Sejamos claros: a carnificina de 7 de Outubro perpetrada pelo Hamas contra a população civil de Israel não tem justificação. Iustificare significa tornar justo, isto é, demonstrar que algo é adequado segundo a lei e/ou a moral. Não há adequação possível. Ao horror do sofrimento ainda acresceu o manual de estilo e propaganda como a vimos no auto-proclamado Estado islâmico.

O Hamas é um grupo terrorista, não é o legítimo representante da Palestina. A acção de 7 de Outubro não foi, não é demais sublinhá-lo, uma acção militar. De igual modo, e a despeito dos aproveitamentos políticos, não foi uma acção palestiniana, nem em favor da Palestina nem dos palestinianos.

Israel, e os jornais de todo o mundo estão a demonstrá-lo à saciedade, como o vimos com a negação de que bebés tinham sido queimados vivos, decapitados, e depois com o ataque ao hospital Al-Ahli, está a perder a batalha de comunicação. Mesmo nos media credíveis – para acabar com o negacionismo, e alegações até de que as imagens eram produto de I.A., o exército israelita difundiu à porta fechada, para os media, imagens do massacre obtidas a partir de câmaras de vigilância, ou pelas próprias vítimas, por socorristas, pelo exército. E poderia dever-se apenas ao extraordinário trabalho de desinformação levado a cabo pelo Hamas e sustentado pelo Irão e pela Rússia. Mas não.

Levantadas as pedras, o que se vê é o que costuma estar oculto: o antissemitismo travestido de político antissionismo – essa sim, uma «justificação» bem sucedida levada a cabo pelas elites herdeiras do marxismo cultural e desnatada até ao idiota útil, ou ao ignorante útil. E assim, transitado da extrema-direita para a esquerda woke através de um trabalho perverso: cola-se a causa palestiniana à ominosidade da acção do Hamas de 7 de Outubro. E amplifica-se. O antissionismo «justifica» o antissemitismo. O que está na carta das mais de 30 associações e organizações de alunos de Harvard se não for isto? Não responsabilizaram Israel pelos ataques do Hamas? E quando se diz que a rua árabe se levantou em todas as cidades do mundo onde se ouve «morte aos judeus», o que é se não for antissemitismo? A dramática situação de Gaza transformou-se numa arma de arremesso.

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Se dúvidas houvesse sobre a polarização política do mundo ocidental – e a quem aproveita a ausência de debate, pior, o esvaziamento da possibilidade de debate –, estariam desfeitas.

Discutir para encontrar uma resolução eficaz para a questão israelo-palestiniana, é necessário. Discutir para avaliar os custos das tentativas de destruição das democracias – como o do populismo de Nethanyahu em Israel – é necessário. Precisamos de debate. Rigoroso. Organizador.

Mas diante de um massacre não há, não pode haver, relativismo moral.