A final da Liga dos Campeões, realizada no Porto, ao colocar frente a frente duas equipas inglesas, trouxe, como seria de esperar, inúmeros turistas britânicos ao nosso país num momento em que já era do conhecimento público a presença e disseminação da variante Delta no Reino Unido.
A contaminação daí decorrente, que veio a ocorrer em Portugal, poderia ter sido evitada com a adoção de medidas de contingência e um plano organizado de receção dos adeptos. Bastaria isso para que o descontrolo que já se havia verificado aquando dos festejos do título do Sporting não se repetisse, como lamentavelmente se veio a verificar.
Volvido um ano e meio desde o início da pandemia, tudo leva a crer que as autoridades de saúde ainda não sabem exatamente quais os limites a impor, em que eventos e ante que circunstâncias.
Não subsistem dúvidas de que hoje, à luz dos dados que são conhecidos, Portugal enfrenta um novo período de propagação vírica. Confirmam-no o aumento do número de infetados, de internados e de óbitos. Diante deste quadro, as preocupações das autoridades nacionais, ao invés de se centrarem no futebol, deveriam focar-se em prevenir e limitar a propagação do vírus e garantir que o SNS está pronto para corresponder. Neste contexto, a decisão de receber a final da liga dos campeões não foi mais do que um tiro ao lado. Se o intuito era promover a economia e o turismo, o resultado foi justamente o inverso. A vinda de milhares de adeptos sem um plano sério e consistente de receção e acolhimento resultou no agravamento do estado pandémico em Portugal, o que obrigará à adoção de medidas restritivas para a atividade económica.
A profunda incoerência entre o que é proibido aos cidadãos portugueses e o que é permitido aos adeptos estrangeiros apenas vem confirmar o desacerto das autoridades de saúde nacionais a este respeito.
Não há dúvidas de que a forma descoordenada e incoerente como o Governo e as autoridades de saúde têm respondido a esta quarta vaga pandémica prejudica seriamente a recuperação económica do país. A incerteza, os avanços e recuos no desconfinamento provocam instabilidade nas empresas, prejudicam a tomada de decisões estratégicas de médio/longo prazo, abalam a confiança dos investidores e fomentam a instabilidade pessoal e familiar dos colaboradores.
É, por isso, fundamental e urgente calibrar a realização de eventos de larga escala com o cumprimento rigoroso das normas de saúde pública. Só com este equilíbrio, difícil mas necessário, será possível compatibilizar a recuperação económica de médio/longo prazo com um progresso consistente do plano de desconfinamento.