Todos os ditadores acabam por tomar decisões fatais para o seu futuro, quase sempre prejudicando gravemente o seu país, e muitas vezes causando danos e sofrimento a países vizinhos. Foi o que fez Putin no final de Fevereiro.

Sem qualquer razão, atacou a Ucrânia e iniciou uma guerra sem fim à vista. Passados seis meses, já se percebeu que a Rússia não será capaz de vencer a guerra, a não ser que use armas nucleares destruindo a Ucrânia.

As ofensivas bem-sucedidas das tropas ucranianas mostraram dois problemas sérios com as forças armadas russas. Em primeiro lugar, os seus soldados estão desmotivados e com a moral em baixo. A maioria dos soldados russos não partilha a visão imperial de Putin. Para eles, a Ucrânia é um país independente. A maioria desses soldados, com menos de 30 anos, nunca viu a Ucrânia integrada na Rússia. Sabem que estão envolvidos numa guerra de conquista e que enfrentam tropas a defender o seu país, as suas casas e as suas famílias. Por isso, fogem quando os combates se tornam difíceis. Os combates serão ainda mais duros no Inverno, e a guerra será um pesadelo ainda maior para as tropas invasoras.

Além da desmotivação das tropas, o equipamento militar russo enfrenta problemas graves. As sanções europeias afectam a capacidade tecnológica russa e tornam muito difícil a substituição do material militar. Os russos recorrem cada vez mais às armas das décadas de 1980 e de 1990. Quando querem equipamento militar novo, têm que o comprar à Coreia do Norte e ao Irão.

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Os mais optimistas começaram a falar de dois cenários possíveis. Uns acreditam na possibilidade da Ucrânia vencer a guerra. Apesar dos sucessos recentes, os ucranianos não têm a capacidade militar suficiente para reconquistar o território ocupado pelas tropas russas. Só aconteceria se ocorresse o descalabro no exército russo, o que é improvável.

Outros acreditam que o recuo militar dos russos pode forçar Putin a negociar um acordo de paz. Foi isso que na terça feira o Chanceler alemão, Scholz, pediu ao Presidente russo numa chamada telefónica de 90 minutos. Obviamente, Putin recusou. E continuará a recusar negociações com Zelensky. Um acordo com Kiev significará uma derrota política para Putin. E a Ucrânia não aceitará o fim da guerra sem a retirada total das tropas russas, o que Putin recusará.

Putin meteu-se numa guerra sem fim. Ou melhor, a guerra só acabará quando Putin chegar ao fim. Na Europa, os ditadores que começam guerras de ocupação suicidam-se politicamente. Putin não será uma excepção. Será uma questão de tempo e de muita destruição e sofrimento.