Como os tempos mudam. No início de 2001, era António Guterres primeiro-ministro e começavam a acumular-se os sinais de crise, lembro-me de lhe ter perguntado porque não avançava com algumas das reformas que sabia serem necessárias. Enterrado numa poltrona da sala onde me recebera em São Bento, respondeu-me com um misto de desalento e crispação: “Os portugueses têm de compreender que há um preço a pagar quando um governo não dispõe de maioria absoluta”.

Estávamos na legislatura dos 115-115, a legislatura dos orçamentos do queijo limiano, a legislatura que terminaria uns dez meses depois desta conversa com esse mesmo António Guterres a demitir-se para, como disse então, evitar que o país caísse “num pântano político”. A tal legislatura que começara com umas eleições que o PS vencera folgadamente, depois de uma campanha em que o seu líder nunca quisera pedir a maioria absoluta, mesmo sendo esse o seu objectivo assumido.

20 anos depois outro líder do PS parte para mais uma campanha em que fará tudo para chegar à maioria absoluta ao mesmo tempo que quase jura que não a deseja, pois até já chegou ao ponto de afirmar que os “portugueses têm más memórias das maiorias absolutas“. E de facto parecem ter, pois todas as sondagens indicam que a maioria dos entrevistados não deseja que saia qualquer maioria absoluta das próximas eleições – nem sequer os eleitores do PS apoiam essa ideia.

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