Segundo o existencialista Jean-Paul Sartre, o homem é destinado a ser livre, pelo livre arbítrio das suas escolhas. Escolher gera angústia. A noção de responsabilidade traz a antecipação das possíveis consequências daquilo que se escolhe. A noção de liberdade, paradoxalmente, produz um sentimento de dúvida. A dúvida provoca um conflito interno que pode suscitar alguma ansiedade.

Pensemos desde a escolha de um curso, profissão, a coisas mais mundanas, a opção de um prato da carta num restaurante, sapatos, ao destino de férias. A escolhas mais emocionais, o parceiro amoroso com quem se compromete.

Escolher uma possibilidade é ao mesmo tempo renunciar a outras possibilidades.  Mais complicado quando existem múltiplos interesses. Sabemos como sofrem alguns adolescentes na escolha da área, pela noção que tal vai interferir no caminho a percorrer no futuro. Perante tantas coisas boas na carta do restaurante, apetece tudo mas lá tem de se escolher um ou dois. Não há sequer barriga que aguente  para quem ousar pedir tudo.

A ideia da escolha poder ser definitiva é assustadora. Mas consideremos que se escolhe de acordo com o contexto do momento presente e um pensamento que vai ao encontro daquilo que se ponderou, se quer e delineia. É importante saber que, no limite, qualquer escolha não é definitiva e a meio do caminho, se o percurso  não é o que se esperava, pode voltar-se atrás. O curso pode ser mudado, pode fazer-se outro que complemente, ou trabalhar numa profissão diferente daquilo que se estudou. Num dia escolhe-se tal prato e noutro, experimentam-se os outros.

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Não fazendo jus da leviandade perante as escolhas que se tomam durante a vida, pois algumas “obrigam” a um compromisso e ao respeito de uma história com princípio, meio e fim, nada tem de ser definitivo e podem ajustar-se as escolhas à medida que o tempo passa e as necessidades se instalam. Conseguir um equilíbrio entre a determinação da tomada de decisão necessária em momentos charneira e assumir uma certa atitude de quem é capaz de ir vivendo no gerúndio, que vai escolhendo de acordo com aquilo que vai sentindo, permite não rebentar a corda que, por vezes,  estica em forças e vontades opostas.

O medo do arrependimento subjaz nessa tensão das incertezas que se debatem por dentro. Mas se a vida fosse linear, seria verdadeiramente mais fácil? Não serão também os questionamentos internos que nos estimulam a crescer como pessoas e a acumular experiência e riqueza do que é isto de ser humano? Se Kierkegard falava já de uma falta de predeterminação que defina o Homem, indo esse ao longo da vida sentir-se perdido pela multiplicidade de escolhas na condução da sua vida,  a vida é feita também de escolhas, não? Os riscos não são completamente controláveis mas a existência de uma vida vivida implica talvez curvas e contracurvas, rectas com e sem horizonte. Com maior consciência de nós, lá vamos sendo capazes de ir por caminhos mais suaves e menos rigorosos. Umas vezes mais confiantes da escolha certa, outras corajosos perante a que se julga ser a melhor, outras flexíveis para (re)escolher.

anaeduardoribeiro@sapo.pt