacionadas com a proteção de direitos humanos fundamentais, como o direito à vida ou o direito à liberdade religiosa e de consciência, que são anteriores ao próprio Estado.
Por grande que seja o ânimo que sentiram com a vitória da AD nos Açores, será no entanto difícil a esses eleitores saírem de casa em força no dia 10 de março se, aos compromissos programáticos já assumidos pela AD em matérias económicas, não forem adicionados compromissos em matérias cujos regimes jurídicos deviam relevar diretamente da esfera da autonomia das famílias, dos municípios e da nação.
Entre os primeiros teria grande impacto que a AD se vinculasse à realização de um referendo sobre a eutanásia e o suicídio assistido e de outro sobre a obrigatoriedade do ensino a menores da chamada auto-determinação de género.
Entre os segundos seria altamente motivador que a AD se vinculasse a desviar para os 20 distritos o rumo da descentralização em curso, pondo cobro ao desvirtuamento da identidade plurissecular dos 308 municípios subsistentes, que inevitavelmente resultará da sua cooptação pela administração central.
E entre os últimos seria mais que devido e premente que a AD se comprometesse a entregar a gestão das reservas patrimoniais nacionais, a ecológica e a agrícola, a entidades públicas independentes, com autonomia suficiente para se financiarem diretamente quer junto dos que operam no interior dos respetivos perímetros quer junto dos fundos estruturais europeus, a fim de as emancipar dos interesses organizados que foram responsáveis por sucessivas levas de legislação assassina.
Também seria altamente significativo da prioridade que é devida às famílias que compõem o todo nacional que a AD prometesse dividir em partes iguais a matéria coletável em sede de imposto sobre os rendimentos, entre todos os que coabitam em cada fogo, não só a mãe e o pai como os ascendentes e os descendentes deles dependentes.
O programa da AD não devia, por fim, ser omisso sobre a necessidade imperiosa de acelerar o reforço em meios humanos e materiais quer da Defesa Nacional quer da Ação Externa do Estado quando se multiplicam as ameaças à paz e à segurança internacional e crescem as pressões centrífugas na UE, na OTAN e na ONU.
Para votarem na AD, os eleitores de centro-direita que se têm vindo a abster nas legislativas, ou até a votar nos partidos novos que concorrem nessa área desde 2019, não precisam de muitas medidas, precisam de alguns compromissos muito claros e incisivos, como os que já foram feitos em matéria de economia e os que ainda falta fazer em matéria de valores.