Putin não acredita na existência de uma nação ucraniana. Podia não existir, mas a guerra iniciada em Fevereiro do ano passado, criou uma nação na Ucrânia. Ninguém sabe quais serão as fronteiras do Estado ucraniano, mas já todos perceberam que a Ucrânia é um país independente. Muitas vezes, a soberania conquista-se nos campos de batalha.
Se não integrasse o território ucraniano na Rússia, Putin queria transformar a Ucrânia num protectorado russo com soberania limitada. Não sendo uma grande Crimeia, teria que ser uma nova Bielorússia. Nada disso vai acontecer. A Ucrânia estará, mais tarde ou mais cedo, na NATO e na União Europeia. Mais uma vez, graças a Putin. O Presidente russo também já conseguiu que dois países, tradicionalmente neutrais (a Finlândia e a Suécia), tivessem entrado na Aliança Atlântica.
Com a ocupação da Ucrânia, Putin queria mostrar que a Rússia ainda é uma grande potência. Mas a sua incapacidade de derrotar a Ucrânia apenas mostra que a Rússia já não é uma grande potência mundial. Foi despromovida para a categoria de potência regional.
A revolta do grupo Wagner no fim de semana passado mostra que a guerra na Ucrânia está a enfraquecer o regime de Putin. Se não houvesse guerra, ou se a Rússia estivesse a ganhar, nada teria acontecido. A partir de agora, a principal questão já não é quem ganha a guerra, mas por quanto tempo se aguentará Putin no poder?
Aliás, Putin deu razão a todos aqueles que têm condenado a guerra. Chamou ao grupo Wagner uma organização terrorista. Tem toda a razão. Mas esses terroristas, desde a Crimeia e Donbass em 2014, lutam ao lado de Putin. Os terroristas foram usados por Putin para fazerem guerras em nome da Rússia. Matam inocentes, e reduzem cidades a cinzas, como têm feito na Ucrânia. Porquê? Porque Putin começou uma guerra de ocupação. E agora tem o descaramento de chamar de terroristas aqueles que lutam por ele há uma década. Putin confessou a todo o mundo que é o líder de um regime terrorista. Esse regime iniciou o caminho para o fim no dia em que invadiu a Ucrânia.
Quando a oligarquia de Moscovo chegar a um consenso sobre a pessoa que irá defender os seus interesses, Putin chega ao fim. Será o único culpado da guerra e abandonado por todos. Até o Presidente chinês, Xi, abandonará o seu “amigo” Putin. Há limites para o regime chinês apoiar aventuras de quem começa guerras e não as consegue ganhar.