As fake news não são uma novidade do nosso tempo: sempre houve boatos. Até a história da ressurreição de Jesus de Nazaré não está isenta deste tipo de falsas notícias.

Por exemplo, as mulheres, que descobriram que o sepulcro estava vazio, noticiaram aos apóstolos Pedro e João uma evidência. Mas, ao dizerem que “o Senhor foi levado do sepulcro e não sabemos onde o puseram” (Jo 20, 2), supuseram que alguém retirou o corpo morto de Jesus e o colocou num lugar desconhecido. Ora, como depois se comprovou, estas afirmações eram, obviamente, fake news.

Quando dois discípulos deixaram Jerusalém em direção a Emaús, a ressurreição de Jesus era ainda um rumor não confirmado: “algumas mulheres do nosso grupo nos deixaram perturbados, porque foram ao sepulcro de madrugada e, não achando o seu corpo, vieram dizer que lhes apareceram uns anjos, que afirmavam que ele vivia” (Lc 24, 22-23). Desconfiados da surpreendente notícia, aliás como Pedro e João, que estranharam a presença no sepulcro da mortalha e do sudário (Jo 20, 5-7), também aqueles discípulos não acreditaram nas mulheres. São crentes, mas não ingénuos, pois é o seu espírito crítico que os leva a não aceitarem o que julgam ser um boato, embora atestado por várias testemunhas oculares. Nem sequer têm presente que o próprio Cristo, repetidas vezes, profetizara a sua ressurreição ao terceiro dia (Mt 16, 21), que era, precisamente, aquele em que se puseram a caminho de Emaús.

Outro boato é o que, maliciosamente, os guardiões do corpo morto de Cristo espalharam em Jerusalém, depois de terem informado o Sinédrio sobre a ressurreição de Jesus. Os seus membros “deram muito dinheiro aos soldados, recomendando-lhes: ‘Dizei isto: De noite, enquanto dormíamos, os seus discípulos vieram e roubaram-no.’ E, se o caso chegar aos ouvidos do governador, nós o convenceremos e faremos com que vos deixe tranquilos’. Recebendo o dinheiro, eles fizeram como lhes tinham ensinado. E esta mentira divulgou-se entre os judeus até ao dia de hoje” (Mt 28, 12-15). A este propósito, comentou Santo Agostinho: “Astúcia miserável! Apresentas testemunhas adormecidas?! Verdadeiramente tu é que estás a dormir ao imaginar semelhante explicação!” (Enarrationes in Psalmos, 63, 15).

Note-se que os sacerdotes sabiam que Cristo tinha afirmado que, ao terceiro dia, ressuscitaria. Uma das acusações que levou à condenação à morte de Jesus foi a de que, destruído o templo, em três dias ele o faria ressurgir, numa clara alusão à sua morte e ressurreição (Jo 2, 19). Também foram os membros do Sinédrio que, temendo a profetizada ressurreição, puseram vigilantes no túmulo, não fossem os discípulos de Cristo roubar o corpo e, depois, dizerem que tinha ressuscitado (Mt 27, 62-66).

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O boato do roubo do corpo de Jesus era, evidentemente, falso: os soldados tinham sido colocados à entrada do túmulo justamente para impedirem que isso acontecesse! Se, por terem adormecido, os guardas permitissem que os discípulos de Jesus roubassem o seu corpo, deveriam ser responsabilizados pela sua negligência. Quando Pedro é milagrosamente libertado da prisão, Herodes “submeteu os guardas a um interrogatório e mandou-os matar” (At 12, 19). Era esse, de facto, o castigo expectável (At 16, 26-27).

Se os guardas não foram punidos, mas gratificados com “muito dinheiro” (Mt 28, 12), foi porque ao Sinédrio interessava que pusessem a circular a falsa notícia do roubo do cadáver pelos cristãos, para assim explicarem o desaparecimento do corpo de Jesus, sem necessidade de admitir a sua ressurreição.

Quando Tomé, o único apóstolo que faltou à aparição do crucificado no dia da sua ressurreição, é informado pelos restantes dez (Judas Iscariotes já não fazia parte do grupo) que Jesus de Nazaré ressuscitara e aparecera a vários dos seus discípulos, não só não acreditou, como exigiu uma prova irrefutável de que o corpo supostamente ressuscitado era o mesmo que tinha sido crucificado: “Se não vir nas suas mãos a abertura dos cravos, se não meter a minha mão no seu lado, não acreditarei” (Jo 20, 25).

Portanto este apóstolo, de ingénuo ou crédulo, nada tinha: exigiu uma prova factual da ressurreição de Cristo, como condição sine qua non para nela crer, não lhe sendo suficientes as reiteradas profecias do próprio Jesus, nem os testemunhos coincidentes dos restantes apóstolos, confirmados por outras testemunhas, como as santas mulheres e os discípulos de Emaús. Nenhum céptico moderno teria pedido mais provas do que a exigida por Tomé. Não obstante a insolência desta sua reivindicação, o apóstolo incrédulo viu satisfeita a sua exigência e, por isso, pôde confessar a realidade da ressurreição de Cristo (Jo 20, 28).

Aliás, os apóstolos eram intransigentes com os falsos boatos que circulavam na primitiva comunidade cristã. Correu o rumor de que São João não morreria antes da segunda vinda do Senhor porque Jesus disse sobre ele: “se eu quiser que ele fique até eu voltar, que tens tu com isso? Tu, segue-me! Foi assim que, entre os irmãos, correu este rumor de que aquele discípulo não morreria. Jesus, porém, não disse que ele não havia de morrer, mas sim: ‘Se eu quiser que ele fique até eu voltar, que tens tu com isso?’.” (Jo 21, 22-23). Portanto, a Igreja desde sempre combateu os falsos rumores, as fake news!

Mas, os discípulos não poderiam ter inventado a ressurreição do seu Mestre?! Afinal de contas, as santas mulheres, os discípulos de Emaús, Tomé e os restantes apóstolos eram amigos de Jesus e, por isso, estariam interessados em afirmar a sua ressurreição, até para justificarem a sua fé nele. Caso contrário, passariam por parvos, ou ingénuos, que se teriam deixado enganar por um aldrabão, condenado à morte e crucificado entre dois ladrões.

A hipótese da mentira colectiva é impossível … nomeadamente por causa do escândalo Watergate! Chuck Colson, ou Charles Wendell Colson (1931-2012), foi, de 1969 a 1973, o principal conselheiro do Presidente Richard Nixon, o qual, devido ao caso Watergate, foi obrigado a demitir-se da presidência dos Estados Unidos da América. Alguns meses mais tarde, Chuck Colson, depois de confessar o seu envolvimento neste escândalo, foi condenado a três anos de prisão. Galardoado, em 1993, com o prestigiado prémio Templeton, escreveu: “eu sei que a ressurreição é um facto porque Watergate prova-o. Como? Doze homens testemunharam que viram Jesus erguer-se de entre os mortos e proclamaram essa verdade durante 40 anos, sem nunca a terem negado. Cada um deles foi, por isso, açoitado, torturado, apedrejado e encarcerado. Eles não teriam sofrido isso se não fosse verdade. Watergate implicou 12 dos mais poderosos homens do mundo, que não foram capazes de manter uma mentira durante três semanas. Está-me a dizer que 12 apóstolos conseguiram manter uma mentira durante 40 anos?! Totalmente impossível!”.

A bem dizer, os 12 apóstolos são agora muitos milhões de cristãos – bastantes filósofos, cientistas, físicos, etc. – e os ditos 40 anos são já dois milénios…

De facto, não era possível que 12 homens se tivessem posto de acordo para mentir sobre factos de que eram também testemunhas muitos dos seus contemporâneos, que facilmente poderiam ter desmascarado essas fake news. Por outro lado, os apóstolos, ao contrário dos implicados no caso Watergate, eram “homens sem letras e do povo” (At 4, 13), muitos deles trabalhadores manuais – pescadores, artesãos, etc. – que dificilmente poderiam elaborar e sustentar, sem cair em contradição, uma tal falsidade. Eles próprios resistiram o mais que puderam à notícia sobre a ressurreição de Jesus que, apesar de lhes chegar por várias vias e confirmar, afinal, uma antiga e reiterada profecia de Cristo, só é por eles aceite quando se impõe como uma evidência empírica: acreditam porque o vêem (Jo 20, 25), tocam (1Jo 1, 1-3), e comem com ele (Lc 24, 36-43)!

Mas, não é verdade que sempre houve fanáticos que se deixaram matar pelos ideais da sua seita?! Sem dúvida, mas não entre os intelectuais, como eram muitos dos primeiros cristãos. Era, por exemplo, o caso do fariseu Nicodemos, “um dos principais entre os judeus” (Jo 3, 1); e de José de Arimateia, “varão bom e justo” (Lc 23, 50), “membro ilustre do Sinédrio” (Mc 15, 43), “um homem rico” (Mt 27, 57) “que era discípulo de Jesus” (Jo 19, 38). Também “uma grande multidão de sacerdotes” (At 6, 7), homens instruídos na religião judaica, reconheceu em Cristo o Messias prometido. Por outro lado, no dia de Pentecostes foram admitidas na Igreja “cerca de três mil pessoas” (At 2, 41) e, pouco depois, “o número de homens elevou-se a cerca de cinco mil” (At 4, 4): não é crível que então houvesse, em Jerusalém, cinco mil fanáticos!

Os implicados no escândalo Watergate tinham tudo a ganhar – poder, dinheiro, fama, etc. – com a sua mentira, enquanto que os cristãos, por acreditarem na ressurreição de Cristo, foram mártires. Tudo perderam: foram expulsos das sinagogas, perseguidos até à morte pelos judeus, como Estêvão (At 7, 54-60); torturados e mortos pelos romanos, como Pedro e Paulo. Se a ressurreição e a divindade de Cristo são fake news, então são a mais estúpida mentira de todos os tempos. Mas se são verdade, crer que são fake news é a pior mentira e a maior estupidez de sempre