Face às dificuldades de afirmação enfrentadas pelo PSD, a ideia de uma coligação pré-eleitoral aparece como atraente para muitos no centro-direita. A título de ilustração – e para citar uma das vozes habitualmente mais lúcidas nessa área política – recordo o que escreveu Nuno Gouveia no passado dia 10 de Novembro:
“PSD+IL+CDS estão nos 38%. A um tirinho da maioria absoluta. A única coisa que os líderes destes três partidos têm a fazer é sentarem-se à mesa e negociar uma coligação pré-eleitoral. A salvação de Portugal e erradicação do socialismo cadavérico passa por aqui.”
A intenção e o raciocínio subjacente são perfeitamente compreensíveis mas temo que esta aritmética aparentemente simples e atraente esteja, com elevada probabilidade, errada. Infelizmente para quem alimenta a sua esperança com base na miragem de uma coligação pré-eleitoral, há boas razões para crer que uma coligação pré-eleitoral PSD com IL subtrairia em vez de adicionar. Um estudo concretizado há poucos meses pelo Centro de Investigação do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica (CIEP-UCP) em colaboração com o Centro da Sondagens da mesma Universidade (CESOP-UCP) e apresentado aqui no Observador reforça esta hipótese ao apontar que dificilmente as coligações pré-eleitorais à direita serão suficientemente atraentes para potenciar um melhor resultado eleitoral agregado à direita. Ainda que seja sempre possível argumentar (e impossível de refutar em qualquer estudo de opinião desta natureza) que a dinâmica própria de uma coligação pré-eleitoral poderia gerar uma mobilização em campanha que permitiria ir mais além, a verdade é que os dados existentes sugerem fortemente que uma coligação pré-eleitoral envolvendo PSD e IL teria um resultado agregado inferior ao cenário em que os dois partidos se apresentam a votos em listas autónomas.
Do lado da IL, haverá boas razões para que assim seja. Trata-se de um partido novo e numa trajetória de afirmação e crescimento, com um discurso e propostas ideologicamente muito vincadas. Nestas condições, não deverá surpreender que uma parte não residual do eleitorado potencial da IL possa sentir-se menos mobilizada para votar numa coligação na qual o principal parceiro fosse o PSD. Aliás, se o PSD conseguisse ser uma opção suficientemente atraente para todo esse eleitorado, a IL não teria conseguido o mais difícil: obter representação parlamentar e crescer. Tratando-se adicionalmente de um partido novo, alinhar numa coligação pré-eleitoral neste momento seria arriscar um suicídio precoce. É certo que a IL obteria em contrapartida alguns lugares parlamentares seguros num contexto em que pode ser penalizada pelo voto útil, mas é difícil imaginar que nesta fase da vida do partido esse benefício pudesse compensar o elevadíssimo risco de liquidação da IL.
Relativamente ao PSD, também não deverá surpreender que haja algum eleitorado mais ao centro (incluindo eleitorado flutuante entre PS e PSD) que possa ter menor propensão a votar numa coligação PSD-IL do que apenas no PSD. De facto, o próprio Pedro Nuno Santos já foi tratando de agitar o fantasma do suposto “radicalismo” da IL mesmo sem essa coligação pré-eleitoral, percebendo (provavelmente correctamente) que algum eleitorado de centro e centro-esquerda vê com algum desconforto as propostas da IL.
Falta considerar o efeito no CH. Ora, uma coligação pré-eleitoral que juntasse PSD e IL no actual contexto teria tudo para potenciar o discurso anti-sistema do CH. Em vez de combater o CH e limitar o seu crescimento, uma coligação pré-eleitoral dessa natureza seria um verdadeiro brinde para André Ventura, que se poderia apresentar como a única verdadeira alternativa aos partidos tradicionais, capitalizando toda a insatisfação à direita.
Sem coligação pré-eleitoral, o que resta então? Até às eleições, o PSD terá de fazer o seu trabalho, idealmente ganhando eleitorado suficiente ao centro para conseguir derrotar de forma clara o PS. É aliás essa a grande responsabilidade de Luís Montenegro e de quem o acompanha: demonstrar que pode ser uma alternativa credível de governo e que por isso merece liderar o espaço à direita do PS. Depois das eleições, e em função dos resultados das mesmas, será preciso fazer contas. E é bem possível que tenhamos todos de aprender a viver com um sistema partidário mais fragmentado.