Neste momento, o Irão deve ter material físsil suficiente para construir entre 8 a 10 ogivas nucleares e, como demonstram os vários ataques por mísseis a Israel e o desenvolvimento do programa espacial iraniano que lançou o seu segundo satélite (o Chamran-1) será em breve uma potência nuclear com capacidade para colocar uma ogiva em qualquer ponto do globo.
Embora o Chamran-1 tenha apenas 60 Kg, o regime iraniano reavivou recentemente o programa espacial tripulado com o objectivo de colocar um astronauta no espaço num veículo de lançamento próprio até 2029. Isto significa que o Irão está a desenvolver um lançador pesado capaz de lançar em órbita pelo menos uma tonelada de carga útil e que, como uma ogiva nuclear moderna pesa entre 200 kg e 1.000 kg (dependendo do design),isto significa que o Irão está a menos de dez anos de ter capacidade para provocar uma detonação nuclear em qualquer local do planeta.
A Coreia do Norte, com o desenvolvimento paralelo do seu programa de mísseis (que recentemente sofreu um grande incremento graças à cedência de tecnologia de foguetões e satélites russa) é hoje em dia capaz de colocar uma ogiva nuclear em qualquer lugar do mundo, como demonstrou o teste realizado em 31.10.2024 em que uma versão “melhorada” do seu ICBM Hwasong-19 voou durante 1001 Km a uma altitude nunca antes alcançada durante um período de tempo inédito até ser, finalmente, auto-destruído.
Actualmente existem nove países reconhecidos como possuindo armas nucleares: EUA, Rússia, China, França, Reino Unido, Paquistão, Índia e Coreia de Norte. Israel nunca o admitiu, mas é tido como certo que terá entre 80 a 400 armas nucleares. O país também tem mísseis Jericho II e II com capacidade para atingir qualquer país do Médio Oriente e com capacidade nuclear. Os seus submarinos Dolphin estão equipados com mísseis com 1500 km de alcance armados com uma ogiva de 200 quilotoneladas, dando assim ao país hebreu a capacidade para reagir mesmo no caso de que um ataque nuclear massivo que destrua todas as cidades e centros de comando israelitas.
Para além destas nove potências nucleares, há vários países que ou estão muito avançados no seu desenvolvimento ou estão prestes a construir a primeira arma nuclear. É o caso do Irão, país que possui um programa nuclear avançado e uma infraestrutura de enriquecimento de urânio significativa. Apesar de ser signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), o Irão enfrenta há muito cusações de procurar desenvolver armas nucleares. O acordo nuclear de 2015 (JCPOA) limitou as suas actividades nucleares, mas o país retomou o programa depois do colapso do acordo em 2018. Há indícios de que poderia construir até 3 bombas nucleares num prazo relativamente curto se assim o desejasse fazer. Outros países, como a Coreia do Sul, o Japão, a Arábia Saudita, a Turquia, o Egipto, o Brasil e até Myanmar e a Argélia têm um nível relativamente avançado de tecnologia nuclear e se quisessem desenvolver esse tipo de armamento poderiam fazê-lo com facilidade e num prazo relativamente curto.
O aumento do grau de alerta nuclear decorrente das ameaças russas (13 ao momento em que escrevemos estas linhas), a aparição de novas potências nucleares – mais imprevisíveis – faz aumentar a probabilidade de um conflito nuclear de escala limitada (entre dois países, afectando uma determinada linha de frente ou um número limitado de cidades/capitais) e deveria fazer disparar os alertas em todas as capitais dos países da NATO e, em particular, em Portugal. Contudo, para além de palavras, pouco mais se vê.
Portugal estima gastar cerca de 3,065 mil milhões de euros em Defesa em 2025, um aumento de 5,38% em relação a 2024. Mas é preciso ter em conta que o nível de cativações mais alto de sempre está longe de ser garantido. A maioria desta despesa será consumida em custos operacionais e manutenção de infraestruturas. Uma parte será gasta na modernização das capacidades militares e dentro do programa de investimento previsto, há aquisições importantes, como novos navios de patrulha oceânica e helicópteros, além de melhorias no arsenal terrestre.
No que concerne ao aumento do nível de ameaça nuclear e quanto aos sistemas de defesa antiaérea, Portugal está ainda muito atrasado e 2025 não trará nenhuma melhoria significativa. O governo anunciou a compra de equipamentos antiaéreos, incluindo sistemas de mísseis, radares e viaturas táticas, num investimento de até 32 milhões de euros, mas com execução até 2026 e que se concentram na protecção de forças militares e alguns (poucos) pontos estratégicos, colmatando lacunas na defesa aérea de baixa e muito baixa altitude que visa reforçar as 40 unidades Stinger em serviço desde 1994. De sublinhar que estes mísseis são apenas adequados para defesa de curto alcance.
Em 2025/2026 serão adquiridos mais meios de defesa aérea:
– Oito terminais de comando para coordenar operações antiaéreas.
– Dois sistemas de radar destinados a detecção e vigilância.
– Mais oito unidades para defesa de baixa e muito baixa altitude em oito veículos para transporte e suporte logístico dos sistemas de mísseis RapidRanger.
Existe um plano, admitido pelo Chefe do Estado-Maior do Exército, em outubro de 2024, para incorporar defesas de médio alcance na Lei de Programação Militar. Mas não existe orçamento, nem compromisso formal e, sobretudo, não existe nenhuma ambição de aquisição de sistemas de maior alcance como o PAC-3 (Patriot Advanced Capability-3). O preço de cada bateria PAC-3 pode ser estimado entre 1 e 2 mil milhões de dólares, dependendo das especificações e do suporte logístico envolvido. Sistemas europeus equivalentes, como o SAMP/T (fabricado por MBDA), também podem custar valores semelhantes. A Polónia adquiriu recentemente sistemas SAMP/T por aproximadamente 1,5 mil milhões de dólares por bateria, incluindo radares e mísseis Aster-30. Portugal deveria ter, pelo menos, uma bateria deste tipo PAC-3 ou SAMP/T em Lisboa para defesa da capital e das várias instituições do Estado que aqui estão concentradas.
Actualmente, Portugal gasta cerca de 1,66% do seu Produto Interno Bruto em Defesa, de acordo com dados recentes do governo e da NATO. Este valor está abaixo da meta de 2% acordada pelos países da NATO, objectivo que o país espera atingir apenas no final da década um plano que o projecto isolacionista trumpiano deveria fazer acelerar… assim houvesse visão e capacidade de adaptação ao novo nível de ameaça.
Paralelamente a este reforço da Defesa Aérea é preciso adquirir a consciencialização de que a ameaça da guerra nuclear é não só eminente mas também transcendente: Pode acontecer a qualquer instante mas a sua impossibilidade de rebentar em qualquer altura previsível significa que se teria de viver com ela durante, pelo menos, um século ou mais. É assim imprescindível que – pelo menos – em todas as novas construções, sejam elas de edifícios públicos ou privados, e especialmente escolas, esquadras de bombeiros ou de forças de segurança incluam algum tipo de abrigo subterrâneo com a obrigação de aqui manter um stock mínimo de equipamentos e material de sobrevivência. Também neste domínio nada parece estar a ser feito ou antecipado.
Em resumo, a evolução da ameaça nuclear global e o avanço das capacidades balísticas e nucleares de países como o Irão e a Coreia do Norte exigem uma resposta estratégica robusta, especialmente por parte de membros da NATO como Portugal. No entanto, o actual nível de investimento em defesa, bem como os planos de modernização, são insuficientes para enfrentar adequadamente os desafios emergentes. A ausência de sistemas de defesa aérea de médio e longo alcance, como o PAC-3 ou o SAMP/T, ilustra bem a lacuna na protecção do território nacional e das nossas infraestruturas mais críticas.
Além disso, a falta de preparação para cenários de catástrofe nuclear, como abrigos em construções públicas e privadas, demonstra um preocupante desfasamento entre a gravidade da ameaça e as medidas adoptadas. Para mitigar esses riscos, Portugal precisa acelerar o cumprimento dos compromissos de investimento em defesa da NATO, reforçar a sua capacidade antiaérea e adoptar uma abordagem preventiva na protecção da nossa população. Apenas assim será possível garantir a segurança nacional num cenário geopolítico cada vez mais instável e imprevisível.