Ninguém tem dúvidas sobre a necessidade e modernidade das ciclovias, como instrumento essencial numa política de transição energética, e a capital do país deve ser um exemplo disso. Mas, como disse Carlos Moedas “a cidade apenas funciona se houver harmonia, a comunidade tem que estar acima de tudo”. Fernando Medina não deixou harmonia nesta área, e Carlos Moedas reconheceu-o ao afirmar: “Temos que redesenhar a rede de ciclovias. Queremos aumentar a circulação de bicicletas, mas de uma forma que seja segura e equilibrada”. Isto é, não basta redesenhar, é urgente regulamentar.

Foram roubados milhares de hectares ao espaço rodoviário, aos estacionamentos, aos passeios, aos espaços verdes e até aos cais para instalar ciclovias que, muitas vezes, morrem de tédio pela sua baixa utilização. Uma via em que passa um velocípede de 10 em 10 minutos (144/24h) não tem razão de existir. Têm que ser medidos os débitos das ciclovias e eliminar as de reduzida utilização. De assinalar também a obsessão de amuralhar algumas destas vias ou de protegê-las com pitons, que inundaram a cidade criando armadilhas para os incautos automobilistas.

Redesenhada a rede das ciclovias, temos que pensar na sua regulamentação. É óbvio que a introdução das bicicletas eléctricas foi um êxito. São levantadas num ponto e entregues em local apropriado, ficando arrumadas sem estorvar os transeuntes. Por outro lado os seus utilizadores cumprem habitualmente as regras do trânsito. Pelo contrário a introdução das trotinetes eléctricas foi um fiasco e trouxe a anarquia. As trotinetes são abandonadas na via pública, nos passeios, nos parques, na própria faixa rodoviária, e algumas já foram lançadas ao Tejo. Seria fácil pedir um depósito que seria devolvido no local de recolha, evitando o abandono na via pública. Os utilizadores das trotinetes não pagam impostos, ao contrário dos automobilistas cada vez mais sobrecarregados. Não têm seguro contra danos a terceiros e não cumprem as mais elementares regras de trânsito: não respeitam os semáforos, circulam em contramão, não só nas ciclovias como nas ruas e nos passeios onde avançam entre os peões. Por vezes são dois e mesmo três indivíduos no mesmo veículo e, com esta carga, a capacidade de travagem fica altamente comprometida!

Os automobilistas são descriminados em relação aos utilizadores das ciclovias. Nestas nunca há controlos para verificação de documentos ou de taxas de alcoolémia. Mas seria útil fazer esse controlo, às duas da manhã, nas ciclovias da 24 de Julho. Ou há a certeza oficial de que todos os seus utilizadores são abstémios?

Senhor Dr. Carlos Moedas: todos esperamos de si um excelente mandato e que traga harmonia à cidade. Mas guarde algumas moedinhas para nos livrar do sufoco das ciclovias amuralhadas, do excesso de pitons que invadiu Lisboa e da “anarquia trotinete” que impõe a sua lei!

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