A convicção de que as coisas boas são muito mais fáceis de destruir que de criar é o princípio fundador de um conservador. É a expressão política desse princípio, num país desgastado pelo círculo vicioso da criação e da destruição que nos remete ao beco da estagnação, que terá necessariamente de nascer.

A luta contra o circunstancialismo do “politicamente correcto”; a defesa de valores tradicionais que compõem a identidade nacional e que respeitam a linha do tempo que a sustém, a oposição ao radicalismo religioso, em particular aquele que nos ameaça enquanto produto de uma certa civilização; a aproximação ao liberalismo clássico (e não neo-liberalismo), em nome da defesa da soberania individual e de uma sociedade civil autónoma e liberta das clientelas políticas do Estado; a promoção de uma sociedade composta por indivíduos livres mas responsáveis, competindo ao Estado unicamente assegurar que a liberdade individual funciona a favor do conjunto da comunidade; a oposição à prática socialista de Estado “garrote” da economia e a defesa da iniciativa privada e do Estado mínimo; a assumpção de que o ser humano coopera mas também compete entre si, devendo o Estado exercer poderes de regulação sobre essa competição mas rejeitando o paternalismo do Estado; a defesa da absoluta separação dos poderes e a eliminação de qualquer tipo de promiscuidade entre o poder executivo, legislativo e judicial; ou a resistência ao experimentalismo social dos movimentos do socialismo e da social-democracia mas também ao primado das desregulação dos chamados “neo-liberais” são princípios doutrinários de um movimento político ainda ausente em Portugal.

A dicotomia esquerda-direita serve aos analistas e comentadores mas pouco mais traduz que princípios programáticos marcados pelo tacticismo dos calendários eleitorais. A verdadeira alternativa está entre o socialismo/social-democracia e o conservadorismo e é aqui que as verdadeiras escolhas políticas se deveriam situar.

O movimento conservador combate a esquerda e a extrema-esquerda mas contém em si mesmo uma concepção da sociedade, da política e da economia que não encontra eco nos ditos partidos de direita como PSD ou CDS-PP. A resposta não está igualmente no Aliança que se revelou, talvez previsivelmente, uma oportunidade perdida para preencher um espaço vazio e ainda por mobilizar, e muito menos nos partidos orgulhosamente enquistados nas franjas do sistema, sejam estes comunistas, anarquistas, “nacionalistas” ou movimento plásticos que outra coisa não são que projectos pessoais de dissidentes ou de desistentes do centro político.

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Os princípios basilares de um movimento político conservador não caem apenas no plano da filosofia política mas são em si mesmo uma emergência programática de médio prazo, livre do oportunismo dos calendários eleitorais.

A redução do Estado a funções de soberania e de regulação é condição essencial para credibilizar e, quem sabe, salvar o sistema democrático em vigor – a famosa “crise do regime”. A minimização do Estado e das suas funções significa limitar a capacidade de manobra e de intervenção da classe política, com todos os benefícios que daí advêm, ou seja, tudo o contrário ao penoso quotidiano dos casos de corrupção, gestão fraudulenta e negligente, promiscuidade público-privada, opacidade na gestão pública, desperdícios, demagogia e um sem número de efeitos devastadores e explicativos de uma abstenção e votos brancos e nulos que superaram nas últimas eleições europeias os 70%, quase sete vezes a percentagem eleitoral global do partido mais votado e dez vezes a percentagem do segundo maior partido.

A dita “federação” ou unificação das “direitas”, plasmada num movimento que pecou por quase tudo, acrescenta muito pouco ao espaço político e não cria qualquer alternativa se não no plano táctico e da engenharia partidária. O risco é a criação de uma “sopa” indefinida, um melting-pot de direita, de cariz frentista e retalhado por objectivos e doutrinas díspares, com resultados tão penosos quanto os obtidos pela “sopa” do centro ou dos chamados acordos de regime. O frentismo existe apenas para servir eleições e raramente serve gerações.

A emergência de um partido conservador poder-se-ia revelar na verdadeira e única alternativa, não aos socialistas ou aos sociais-democratas mas ao estado de bloqueio ideológico e de renovada funcionalização do Estado, marcando a diferença a Governos sem visão, orientados pelo vazio do tacticismo programático, maçador e desmotivante que, todos sabemos, tem sempre, pela natureza das coisas, um tempo de vigência previamente definido para não durar.