Foi um sururu logo que se soube que Pedro Passos Coelho ia estar presente numa palestra sobre os desafios que Portugal enfrenta. A notícia veio a lume e até os comentadores do programa ‘Eixo do Mal’ se fartaram de repetir que bastava vir à baila o nome do ex-Primeiro-Ministro para que os seus apoiantes fizessem o que eles próprios não deixavam de fazer. Para a esquerda falar de Passos Coelho tornou-se numa verdadeira catarse.

Passos Coelho foi um excelente Primeiro-Ministro que cumpriu o seu papel: tirou o país da bancarrota e criou condições para que este finalmente pudesse enriquecer. Não deu para tanto, mas foi o suficiente para aguentar a destruição constante do tecido empresarial e do Estado social em que se traduziram os dois últimos governos socialistas. Mas isso é passado. No presente, o mais  provável é que Passos Coelho não volte. Nesse caso é caso para que se pergunte por que motivo causou tanto barulho a sua possível presença numa simples palestra? As razões são três e muito simples: primeiro, Passos Coelho foi o Primeiro-Ministro mais bem-sucedido desde o 25 de Abril. A melhor prova disso é o ódio que a esquerda nutre por ele. Em segundo lugar, Passos Coelho não foi derrotado nas urnas. Este ponto é importante porque a democracia, até 2015, nunca aceitara reconhecer ao derrotado a legitimidade para governar. Tivesse sido a direita a agir como a esquerda se comportou e essa mesma esquerda não perdoaria. Porquê? Porque no fundo, a esquerda sabe que não esteve bem. Sente vergonha e precisa de expurgar essa vergonha. É por este motivo que a direita nunca deve deixar cair este ponto.

O terceiro motivo para a esquerda tremer cada vez que se fala do ex-Primeiro-Ministro é mais recente. Passos Coelho tornou-se na imagem do que é a resiliência pela forma como, enquanto governante, enfrentou as críticas e as provocações (não consta que se tivesse exaltado com quem fosse), pelo modo como saiu do governo, pela maneira como se manteve na oposição e ainda pela força interior com que lidou com questões que não são do foro político.

O problema para a esquerda é que esta resiliência se tornou incómoda no momento em que a quis utilizar no combate à pandemia. Quando se tornou evidente que a força que o governo quis ver nas pessoas era patente num ex-Primeiro-Ministro que a esquerda não pode ver nem pintado.

Até à pandemia a esquerda socorria-se de Passos Coelho para meter medo com narrativa da austeridade. Quando os tempos voltaram a ser difíceis o feitiço virou-se contra o feiticeiro. A figura de Passos Coelho passou a assustar quem governa e respectivas muletas partidárias. De tantas vezes mencionaram o regresso do homem que nunca voltou que a esquerda criou o mito. Até no programa em cima mencionado atribuíram um nome ao fenómeno que é a espera do que não existe: sebastianismo. Como se não bastasse também o apelidaram de messias; até de fantasma. O ridículo tem destas coisas. E é assim que um homem que metade do mundo político odeia causa um tumulto cada vez que se move. Ao ponto de decidir não marcar presença na tal sessão. Não sei se Passos Coelho regressa, mas não duvido que de ora em diante a esquerda vai pensar duas vezes antes de prenunciar o seu nome em vão.

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