A propósito da pedofilia, esse crime hediondo, de que ainda nos não refizemos desde o já tão antigo caso Casa Pia, a Igreja tem sido atacada pelos resultados do trabalho de uma Comissão Independente que realça os demasiados abusos perpetrados por quem devia disseminar o Bem.
Ouvi domingo António Lobo Xavier. E partilho com ele a enorme decepção da partilha pública feita pelo Bispo de Leiria e Fátima, D. José Ornelas, sobre as reflexões feitas pela Igreja portuguesa sobre os resultados publicados do estudo feito pela Comissão Independente.
Sei, claro, que o caso da pedofilia é muito mais vasto. Sei que provavelmente ele existe de forma mais sensível noutros sectores da sociedade, incluindo a Família, onde a pobreza e a falta de condições sociais, culturais e económicas adensam esta possibilidade. Sei que seguramente a Igreja é das Instituições que melhor salvaguarda os excluídos, os vulneráveis e, no geral, toda a fragilidade social e económica. E sei que o Estado – governantes e governados, são os primeiros responsáveis por este estado de coisas.
Mas a Igreja não se pode defender assim! Não quero ser soberbo, mas não resisto dizer “aonde andava o Espirito Santo”(?) quando D. José Ornelas nos brindou com as suas titubeantes, apoucadas e confusas explicações?
Não é a primeira vez e como não temos na nossa paróquia, na nossa Diocese e no nosso Patriarcado muitos “Papas Francisco” ficamos na contingência de nos vermos defendidos por representantes que apesar da bondade, não estão nem foram preparados para esta defesa.
Que o não devia ser, não fosse a estrutura da Igreja ser tão perigosamente inflexível.
A Igreja, feita de pecadores que, apesar de tudo, têm a boa graça de espalhar a Graça de Jesus Cristo não consegue reagir a esta tempestade. Não consegue, apesar do Papa Francisco. Não consegue apesar dos muitos católicos que como eu veem neste caso tão difícil uma oportunidade de mudança que deve ser encarada na sua crueza – com decidida implacabilidade, como Jesus na altura em que expulsou os mercadores do Templo.
A Igreja somos todos nós. Quase diria dos que fazem comunidade e dos que são chamados a fazê-la. Como o Estado é dos cidadãos que tantas vezes se queixem dos actos e omissões dos seus governantes sem que exerçam com responsabilidade o dever de cidadania que lhes assiste.
Eu católico, apostólico e romano, peço humildemente perdão pelo pouco que fiz por debelar este flagelo. Mas quero expressar publicamente aos que como eu acreditam que esta é uma altura crucial para uma mudança na Igreja que é feita da acção de cada um de nós. Dos que acreditam na palavra de Jesus e na sua imensa atenção por todos os simples e fragilizados.
Como quero expressar, como cidadão, o meu veemente apelo ao Estado e ao Governo pelo pouco que fez em moralizar e responsabilizar as suas classes dirigentes – não as da Igreja, mas as suas!
Que nada continuam a fazer para que nas suas instituições e na sociedade em geral se puna e acabe este comportamento indigno que nos diminui moral e socialmente e que estigmatiza definitivamente cada uma das suas vítimas
Para a Igreja o sinal de que há sinais do tempo que devem ser escutados. Para todos nós, da Igreja e do Estado, a responsabilidade de não nos escusarmos a fazer Igreja ou a fazer Comunidade.
Certa é a necessidade de mudar – na forma em como fazemos a Igreja e o Estado que não excluem o responsável e irrecusável contributo de cada um de nós.