O perigo de expansão da guerra da Ucrânia para um conflito mais vasto está à vista, tanto no perímetro regional da Europa Central, como no contexto global. As visitas de Nancy Pelosi a Kyiv e do Comandante das forças armadas russas Valeri Gerassimov à frente de batalha na passada semana demonstram como, sem perspetiva de negociação a curto prazo, os dois lados se predispõem a uma escalada na guerra. A consolidação da narrativa das democracias versus estados autoritários – e a evocação da Segunda Grande Guerra – é evidência da trajetória da guerra.

A expansão da guerra na Europa Central

O primeiro sinal da vontade de expansão do conflito por parte da Rússia é a intensificação dos bombardeamentos de cidades ucranianas longe dos combates no terreno, sem qualquer objetivo militar ou estratégico. Esta é uma estratégia de punição a quem resista à Rússia, e uma forma de impedir a reconstrução da Ucrânia – um dos objetivos de Zelensky a que o Ocidente mais tem atendido.

Também a vizinha Moldávia se tornou alvo de desestabilização, depois do anúncio da sua intenção de aderir à União Europeia. As explosões na república separatista da Transnístria, povoada pela Rússia, presumem-se serem “de falsa bandeira russa” e servirem para justificar a intervenção russa. Apesar de a Rússia não dispor de tropas suficientes para tentar anexar a Transnístria, a decisão mais fácil para o Kremlin seria reconhecer uma declaração Transnistriana de independência.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Por fim, o anúncio pelo Presidente Bielorusso Aleksandr Lukashenko de que tenciona formar com a Rússia uma “União de Estados soberanos“, a que se poderão juntar outras antigas repúblicas soviéticas, aponta para o caminho da formação de uma “Grande Rússia”. Este é, presumivelmente, o mecanismo de integração das partes da Ucrânia, da Geórgia e da Moldávia ocupadas pela Rússia. Seria a versão minimalista da formação de um império.

Face a esta investida, os países da Europa Central – exceto a Hungria – reforçam o compromisso da sua pertença ao campo ocidental. Por um lado, mostram-se cada vez mais frios face à China, infligindo uma morte lenta à cooperação entre os estados da região no formato “16+1”, que celebra este ano o seu 10º aniversário. Por outro lado, a ativação esta semana pela UE do mecanismo de Estado de Direito em relação à Hungria, que poderá resultar na suspensão dos fundos de Recuperação e Resiliência a este país, demonstra que o eixo Varsóvia-Budapeste está morto e que a Polónia poderá estar a negociar com Bruxelas uma solução para o conflito em relação às violações do Estado de Direito.

A escalada da guerra para o contexto global

No contexto internacional mais vasto, os holofotes viram-se para o discurso de Putin no dia 9 de Maio. A retórica russa é concomitante com a escalada ocidental. Se o Secretário de Defesa Americano Lloyd Austin anunciou que o objetivo dos EUA é o de enfraquecer a Rússia e Boris Johnson evoca Churchill, espera-se que Putin declare uma terceira fase nas operações militares, cujo objetivo é um confronto mais amplo contra a NATO. Putin tem ultimamente concentrado a sua retórica no apoio militar internacional à Ucrânia como casus belli para uma Terceira Guerra Mundial. Igualmente possível é o anúncio de uma mobilização geral – potencialmente mais 150.000 soldados russos. Mesmo que esta seja uma medida impopular e de último recurso, preconiza uma maior prontidão militar, assim como uma maior probabilidade de confronto direto entre a NATO e a Rússia.

Concluindo, a atual trajetória é insustentável. Apesar de estarmos longe de um cenário de Terceira Guerra Mundial, a expansão do conflito para a Europa Central está em curso. Para evitar a escalada para um confronto global, o regresso a uma retórica congruente com a estratégia de contenção por todos os aliados é uma prioridade.