A pandemia Covid 19 foi declarada em Março de 2020. Era uma doença totalmente desconhecida na sua virulência e patogénese. Foram instituídas medidas para reduzir a transmissão do vírus, como a máscara, o distanciamento social e o confinamento. Já o clima de catástrofe e medo criada pela comunicação social e pelo governo foi desajustado e prejudicial.

Entretanto a ciência investigou os mecanismos pelos quais o vírus causava doença severa. Descobriu-se que ele se multiplicava nos primeiros 6 a 7 dias e que em seguida ocorria uma resposta imunitária violenta, com produção massiva de factores de inflamação que no pulmão, ao atacarem a parede dos alvéolos, provocavam uma perturbação acentuada das trocas gasosas, com baixa grave dos níveis de oxigénio no sangue (hipoxemia). O oxímetro devia ter sido aconselhado como o “termómetro” em tempos de pandemia. No interior dos vasos a tempestade inflamatória podia provocar coágulos e trombos em órgãos importantes, como o cérebro, o coração ou o rim. Aos poucos estabeleceram-se protocolos para o tratamento hospitalar com corticóides, anticoagulantes e muitas vezes ventilação mecânica em unidades de cuidados intensivos. Verificou-se que a maioria dos doentes falecidos tinham, como factores de risco, idade avançada, obesidade, diabetes e hipertensão arterial. Seria do mais elementar bom senso lançar programas bem estruturados de combate a estes factores de risco, da competência da DGS.

Embora o Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável tenha publicado em revista europeia a Estratégia Nacional de Nutrição e Alimentação no âmbito da pandemia, não houve qualquer divulgação alargada desta estratégia e ela não teve qualquer impacto real no terreno. Pelo contrário, devido aos condicionamentos da pandemia houve agravamento da obesidade que não foi quantificada. A DGS, não teve qualquer intervenção para combater a obesidade, a diabetes ou a hipertensão, ou de qualquer outra forma, fazer uma “prevenção activa” da infecção pelo Covid 19. Se o doente tinha um teste de PCR positivo, era mandado para casa com paracetamol, a aguardar a sua sorte.

Quando em Dezembro de 2020 chegaram a Portugal as primeiras vacinas, tudo mudou. Realizadas sob pressão, em tempo limitado, não tiveram os estudos de eficácia e segurança desejáveis. Numa situação em que não havia experiência nem conhecimento prévios, optou-se por uma estratégia única – a vacinação massiva por faixas etárias – esquecendo ou ignorando outros critérios de selecção, como dar prioridade aos portadores dos factores de risco enunciados atrás. Por outro lado, a estratégia de comunicação não foi baseada numa informação clara e transparente sobre as vantagens e inconvenientes da vacinação, que levaria a uma aderência voluntária dos maiores beneficiados desta, os portadores dos factores de risco. Em vez de persuasão, optou-se pela coacção e pelo clima de catástrofe iminente, usando a mesma linguagem para os idosos, obesos ou diabéticos que tinham grandes benefícios na vacinação, e para os jovens que poucas vantagens dela iriam colher. Exemplo dessa propaganda errática foram os cartazes a seduzir os jovens para se vacinarem e poderem ir à discoteca, quando hoje, para o mesmo efeito, além do certificado precisam de um teste negativo. Na pandemia, quem se afastasse ou emitisse uma opinião não enquadrada no alinhamento oficial, era de imediato rotulado de traidor e negacionista. É certo que as vacinas foram extremamente eficazes no controlo da pandemia ao reduzirem a gravidade e mortalidade dos vacinados, sobretudo nos portadores de factores de risco. Mas, ao contrário das promessas anunciadas, não permitiram alcançar a imunidade de grupo e não impedem a reinfecção nem a transmissão do vírus. Dão uma protecção do indivíduo não da comunidade.

Aqui chegados, estamos de novo na estaca zero, com a sensação desagradável de que toda a estratégia mundial de combate à pandemia falhou. Uma pequena percentagem da população mundial – os felizardos – levaram duas doses, e já estão ansiosos por levar uma 3ª, uma 4ª, uma 5ª ou as que forem precisas. Mas esquecem-se que grande parte da população mundial não foi vacinada, que a pandemia é global, e o vírus anda por aí. É certo que muitos países africanos e asiáticos têm populações em que predominam os jovens, tendo por isso menos incidência de casos graves. Mas na Europa estamos no prelúdio duma nova vaga, ainda da variante Delta, precedida como de costume, duma campanha alarmista nos media, que suscita o medo. O aparecimento da nova variante Ómicron, provocou reacções desajustadas e irracionais. É totalmente insensato fechar uma urgência pediátrica e uma consulta de pediatria num hospital só porque um dos médicos que lá trabalha testou positivo. É possível continuar a trabalhar em segurança sem pôr em causa o “superior interesse da criança” garantida pelo Decreto 49/10 de 12 de Setembro, promulgado pelo saudoso Presidente Mário Soares. Diz-se nos telejornais que há imensas crianças infectadas e que por isso devem ser vacinadas; mas não há crianças com Covid 19 nos cuidados intensivos pediátricos, o que prova, tal como a baixíssima mortalidade, que a expressão clínica da doença nas crianças e jovens é extremamente benigna. A afirmação de que o benefício da vacina é superior ao seu risco baseia-se em projecções, e está por demonstrar. E acumulam-se evidências de que a vacina não é inócua nas crianças e jovens, pelo que se deve ponderar e adiar a decisão. Para além das miocardites e pericardites, relacionadas com as vacinas, que têm um risco potencial de morte súbita, um novo motivo de preocupação foi levantado por uma investigação científica recentemente apresentado no maior congresso americano de cardiologia, e publicado na revista Circulation, que referencia uma resposta inflamatória no endotélio arterial que pode condicionar arteriosclerose precoce. Estamos a brincar com o fogo e com a saúde futura das nossas crianças. Podemos estar a provocar um aumento de eventos cardiovasculares, de doenças auto-imunes, de esterilidade ou de outras patologias. Um amigo confidenciava-me: Como poderei encarar as minhas filhas, hoje com cinco e sete anos, se daqui a quinze ou vinte elas quiserem e não puderem ser mães por causa de uma vacina que eu autorizei?

Em tempos de pandemia, mais que o Covid pesou a solidão. A solidão dos que morreram sozinhos no hospital, a solidão dos que perderam o companheiro de uma vida, a solidão que o homem, ser social, não consegue suportar!

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