Uma estação repleta de pessoas na mesma linha para apanharem o mesmo comboio. Tudo bem, estou eu e eles de férias. É este o cenário da estação da Régua num dia de Agosto ao fim da tarde. Preparamo-nos todos para apanhar o InterRegional com destino ao Porto. A hora marcada é às 18h48 mas o tempo vai passando e o comboio chega, enfim, com o habitual atraso.

O exagerado número de pessoas que estava na estação previa já como seria a viagem, mas o mal confirmou-se quando o comboio chegou e quando grande parte das pessoas foram obrigadas a viajar de pé.

Estou certa de que a minha descrição nunca será justa com a realidade porque ficará sempre aquém daquilo que os meus olhos viram e presenciaram. O comboio levava muito mais gente do que a sua capacidade. A única explicação para isto é que terão sido, propositadamente, vendidos muitos mais bilhetes do que o número de lugares disponíveis. Recorde-se, também, que andar de comboio em Portugal é excessivamente caro e que o preço será sempre o mesmo independentemente das condições a que nos sujeitem.

É uma vergonha a não garantia de um lugar para cada passageiro tratando-se de um comboio regional. Aceita-se que quem faça viagens nos comboios urbanos possa ir de pé, mas num comboio que liga a Régua ao Porto (1h40 de viagem) não é aceitável. Havia quase tantas pessoas de pé como as sentadas. O ar era irrespirável e o calor insuportável. Perdoem-me a expressão, mas parecíamos puros animais dentro de um comboio, atirados para um qualquer lugar sem o mínimo de condições. As pessoas atropelavam-se por um lugar, pessoas sentadas pelos cantos e até crianças a dormir pelo chão com o casaco a protegê-las. Um comboio abandonado e totalmente degradado, um comboio de terceiro mundo.

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Este relato é meu mas histórias como esta não são a primeira e nem serão a última. O que de mal acontece na CP deixou de ser uma excepção para passar a ser a regra e é inconcebível que com tantos impostos os nossos serviços públicos continuem em estado total de abandono.

Pergunto-me se estarei a falar do comboio onde ontem fui obrigada a uma viagem infernal ou se estarei, afinal, a falar de um país que, tal como o comboio, também se mostra totalmente degradado e incapaz de se fazer valer.

Falo de um comboio abandonado, pequeno, sujo, sem condições para assegurar um serviço de qualidade. O mais triste? É que o Portugal de hoje, o Portugal que o Governo tem em mãos, em tudo se assemelha a isto. Um país também ele pequeno, abandonado, sujo e profundamente incapaz de responder ao que o povo precisa.

A minha viagem a bordo do InterRegional é mais uma prova de como o Governo não só tira férias no mês de Agosto como, e acima de tudo, tira férias todo o ano e, para além desta certeza, só há mais uma: a bordo deste comboio estamos condenados a um destino fracassado.