Há muitos anos citei o futebolista do FCP João Pinto, outrora capitão da selecção nacional, quando ele declarou: «Prognósticos só no fim!» Com os orçamentos é a mesma coisa. Nunca ninguém viu um orçamento final igual ao do princípio. No limite, pode até ser melhor no fim mas igual não é de certeza! Nos últimos tempos, tem sido melhor para alguns e pior para a maioria em matéria de impostos, mas pode acontecer um milagre… Igual é que não será de certeza.

Não se percebe, portanto, o papel invulgar que os meios de comunicação social vêm desempenhando ao exibir durante dias a fio os debates orçamentais, como se fossem telenovelas posteriores à intervenção da «troika», a qual havia estancado a dívida e posto a economia a crescer, como sucedeu em 2015 com a coligação PSD+CDS imediatamente após a intervenção da «troika». A única explicação para esta farsa anual dos debates parlamentares e das discussões à porta fechada com os partidos acerca do orçamento de Estado é o «golpe parlamentar» dado pelo PS em colusão com o PCP e o BE.

Desde aí, a caranguejola que nos tem desgovernado fez crer nas habilidades do antigo ministro das Finanças, Mário Centeno, findas as quais este foi feito governador do Banco de Portugal com o salário e os poderes atinentes! Agora, é outro ministro mas este não tem a habilidade do anterior. Obviamente, o par Costa e Centeno não fez milagre algum, assim como não fará o par Costa-Leão, tendo a dívida voltado a crescer a níveis nunca vistos mal a pandemia rebentou.

Entretanto, o petisco mais saboreado do tal «debate sobre o orçamento para 2022» é, neste momento, a proclamada diminuição do imposto directo sobre o rendimento de metade dos cidadãos (a outra metade não paga IRS). A ser assim, a única solução para tal quebra-cabeças só pode ser aumentar os impostos indirectos, os quais são muito mais injustos e penosos para a maioria da população, tal como o IVA, a luz e o aquecimento, bem como tudo o que tem que ver com transportes e combustíveis, etc. Só no fim saberemos!

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Entretanto, os partidos da «engenhoca» criaram um ambiente de inquietação – promovido pela televisão e pelo resto da comunicação social –que o primeiro-ministro utiliza, após as perdas nas eleições autárquicas, de forma a agitar a vida pública… Pelo seu lado, o Presidente da República apressou-se a ameaçarrepetidamente com a imediata dissolução do parlamento no caso – improbabilíssimo, digo eu – de o dito orçamento não passar no parlamento, fazendo tremer os cidadãos com a ameaça da barafunda que daí viria. Em suma, mais um exercício conhecido de intimidação por parte dos partidos e de determinados «media» sobre um eleitorado que não sabe para que santo se virar.

Enquanto os partidos no poder se ameaçam entre si, a oposição está em farrapos, como é bem sabido. Não tendo mais nada que fazer, o proclamado «leader» da oposição, Rui Rio, em vez de revelar as suas convicções acerca do que se está a passar no país, dedicou-se a desviar a atenção do eleitorado para a possibilidade de ser substituído por um dos rivais que se agitam em torno da liderança do PSD… E horas depois o mesmo Rio mudou de ideias e agora já não quer acelerar a eleição do futuro líder do dito PSD… Esta inconstância só mostra o estado lamentável em que se encontra o sistema político sob a batuta conjunta do PR e do PM.

Em vez dessa politiquice de baixo nível, é notória a profunda crise em que Portugal se encontra, devido não só à pandemia e à extrema dificuldade de conceber e realizar projectos com capacidade para restabelecer a já de si débil situação pré-pandémica, como devido sobretudo à absoluta falta de visão para alterar de forma profunda as regras de funcionamento dos investimentos, da produtividade e da formação profissional, sem esquecer a mobilização dos agentes privados.

Para isso, só uma mudança político-partidária radical. Ora, como sabemos, o trio partidário responsável pelo «golpe parlamentar» de 2015 não tem feito outra coisa se não estatizar e burocratizar todas as actividades em que põe a mão. Desde a necessária gratuidade de creches e infantários à recuperação demográfica do país; desde os reformados em aumento permanente à catástrofe dos «lares de idosos»; desde os profissionais de saúde à domesticação das Ordens das profissões liberais; desde as comunicações à habitação popular, só escapa ao governo o turismo para fazer entrar algum dinheiro no país. Entretanto, todos se dão conta do número invasor de funcionários públicos, os quais haviam sido substancialmente reduzidos após o governo Sócrates, voltando a crescer com o PS, ultrapassando o delírio socrático e atingindo cerca de 800.000 funcionários cujos votos a «caranguejola» espera arrebanhar. Voltaremos ao orçamento daqui a um ano.