Inexplicavelmente, a pátria decidiu preocupar-se com a deputada do Livre. Primeiro a medo, com muitas bandeirinhas de consideração pela senhora. Depois, cada vez mais à vontade, com uma incompreensão crescente: como é que uma pessoa com dificuldades de fala pode dar voz às ideias e propostas de um partido, ainda para mais numa instituição – o parlamento – destinada a debates e à respectiva ginástica verbal? É como se o problema, não tendo ocorrido ao partido que escolheu a candidata nem aos eleitores que votaram nela, devesse agora ser da Assembleia da República, quando não de todos nós.
Desculpem eu achar tudo isto de uma ingenuidade comovedora. Que uma deputada não consiga discursar nem debater, é um problema dessa deputada, do seu partido e dos seus eleitores, mas não é um problema do parlamento, e muito menos nosso. Ou antes: é um problema que os outros deputados já resolveram da melhor maneira, que é fazerem uma pausa nos seus habituais apartes e cochichos, e ficarem todos muito calados, em sentido, a olhar fixamente em frente, enquanto a deputada gasta os minutos da sua intervenção.
A questão da deputada do Livre é outra: porque é que a sua incapacidade de falar e discutir não é um problema para ela, nem para o seu partido, nem para os seus eleitores? E a razão porque essa incapacidade de falar e discutir não é um problema, é porque a deputada, o partido que a elegeu e os seus eleitores não estão minimamente interessados em falar nem em discutir.
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