Temos que deixar que baixe o ruído. Temos que deixar que passe o tempo e assente a poeira. Só então poderemos analisar as consequências desta pandemia, a curto, médio e longo prazo, nas suas múltiplas e complexas facetas: sanitária, económica, individual e social. Só então poderemos concluir se ela foi bem gerida, se havia alternativas, se o timing das acções e omissões foi o adequado. Com o tempo, os factos revelarão a sua verdade. Porque a verdade, como o azeite, vem sempre ao de cima.

Ainda assim, aqui fica um contributo para uma análise dos factos que hoje nos é dado conhecer, um entendimento possível de uma realidade, da qual, nesta altura, só conseguimos vislumbrar uma pequena parte.

A pandemia Covid 19 encheu os telejornais, de um modo obsessivo, nos últimos dois anos em Portugal. Como tem sido amplamente reconhecido, a gestão do processo foi mais política do que sanitária, com êxitos incontestáveis e falhas ou erros que podiam ter sido evitados, pelo que se esperava que tivesse um lugar central na campanha para as eleições legislativas. Mas, estranhamente, não se percebe a total ausência deste tema no debate eleitoral. Será por razões políticas, serão elas sanitárias ou porventura, como postulou o médico francês Didier Raoult, estarão envolvidos, na vivência da pandemia, factores de âmbito religioso?

A pandemia Covid 19 foi declarada em Março de 2020. Era uma doença totalmente desconhecida nas suas facetas de virulência e patogénese, para a qual não havia vacina ou tratamento. Surgiram comentadores, a encher os telejornais, que juntamente com os comunicados diários da DGS, com indicações muitas vezes contraditórias, contribuíram para um clima social de angústia e pânico com consequências graves para a saúde mental dos cidadãos. Houve pessoas em auto prisão domiciliária durante dois anos. Foi o doloroso tempo da solidão. Medidas para combater a transmissão do vírus foram instituídas, e bem, como a máscara, o distanciamento social e o confinamento. Já o clima de catástrofe e medo criado pela comunicação social e pelo governo foi desajustado e prejudicial.

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Entretanto a ciência tinha investigado os mecanismos pelos quais o vírus causava doença grave. Descobriu-se que ele se multiplicava nos primeiros 5 a 6 dias, e que em seguida ocorria uma resposta imunitária violenta, com produção massiva de factores de inflamação que, ao atacarem a parede dos alvéolos pulmonares, provocavam uma perturbação acentuada das trocas gasosas, com baixa grave dos níveis de oxigénio no sangue (=hipoxemia: em tempos de pandemia o oxímetro devia ter sido aconselhado como instrumento essencial de controle). No interior dos vasos a tempestade inflamatória podia provocar coágulos e trombos em órgãos importantes, como o cérebro, o coração ou o rim. Aos poucos estabeleceram-se protocolos mais eficazes para o tratamento hospitalar, com corticóides, anticoagulantes e técnicas de ventilação mecânica em unidades de cuidados intensivos. Verificou-se que a maioria dos doentes que faleciam eram obesos, diabéticos tipo 2, ou apresentavam outros factores de risco para doença cardiovascular, como hipertensão arterial ou colesterol elevado; a maioria dos casos graves tinha também um défice acentuado de vitamina D. Seria do mais elementar bom senso a DGS ter lançado programas bem estruturados de combate a estes factores de risco. Embora o Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável tenha elaborado e publicado em revista europeia a Estratégia Nacional de Nutrição e Alimentação no âmbito da pandemia, não houve qualquer divulgação alargada desta estratégia, e ela não teve impacto real no terreno. Pelo contrário devido aos condicionamentos da pandemia houve agravamento da obesidade que não foi quantificada. A DGS, não investiu no combate à obesidade, na recomendação de umas gotinhas diárias de vitamina D, de um suplemento de zinco e de Vitamina C ou de qualquer outra forma de “prevenção activa” da infecção pelo Covid 19. Também não foi estabelecido qualquer “tratamento pré-hospitalar”, na fase precoce de multiplicação do vírus, em que o tratamento das viroses é eficaz. Se o doente tinha um teste diagnóstico de PCR positivo, era mandado para casa com paracetamol, a aguardar a sua sorte. Não foram tidos em conta os bons resultados de eficácia obtidos por algumas equipas, que estudaram o reposicionamento de medicamentos já bem conhecidos e seguros, no tratamento precoce da infecção; são exemplo fármacos como a Hidroxicloroquina, isolada ou associada a um antibiótico, a Azitromicina. Os protocolos e os seus autores foram perseguidos e desacreditados. Nessa linha, foram também ignorados, mais tarde, os bons resultados obtidos com a Ivermectina no Japão, na América do Sul e em diversos estados da Índia. Estes métodos de tratamento precoce pré-hospitalar, que tinham dado bons resultados, foram ignorados e mesmo ostracizados na narrativa oficial, talvez para permitir uma autorização condicional das vacinas em desenvolvimento.

Quando em Dezembro de 2020, chegaram a Portugal as primeiras vacinas, tudo mudou. Realizadas sob pressão, em tempo limitado, não puderam ter os estudos de eficácia e segurança desejáveis. Numa situação em que não havia experiência nem conhecimento prévios, optou-se por uma estratégia única – a vacinação – esquecendo ou ignorando as estratégias referidas de profilaxia e tratamento pré-hospitalar. A “arte médica” tradicional sempre defendeu pelo contrário a pluralidade de abordagens e o confronto de soluções. Nesta pandemia, quem se afastasse ou emitisse uma opinião não enquadrada na verdade oficial, era de imediato rotulado de traidor e negacionista. É certo que as vacinas foram extremamente eficazes no controlo da pandemia ao reduzirem a gravidade e mortalidade dos vacinados. Mas, ao contrário das promessas anunciadas, não permitiram alcançar a imunidade de grupo e não impedem a reinfecção nem a transmissão do vírus. Dão uma protecção ao indivíduo não à comunidade.

A história natural das pandemias respiratórias por coronavírus mostra que, ao fim de um período entre dois a três anos, o vírus começa a produzir variantes mais infecciosas mas menos agressivas, para se adaptar ao hospedeiro e não morrer com ele. Foi assim com a gripe russa de 1989, que matou um milhão e meio de pessoas, e a gripe espanhola (1918-1920) que terá matado cinquenta milhões de doentes. Esperamos que a nova variante Omicron represente essa mudança em que a pandemia entra em modo endémico e passa a fazer parte das nossas gripes de estimação.

O aparecimento de novas variantes foi provocando reacções desajustadas e irracionais. A propaganda incessantemente repetida transformou a pandemia, aparentemente um problema de saúde pública, numa religião, com os seus dogmas – a infalibilidade da vacina, única salvação da humanidade, e a sua Igreja – o CDC e a OMS—que se ocuparam da envangelização universal. Os humanos foram divididos em três grupos: os crentes, que acreditavam cegamente no dogma, os infiéis, que não acreditavam de todo, e os hereges que tinham dúvidas sobre alguns pontos da doutrina. Os crentes, instigados pela propaganda lançaram-se numa guerra religiosa para exterminar os infiéis e os hereges. Voltámos ao século XVII, à Contra-Reforma, ao Concílio de Trento e à Inquisição. Os hereges e infiéis já não são eliminados numa pira de lenha. Agora são queimados nas redes sociais.

Ao descriminar e perseguir grupos de cidadãos, as sociedades ditas democráticas estão a abrir as portas da cidade ao cavalo de Tróia, com o aplauso da multidão. Podem silenciar os dramáticos avisos de Cassandra. O inimigo já está dentro das muralhas. A cidade cairá amanhã e com ela a democracia!

Percebemos assim porque o tema da pandemia terá ficado ausente dos debates eleitorais. A religião, e mais ainda a Fé, não se discutem, aceitam-se. Levantar o problema da gestão da pandemia, dos certificados de vacinação ou da vacinação das crianças é perder votos entre a maioria crente. Que se dane a democracia. Os fins justificam os meios, mesmo que se atropele a ética. O Homem, o Indivíduo, ser único e irrepetível deixou de contar e de ter valor!